MATEUS BANDEIRA FALA SOBRE O CANCELAMENTO DA VENDA DE AÇÕES DO BANRISUL

De acordo com Bandeira, a privatização do Banrisul é importante para dar fôlego ao Estado, porém, o cancelamento da venda das ações era previsível, pois, não havia demanda suficiente.

Em setembro, o governo gaúcho cancelou a venda de ações do Banrisul. De acordo com o governador, Eduardo Leite, a motivação foi o preço por ação apresentado, que não atendia ao interesse do acionista vendedor, no caso, o governo do estado. Para falar sobre o assunto, a revista VOTO conversou com o empresário Mateus Bandeira, que é o autor da ação que resultou em decisão liminar  da 4ª Vara da Fazenda Pública, em Porto Alegre, com a suspensão da venda das ações do Banrisul neste ano.

VOTO: Qual sua opinião a respeito do cancelamento da venda de ações do Banrisul?

Mateus Bandeira: O cancelamento da operação era o único desfecho possível. Já estava claro o fracasso desde os últimos dias que antecederam a data originalmente prevista para a definição do preço, dia 17 de setembro, porque não havia demanda suficiente, conforme noticiado no serviço de informações ValorPro. Tanto é verdade, que no mesmo dia, o governo prorrogou a data de fechamento, reduziu a oferta e mudou o piso de preço – porque percebeu que também havia se equivocado na informação do valor patrimonial. 

 

V: O governo do Estado poderia ter evitado essa exposição?

MB: Foi vergonhoso, até humilhante, ver o governo “batendo cabeça” dessa forma. Não foi por falta de aviso. Eu mesmo denunciei diversas vezes o equívoco dessa operação: em artigo, vídeo, na ação popular e em depoimento à Assembleia Legislativa. O mercado entendeu o recado do governo – desesperado – e assim reagiu, com oferta de preço mínimo, bem abaixo do valor que ações negociavam nas últimas semanas. Mas, mesmo com ações a preço de “banana”, não houve apetite. O governo do Estado deveria ter evitado essa exposição, pois foi uma desmoralização.

 

V: A privatização do Banco é uma saída viável?

MB: A privatização do Banrisul não resolve, por si só, a crise fiscal das finanças estaduais. Isso porque a causa raiz do problema fiscal é a despesa pública maior do que a receita corrente, há décadas assim. Essa equação precisa ser resolvida, pra evitar que a privatização signifique apenas enxugar gelo.

 

V: Qual o modelo ideal para a privatização?

MB: A privatização do Banrisul seria o caminho seguro para adesão ao Regime de Recuperação Fiscal – o que daria fôlego para o Estado perseguir as necessárias reformas estruturais em condições de normalidade, evitando uma deterioração ainda maior dos serviços públicos. E eu sustento que a privatização do banco também é importante na direção da desestatização geral, pra reduzir a presença do Estado na economia, e porque não faz sentido um Estado cuidar de banco – enquanto não consegue cuidar de segurança pública.

No entanto, como o governador se elegeu prometendo não privatizar o Banrisul, não creio que tenha capital político pra aprovar o tema no Parlamento. A única forma honesta, caso ele mude de opinião, seria através de plebiscito, consultando a sociedade, como, aliás, ainda prevê a Constituição Estadual.

 

V: Por que vender ações ordinárias seria nocivo à saúde financeira da instituição e à sociedade gaúcha?

MB: A venda de ações (sem privatizar) seria lesiva à sociedade porque seria realizada por um preço abaixo do valor econômico, do valor justo. Seria rasgar dinheiro, dilapidar o patrimônio público. Isso porque, as ações de um banco público, como o Banrisul, negociam na bolsa de valores com um desconto sobre os seus pares privados, pois quem compra suas ações se torna sócio minoritário de uma instituição controlada pelo governo, sujeita a interferências políticas e aparelhamento nos cargos de liderança.

Por isso que, nas privatizações de bancos públicos, o preço registrado nas vendas das ações sempre alcança múltiplos (em relação ao respectivo valor patrimonial) bem maiores, geralmente mais do que o dobro, do que os múltiplos que estas ações negociavam antes, enquanto o banco era estatal. Todas as transações realizadas com venda de bancos públicos nos últimos 20 anos comprovam isso, são fatos e dados incontestáveis. Aliás, eu demonstrei isso detalhadamente na fundamentação da ação popular que ingressei contra essa operação com as ações do Banrisul.

 

“Mesmo com ações a preço de “banana”, não houve apetite. O governo do Estado deveria ter evitado essa exposição, pois foi uma desmoralização.”

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