Miss Sloane – Lobby, política & valores – Por Marco Antonio Campos

Ao falar sobre cinema, gosto muito de indicar para as pessoas ótimos filmes que, por diversas razões, passam despercebidos, em meio a tantas opções de lazer de que dispomos.

Neste ano, um excelente filme, com um tema atualíssimo, foi exibido e praticamente ninguém viu e/ou comentou. Trata-se de Armas na Mesa, o péssimo titulo brasileiro para Miss Sloane (2016), de John Madden.

Madden, um inglês de 68 anos, traz em seu currículo alguns ótimos títulos, como o thriller A Grande Mentira (2010), com Helen Mirren, o heterodoxo Kilshot – Tiro Certo (2008), com Mickey Rourke e Diane Lane, e o sempre discutido (do qual eu gosto muito) Shakespeare Apaixonado (1998), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor.

Miss Sloane é um thriller sobre uma das principais lobistas de Washington, que nos dias atuais resolve trocar de empresa, passando a trabalhar para uma firma menor que advoga a causa contra a indústria de armas nos Estados Unidos.

Para iniciar, há que se mencionar que o roteiro de Miss Sloane é uma aula de como deve ser um roteiro nota dez, extremamente bem construído pelo português Jonathan Pereira.

Temas da maior atualidade, como o desarmamento, o lobby, a corrupção nas esferas pública e privada, o sistema eleitoral, o fim da privacidade, as redes sociais, o papel da imprensa, tudo passa por Miss Sloane.

O segundo ponto de altíssimo nível do filme é seu elenco impressionante.  John Lithgow e Sam Waterston, dois veteranos, estão excelentes, como sempre. Mark Strong, um dos astros em ascensão de Hollywood, ótimo. A novata Alisson Pill, revelação da série Newsroom, da HBO, faz um trabalho magnífico. Gugu Mbatha-Raw (Um Homem entre Gigantes e Os Dois Lados da Justiça) se demonstra outra vez notável atriz.

Mas o filme, como não poderia deixar de ser, é todo de Jessica Chastain. Como uma grande atriz, ela conduz a ação do início ao fim, dando o tom de cada cena conforme o estado de espírito de sua personagem. Impecável. Memorável. Estupenda.

O lobby deve ser permitido? Quais os limites? Existe ética no lobby? Ou o que importa é vencer a causa? Até onde se pode ir? Os fins justificam os meios?
Miss Sloane vai fundo na discussão de causas, pessoas e valores. Deixa muitas questões para reflexão do espectador interessado.
Como diz a personagem principal Elizabeth Sloane: “Fazer lobby é sobre previsão. Sobre antecipar os movimentos do seu oponente e elaborar contramedidas. O vencedor traça um passo à frente da oposição. E joga seu trunfo logo após eles jogarem o deles. Trata-se de certificar-se de surpreendê-los. E que eles não te surpreendam.”

Miss Sloane é um grande filme.

Marco Antonio Campos é Advogado e sócio da Campos Escritórios Associados

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