Empreendedora, líder e cidadã

Para a empresária que comanda a Magazine Luiza, não basta ter sucesso nos negócios. É preciso contribuir para um país melhor. Com esse propósito, ela encabeça um grupo diversificado e suprapartidário de mulheres

Apaixonada pelo Brasil, intuitiva e com os ouvidos cerrados para o pessimismo. A dona de uma das maiores operações de varejo do país, com mais de 800 lojas em 16 estados, define-se também como uma “viciada em criar empregos”. Luiza Helena Trajano, a líder por trás da Magazine Luiza, comanda a rede desde 1991, tendo criado mais de 20 mil vagas diretas e 20 mil indiretas. O sucesso, garante ela, está em ser otimista, focar na solução – e não no problema – e ter carinho em servir, com o mesmo empenho, o cliente, a comunidade e a nação.

Dona de uma personalidade peculiar, a empresária herdou da tia Luiza Donato o gosto pelas vendas. Porém, o que a impulsionou de forma definitiva a se destacar foi a inteligência emocional da mãe. Desde pequena, ela foi estimulada a romper limites e barreira, sem temer fracassos.

Luiza Trajano continua com o sotaque interiorano: é natural de Franca, distante 400 quilômetros da capital paulista. Não atenta muito a regras de português, mas se tornou uma show woman em palestras motivacionais, lotando auditórios com interessados nos seus segredos de sucesso. Quando questionada sobre quais seriam eles, exemplifica citando alguns valores pessoais, como ética, simplicidade e paixão pelo que faz.

Um olhar mais atento, no entanto, revela a extraordinária e nata capacidade de liderança, calcada na atenção permanente ao cliente e na motivação ao colaborador. Luiza já comprou briga com sindicatos quando, no início da década de 90, decidiu alinhar salários aos lucros. Há alguns anos, surpreendeu ao alcançar aos pais homossexuais benefícios historicamente fornecidos às mães que trabalham na rede. As decisões voltadas a, como ela diz, “fazer o empregado sentir-se dono da empresa”, valeu em 2017 o prêmio Great Place to Work.

A perspicácia nas estratégias de mercado é outro atributo seu. A Magazine Luiza chegou a abrir, de uma só vez, 50 lojas em São Paulo. O investimento foi alto, mas o impacto dos caminhões circulando e a mídia espontânea geraram um retorno ainda maior.

Para além das prateleiras

A liderança de Luiza Trajano vai bem além das gôndolas das lojas, do SAC – serviço pelo qual tem atenção especial, respondendo, muitas vezes, pessoalmente ao consumidor – ou dos centros de convenções lotados para suas palestras. Ela também virou uma habitué em Brasília.

Pela rampa do Palácio do Planalto, a “caipira”, como faz questão de definir-se, passou por diversas vezes e mandatos. Ministros e presidentes já buscaram conselhos e o apoio da expoente do varejo. Tudo graças à sua influência entre os grandes empresários. Luiza é uma agregadora também entre seus pares: foi uma das fundadoras do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), criado para fortalecer o setor. “Se no quarteirão nós brigamos, no avião para Brasília temos de nos unir”, defenda ela, para explicar a importância da entidade como interface dos interesses do setor.

Mulheres do Brasil 

O IDV foi a semente para um novo movimento. Em 2012, surgiu a ideia de criar um novo grupo, com o mesmo perfil, mas reunindo apenas mulheres para discutir temas importantes para o país. O quer era para ser um petit comité foi ganhando mais e mais adeptas. De lá para cá, já são 18 mil mulheres de todos os segmentos, que têm em comum a vontade de construir um Brasil melhor.

Intitulado Mulheres do Brasil, o que seria uma confraria ganhou o respeito de políticos de todas as estaturas e siglas. As demandas ouvidas nos bairros de diversas cidades são levadas diretamente em forma de sugestões aos gabinetes do Planalto. “O grupo é organizado e pensado pela sociedade, não levamos pedidos para as administrações públicas. Pelo contrário, levamos fatos e propostas concretas e possíveis, sem ficar pedindo ou solicitando”, explica Luiza. Esse perfil independente fez com que o Mulheres do Brasil passasse a ser visto com credibilidade, já sendo considerando o maior grupo suprapartidário do país.

O movimento colaborativo também busca despertar o espírito de cidadania, desempenhando um papel político propositivo. A sede no bairro paulista de Paraíso recebe, por dia, de 100 a 150 interessadas em abrir núcleos. Já foram instalados 18 no país e um em Portugal. Educação, violência contra a mulher, cotas, saúde e infância são alguns dos temas discutidos em cada local.

A força do movimento é capaz, inclusive, de produzir cenas nunca antes imaginadas. Seria um tanto peculiar, para não dizer impossível, um momento descontraído entre os candidatos à Presidência da República de mãos dadas cantando Raul Seixas. Pois Luiza fez isso. Há poucas semanas, o Mulheres do Brasil organizou um evento com os concorrentes, que, em meio ao debate, receberam as sugestões. Sete deles estiveram presentes e se comprometeram a levá-las adiante.

“Só as mulheres para conseguirem essa urbanidade entre nós. Isso não é comum, não”, chegou a comentar o tucano Geraldo Alckmin. “Foi um ambiente mais tranquilo e, de fato, as mulheres têm essa capacidade de acolher as diferenças”, disse Ciro Gomes, prometendo que metade de sua equipe na Presidência será composta por mulheres. Já o emedebista Henrique Meirelles garantiu 30% das vagas em conselhos de administração de estatais. Luzia é uma defensora das cotas femininas. “Existem apenas 7% de mulheres em conselhos de administração. Se tirarmos mães e filhas, que são comuns em casos de empresas familiares, cai para 3%”, revelou aos presidenciáveis.

Mais do que as causas das mulheres, Luiza Trajano é decididamente uma apaixonada pelo país. Há cerca de quatro anos, ela deu diversas entrevistas falando do Brasil, de um futuro promissor, com maior consumo e empregos a gerar. O cenário acabou não só não se concretizando como houve uma das maiores crises da nossa história.

Mas ela rebate: “Não se trata de otimismo, mas sim de uma cabeça voltada para a solução. Ainda acredito que o Brasil tem um enorme potencial de consumo e emprego para gerar. Os últimos anos foram marcados por uma longa e profunda crise econômica, política e ética. Passada a eleição, espero que o país encontre um cenário de geração de empregos para retomar o crescimento.”

Se as previsões da empresária se concretizarão, ainda não sabemos. A única certeza é ela não pretende assistir ao processo atrás de sua mesa, na sede da empresa. “Nunca quis ser espectadora. Sempre quis ser protagonista”, garante.

 

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