Governando pelas ruas

Prefeito de Salvador, ACM Neto é visto como uma das jovens promessas da política brasileira. Com perfil agregador, não gosta de ficar apenas no gabinete e prefere o contato direto com a população

Um dos prefeitos mais bem avaliados do Brasil, ACM Neto faz política na rua. Aos 38 anos, é avesso às agendas dentro do gabinete. No mínimo três vezes por semana, dedica-se a andar pelas calçadas, praças e locais públicos para ouvir as pessoas e mostrar o que está sendo feito.

Herdeiro de uma tradicional família de políticos do Nordeste, está no segundo mandato à frente da Prefeitura de Salvador (BA). Foi reeleito, em 2016, com 75% dos votos. Com posições bem definidas, consegue também ser reconhecido pelo perfil aglutinador. Para ele, a capital baiana é uma cidade plural e, portanto, requer um governo com essa mesma característica.

Atual presidente do Democratas e um dos principais articuladores do Centrão, o jovem prefeito falou com exclusividade para a Revista VOTO sobre a sua forma de fazer política e compartilhou sua visão quanto ao futuro do país.

De acordo com duas pesquisas seguidas da Vox Populi, de 2013 e 2014, você foi considerado um dos prefeitos com melhor avaliação do país. Em 2015, alcançou aprovação popular de 84% – dado do Instituto Paraná. Um ano depois, na reeleição, venceu no primeiro turno, com 75% dos votos. Diante do esgotamento de crenças na política e nos políticos, qual a fórmula para essas demonstrações de confiança?

A fórmula é trabalhar com seriedade, transparência, planejamento, dedicação e ouvindo a população para aplicar bem os recursos públicos. Antes mesmo de ser eleito para o primeiro mandato, em 2012, assumi o compromisso, durante a campanha, de governar nas ruas, ouvindo os soteropolitanos, sem ficar preso em gabinete. Isso para mim sempre foi natural, pois, desde que ingressei na vida pública, tenho me dedicado exclusivamente a fazer isso, a servir, buscando melhorar a vida das pessoas.

Como prefeito, pelo menos três vezes na semana estou nas ruas inaugurando obras, assinando ordens de serviço ou vistoriando intervenções da Prefeitura. Quando assumi, em 2013, a gente começou a transformar Salvador: arrumamos a casa, colocamos as contas em dia, equilibramos o nosso caixa. Depois, começamos a investir em obras e ações estruturantes, aplicamos quase 80% dos recursos da Prefeitura nos bairros mais carentes da cidade. Isso tem mudado a vida das pessoas. Por conta desse trabalho, mesmo em momentos de turbulência política e econômica no cenário nacional ou regional, Salvador continuou crescendo porque a Prefeitura seguiu com seus investimentos na cidade, com recursos próprios e com responsabilidade.

Moderado, de reconhecido perfil conciliador e aglutinador de partidos para viabilização de importantes obras, qual sua visão da ideologia política e da prática política? E, ainda, elas podem ser dissociáveis para o bem comum?

A política é a capacidade de servir. É algo que, como dizia meu avô, exige dedicação exclusiva. Por isso, quando decidi que queria ser político, abri mão de qualquer atividade privada para fazer apenas isso. É o que gosto e sei fazer bem. Desde pequeno que gosto e acompanho a política, a exemplo das campanhas do meu avô Antonio Carlos Magalhães. E uma das minhas maiores realizações na vida pública foi ter alcançado a Prefeitura de Salvador. Me sinto realizado como prefeito. Gosto de saber que estou colaborando para transformar de fato a vida das pessoas, sobretudo daquelas que mais precisam do amparo.

Eu me sinto realizado, por exemplo, quando entrego uma casa reformada pelo nosso programa Morar Melhor, que recupera habitações populares em bairros mais pobres. Ou quando entrego um título de posse de terra do município – ocupado por uma família que passa a ter a segurança da propriedade de sua residência. Gosto de andar nas ruas e ser bem recebido como sinal de aprovação pelo trabalho. A minha ideologia política é servir, e essa também é a minha prática política e cotidiana. Quem tem esse mesmo espírito público tem tudo para estar e continuar ao meu lado, e é esses que eu busco como aliados.

Qual a principal característica que mantém de pé um arco de tantas alianças, como é no caso de Salvador? Com tanta pluralidade, as divergências somam de que forma?

Sempre construí alianças fundamentadas em compromissos programáticos, e nunca no velho toma-lá-dá-cá que infelizmente é tão comum na política e que acaba por aparelhar as instituições públicas. Procuro sempre governar ao lado dos melhores. Por isso, antes de aceitar qualquer indicação de partidos aliados para um determinado cargo, o que primeiro faço é avaliar o currículo e a competência do indicado para exercer aquela função.

É normal que um partido político indique membros para um governo, mas o que sempre levo em conta é a qualificação e o mérito. Quem trabalha comigo sabe que sou assim. Comigo não tem loteamento de secretaria ou órgão público. Acredito que por isso temos mantido as alianças e, ao mesmo tempo, transformando Salvador, que é uma cidade plural, e como tal precisa de uma gestão plural.

Quais são os principais legados nestes seis anos à frente da Prefeitura?

