Sicário: Dia do Soldado, um neo-western político

Em 2015, um filme dirigido pelo cineasta franco-canadense Dennis Villeneuve saiu do panorama comum e causou furor entre críticos e púbico: Sicário. Sob a aparência de um thriller policial, Villeneuve reuniu um excelente elenco para trazer às telas um drama político que tinha como fundo alguns dos temas mais polêmicos da atualidade: imigração na fronteira México-Estados Unidos, influência dos cartéis de drogas, grupos paramilitares, operações dos serviços secretos oficiais e explosão de violência e suas vítimas. Benicio del Toro, Emily Blunt, Josh Brolin e Victor Garber conseguiram dar um tom de realismo às personagens e situações que Sicário, em muitas de suas cenas, quase parecia um documentário.

Passados pouco mais de três anos, quando os assuntos enfocados no filme estão longe de estar solucionados, as personagens voltam às telas para um capítulo dois, ainda mais cheio de violência e polêmicas. O responsável pela direção do filme agora é o italiano Stefano Sollima, o diretor da ótima série Gomorra, um dos grandes sucessos da Netflix. Esse opus dois tem o subtítulo de Dia do Soldado e, embora tenha perdido a ruivinha Blunt, acresceu Catherine Keener e Matthew Modine.

O excelente crítico do The New York Times A.O. Scott afirmou que Dia do Soldado é uma mistura de filme de guerra e western. Na realidade, avalio que se insere no gênero chamado de neo-western, no qual vêm sendo enquadrados títulos excelentes como os recentes A Qualquer Custo e Terra Selvagem. A receita é fazer um roteiro (os três filmes citados foram escritos por Taylor Sheridan) que enfoque temas atuais de alta octanagem e localizar a história em ambientes inóspitos do oeste americano, sejam desérticos ou gelados. Aproveitam as lições de John Ford, que, como ninguém, fazia do cenário um protagonista de suas histórias.

Dia do Soldado reaproveita as questões da imigração ilegal – agora acentuadas pela nova política do governo Trump – e tenta dissertar sobre elas em meio a terrorismo, tráfico de seres humanos, grupos paramilitares e cartéis de drogas. A receita é explosiva. O filme tem um ritmo nervoso como poucas vezes visto. O espectador fica sem respirar em várias cenas.

É muito difícil afirmar qual dos atores tem uma performance melhor: Josh Brolin ou Benicio del Toro? Os dois estão excelentes. O filme perdeu muito do seu caráter documental, mas ganhou em tensão e caráter político. O cinema político clássico faz o espectador sair do cinema incomodado, e Dia do Soldado faz isso muito bem. A complexidade das relações políticas do mundo em que vivemos dão ao filme um tom de atualidade e urgência que já o colocam na categoria como obrigatório de ser visto pelas pessoas preocupadas com a realidade atual.

Por Marco Antônio Campos

 

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