ANDRÉ GERDAU: VELOCIDADE ENTRE BARREIRAS

Executivo e cavaleiro de referência mundial, André Gerdau Johannpetter agora tem o desafio de comandar a World Steel Association – entidade que reúne 85% de todo aço produzido no planeta. O propósito da entidade é a livre competição dos mercados, sem intervenção de governos, e práticas justas.

 

André Bier Gerdau Johannpetter é o primeiro brasileiro a presidir a Associação Mundial do Aço (World Steel Association – WSA). E leva o desafio com o mesmo pulso e senso de responsabilidade com que conduzia as rédeas do hipismo na sua vida. A trajetória no mundo dos negócios tem sido densa e dourada, assim como as medalhas que o cavaleiro acumulou ao longo de campeonatos brasileiros, Pan-Americanos e Jogos Olímpicos.

Multicampeão, representou a seleção verde-amarela nas Olímpiadas de Seul (1988), foi bronze por equipe em Atlanta (1996) e também em Sydney (2000) – no individual, terminou em 4º lugar. Nas competições do Pan, foi ouro em Havana (1991), bicampeão em Mar del Plata (1995) e tricampeão por equipe em Winnipeg (1999). A relação e a semelhança entre os dois ambientes requer velocidade entre as barreiras. “O ponto mais comum entre cavaleiro e executivo é a disciplina e a persistência na busca pela excelência dos resultados”, afirma André.

Aos 56 anos, o chairman lidera a entidade que representa 85% de todo aço no mundo. Embora com crescimento contido, a demanda segue em ascensão, com alta de 1,3% sobre 2018 – o que representa 1,73 bilhão de toneladas. Os cálculos podem ter resultados melhores até o fim do ano. A WSA é muito clara no propósito de livre competição dos mercados: “Sem intervenções dos governos no que diz respeito a práticas justas de mercado”, pontua André. A entidade ainda aposta na efetivação de acordos comerciais importantes para novas oportunidades de negócios.

Ele atuou por mais de 30 anos na Gerdau, chegando ao cargo de CEO – assumido entre 2007 e 2017. Depois dessa experiência, passou a ser membro do Conselho de Administração da gigante do aço. Indagado sobre o que a órbita corporativa pode ensinar a governos, ele chama atenção para a utilização de métodos e ferramentas com uma visão madura de longo prazo. “Esses pilares podem contribuir com o desenvolvimento econômico e social do Brasil à medida que forem aplicados também na administração pública”, sugere.

Em entrevista exclusiva para a Revista VOTO, André Bier Gerdau Johannpetter avalia os desafios passados e futuros. Confira a conversa na íntegra:

1. Recentemente, você foi designado chairman da Associação Mundial do Aço (WSA) – o primeiro brasileiro a ocupar esse posto. O que significa essa responsabilidade? Qual a dimensão da entidade?

A World Steel Association é uma das maiores e mais dinâmicas associações industriais do mundo e seus membros representam cerca de 85% da produção global do aço. É entusiasmante poder liderar e endereçar diversos temas estratégicos que impactam a indústria mundial do aço, principalmente sob os vieses econômico, ambiental e social. Será um caminho engrandecedor.

2. Conforme a WSA, a demanda mundial de aço atingiu 1.657 bilhões de toneladas em 2018, um aumento de 3,9% em relação a 2017. Para 2019, a previsão é de que a demanda cresça 1,4% e alcance 1.681,2 bilhões de toneladas. Quais fatores levaram a esse aumento? E como a indústria está se preparando?

Segundo as estatísticas mais recentes da World Steel Association para este ano, a demanda global por aço deve crescer moderadamente, com uma alta de 1,3% sobre 2018, para 1 bilhão e 735 milhões de toneladas, impulsionada pela recuperação de investimentos em países desenvolvidos e pela melhoria de desempenho das economias emergentes – apesar do cenário de tensões comerciais e de uma perspectiva de desaceleração no consumo de aço na China, que deve subir apenas 1% em 2019. Porém, esse aumento da demanda do aço pode ser maior até o final do ano.

O que a China, maior produtor e exportador de aço do mundo, pode ensinar para o mercado brasileiro?

A China possui um detalhado projeto de expansão de infraestrutura e desenvolvimento de cidades e de mobilidade urbana, que pode inspirar outros países a buscarem planos para também desenvolverem sua infraestrutura.
A economia vive um momento novo, de consolidação de acordo comerciais importantes.

Como a WSA percebe essa transformação? Positiva para o avanço dos negócios?

A associação tem, entre seus objetivos, promover uma livre competição entre os mercados sem intervenções dos governos no que diz respeito a práticas justas de mercado. Além disso, a associação acredita que acordos comerciais firmados entre países são boas oportunidades para o desenvolvimento do comércio mundial do aço.

Os novos executivos são vistos como líderes do país. Cada vez mais, a política se aproxima do universo corporativo com o objetivo de rever modelos e replicar práticas. Na sua ótica, como a iniciativa privada pode ajudar o Brasil?

A iniciativa privada busca sempre melhorias de sua eficiência administrativa, trabalha com robustas ferramentas de gestão e possui uma visão estratégica e de longo prazo dos negócios. Acredito que esses pilares podem contribuir com o desenvolvimento econômico e social do Brasil à medida que forem aplicados também na administração pública.

O hipismo lhe fez um multicampeão olímpico e pan-americano. É uma trajetória no esporte reconhecida internacionalmente. O que a montaria ensinou desde a infância e que pode ser aplicada no mundo dos negócios?

O hipismo exige uma completa harmonia entre o cavalo e o cavaleiro, rotinas intensas de treino, dedicação e um planejamento que envolve toda equipe. Na rotina de um executivo, também são necessárias muitas horas dedicadas ao seu desenvolvimento como gestor, tomador de decisões durante sua jornada profissional e planejamento para o futuro. Além disso, a competição em equipe demanda esforços coletivos, que também são requeridos na promoção de um ambiente de trabalho colaborativo. Posso dizer que o ponto mais comum entre cavaleiro e executivo é a disciplina e persistência na busca da excelência dos resultados.

A siderurgia é um espelho da atividade econômica do país. Qual a perspectiva para os próximos anos? No setor e no mercado em geral.

As expectativas em relação ao Brasil seguem otimistas. Esperamos que a economia brasileira possa registrar um leve crescimento em 2019, criando condições para uma expansão mais robusta a partir de 2020. A demanda por aço está diretamente ligada à evolução da economia.

* Reportagem da Edição 144 da Revista VOTO.

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