Acredito que a palavra que melhor resume esse legado que queremos deixar após o fim dos oito anos de governo é: transformação. Quando assumimos, Salvador sofria bastante. Era uma cidade desacreditada, condenada a viver de esmolas e da boa-vontade dos governos federal e estadual, como desejavam os meus adversários, sobretudo do PT. O povo estava triste, com a estima baixa. Com muito trabalho, conseguimos resgatar a autoestima de Salvador, que voltou a andar com as próprias pernas.

Na campanha eleitoral de 2012, o PT dizia que isso não seria possível, que a primeira capital do Brasil não seria capaz de andar com as próprias pernas, e provamos o contrário. Salvador é hoje a capital do país que mais investe com recursos próprios, mesmo sendo uma cidade com uma arrecadação baixa. Esse é um legado que vamos deixar no sentimento das pessoas, que talvez seja muito mais importante do que as inúmeras obras e realizações desse tempo de governo.

Assumimos até responsabilidades que não eram nossas, como um hospital municipal ou o novo Centro de Convenções, diante do descaso do governo do PT no estado com a saúde pública e o turismo na cidade. Estamos ousando com a implantação do BRT e viabilizamos o metrô. Requalificamos a nossa orla, antes considerada a mais feia do Brasil, e estamos devolvendo vida ao Centro Antigo com várias obras, equipamentos culturais e calendário de eventos.

Estamos transformando a cidade socialmente com a entrega da nova comunidade Guerreira Zeferina e os programas Morar Melhor, Casa Legal e Primeiro Passo. Vamos ter requalificado, até o fim do mandato, todas as escolas e unidades de saúde. Investimentos na prevenção de tragédias, com o uso de tecnologia; por conta das chuvas, ampliamos as obras de contenção de encostas; além das inúmeras obras de mobilidade, construção e requalificação de praças e áreas da lazer, o novo Parque da Cidade, os novos museus e, claro, os maiores Carnaval e Réveillon do Brasil. Fizemos demais para caber em uma só resposta.

O recuo à candidatura ao governo do Estado da Bahia tem algum motivo pessoal ou de ordem estratégica?

Não houve recuo porque nunca me posicionei como candidato. O que já disse em diversos momentos, inclusive no período pré-eleitoral, é que eu tinha, e ainda tenho, o desejo de ser governador, mas nunca assumi uma pré-candidatura. Sempre dei declarações ponderadas sobre isso, afirmando que no momento certo, e após ouvir a população de Salvador, tomaria a decisão definitiva. Parte da imprensa, e até alguns aliados, é que me colocavam como candidato, mas isso nunca partiu de mim. E o que aconteceu foi isso: fizemos pesquisas e conversei bastante com a população nas ruas, e a maioria das pessoas desejava que eu terminasse o meu segundo mandato para concluir um legado de transformação para a nossa cidade. É isso que farei.

Como presidente nacional do DEM, como enxerga o rumo desta eleição presidencial?

O partido Democratas está ao lado de Geraldo Alckmin, pois acreditamos que ele seja o nome mais preparado para fazer com que o Brasil saia de uma vez por todas dessa crise e volte a crescer com responsabilidade social, segurança e inovação. Estamos vivenciando uma eleição disputada, embora, lamentavelmente, também marcada pelo ódio e pelo extremismo, o que não é bom para a democracia. Como também não é bom para a democracia o fato de que está em curso uma verdadeira tentativa de estelionato eleitoral sendo tocada pelo PT, que busca enganar a população ao insistir em uma candidatura já rejeitada pela Justiça Eleitoral.

É preciso que o eleitor brasileiro esteja atento e consciente de seu voto para que o Brasil possa dar um passo à frente. A solução do país passa pela boa política, e não pelo sentimento antipolítico, raiva ou rancor.

Como vê a polarização dos extremos da direita e esquerda, e a fragilidade de confiança do atual governo? Como enxerga o Brasil de 2019?

Torço e trabalho para que o Brasil de 2019 seja um país com menos ódio, menos extremismos e mais união, tendo um governo com credibilidade e sustentação política para realizar as reformas e promover o crescimento econômico e social que o país precisa – acabando com privilégios e resguardando as instituições democráticas.

O clima instaurado no país, em que até a violência tem sido marca de campanha eleitoral, não pode continuar. O debate político deve se dar no plano das ideias e dos conteúdos. Espero que o Brasil de 2019 seja o país da união dos brasileiros, e dos políticos, em prol da construção de uma nação com menos corrupção, crescimento econômico, geração de empregos, investimentos e menos desigualdade social.

Para a política retomar sua legitimidade e o país voltar pro trilho, quais as principais medidas a serem adotadas pelo próximo governo?

Não existem soluções milagrosas. Não há um salvador da pátria que vá chegar e mudar o Brasil de uma hora para outra. Para que o país volte a crescer, é preciso que o próximo presidente promova as reformas necessárias para que voltemos a crescer. É preciso que esse presidente seja experimentado e tenha um projeto para o país, como é o caso do meu candidato.

A reforma tributária, por exemplo, é fundamental, promovendo a simplificação fiscal e revendo o pacto federativo. É preciso redistribuir melhor os impostos arrecadados entre União, estados e municípios. A reforma política também é extremamente importante, assim como o próximo presidente terá de encarar de frente a questão do déficit previdenciário e da segurança pública. É preciso arrumar a casa para que o país volte a crescer, atraindo investimentos e gerando emprego.

 

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