O Brasil precisa de líderes – Por Germano Rigotto

Comecemos por uma obviedade: estamos vivendo uma grave crise na política e na economia do país. São as áreas que reúnem as maiores causas e os maiores efeitos do turbilhão em que nos encontramos. Mas nesta edição trago à reflexão um aspecto que é menos óbvio, embora não menos importante, no cenário da crise: a nossa carência de líderes.

Note-se, de pronto, que no atual panorama brasileiro não há única liderança capaz de congregar para além de sua casta partidária, ideológica, corporativa ou setorial. Parece que cada um está falando apenas para os seus. Há figuras de proa aqui e acolá, mas ninguém capaz de captar as esperanças da maior parte da população.

O Brasil já teve muitos nomes considerados acima do bem e do mal em todas as áreas – nos partidos, na economia, na imprensa, na academia, na intelectualidade, no meio artístico, no jurídico, na igreja, nos movimentos sociais e no esporte. Mereciam reverência mesmo de seus adversários. Eram sumidades independentes e agregadoras.

Lembro-me de Betinho, sociólogo e ativista dos direitos humanos – para ficar apenas num exemplo, e não cometer injustiças. Mesmo os críticos, todos sabiam que ali estava alguém entregue àquilo que acreditava. Desprendido, franco e doce. Conseguiu mexer na consciência social, quebrar paradigmas, mobilizar reações contra a fome e a miséria. Fez o Brasil enxergar-se melhor, colocando o dedo na ferida da pobreza extrema.

E onde estão nossos líderes de hoje? Eles existem? A lacuna não está apenas na política. A renovação de comando em todas as áreas sociais tem sido tímida ou de baixa qualidade. A disputa por espaços e vaidades está presente na maioria das organizações, fazendo brotar mais vitoriosos do que líderes. Bons de voto, mas ruins de compreensão e atitude. Estamos sendo incapazes de formar líderes verdadeiros, para além da mera troca de nomes.

Claro que, na política, esse quadro é ainda mais grave. Figuras e dinastias se revezam no poder ou em seu entorno, deixando pouco espaço para o surgimento de novos quadros. A criminalização do meio, seja por erros dos próprios envolvidos, seja por uma visão apolítica, que mistura corruptos e probos, contribuiu para a fuga de bons quadros dos ambientes partidários.

As agremiações, por sua vez, inclusive por meio de suas fundações de estudos, pouco fizeram para reverter a situação. Até pelo contrário: na maioria dos casos, elas mesmas se transformaram em mera ferramenta de loteamento e divisão de espaços de poder. Abandonaram seu sentido, que é justamente de preparar os filiados. Uma pena. Não é por nada que os partidos perderam significação no ambiente social.

A falta de líderes explica, pelo menos em parte, a baixa mobilização popular mesmo com o crescimento das crises política e econômica. A última mobilização, convocada por sindicatos e partidos de esquerda, teve adesão pífia. No ano passado, a população foi às ruas apoiando o impeachment da Presidente Dilma. Agora, claramente, mesmo rejeitando o atual governo, não vê motivação para um novo levante.

Trocar Temer por quem? Os nomes aventados para a eventual hipótese de substituição não empolgam, nem inspiram – quando não estão também eles, envolvidos em escândalos e denúncias. E o Congresso Nacional, convenhamos, neste momento não é portador de credibilidade para nomear um presidente. E as hipóteses fora da Constituição, a meu ver, são meramente retóricas. Uma espécie de desesperança, portanto, se instalou no coração dos brasileiros.

Só tem um jeito para reverter tudo isso, e não será no curto prazo: investindo na formação de líderes. É uma mudança que depende de insistência, pois precisa vir de baixo para cima. Passa pelo rompimento de práticas e costumes viciados. Pressupõe uma nova visão de cidadania e participação, que não delega os destinos da nação para terceiros, porquanto busca fazer parte dela com mais proximidade e criticidade.

Mas não podemos desistir. Alguns jovens, corajosamente, estão conseguindo romper essa barreira, fazendo brotar seus espaços mesmo fora das burocracias partidárias ou sociais. O Brasil é repleto de grandes talentos em todas as áreas. Precisamos descobrir, formar e direcionar essas pessoas para a tarefa amplificada da liderança positiva. Eis um dos caminhos mais consistentes para construir o país do futuro.

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