Venezuela: vítima da maldição das matérias-primas?

Já sabemos que a Venezuela teve eleições fraudadas. E as consequentes sanções internacionais contra sua economia ilustram a tese de que algo jamais é ruim o bastante que não possa piorar.

De acordo com o critério do PIB per capital, a Venezuela foi o país mais rico da América Latina entre os anos 1970 e 2001. Há apenas dezessete anos, em que pese sua grande desigualdade socioeconômica, os venezuelanos ostentavam renda por habitante mais próxima à da Europa mediterrânea do que de seus primos latino-americanos mais pobres.

Alguns botam a culpa no que, à primeira vista, parece uma benção: a abundância de petróleo na Venezuela destinaria esse país à chamada “maldição das matérias-primas”. Esse feitiço das commodities pode desencorajar a diversificação da economia, desincentivar o investimento para educar a população e convidar à irresponsabilidade fiscal e ao populismo. Mas não há nada de automático entre ser um produtor de commodities e daí, necessariamente, tornar-se prisioneiro das matérias-primas.

Canadá e Austrália dispõem de enormes vantagens comparativas em commodities minerais. Até hoje, os Estados Unidos são os maiores exportadores mundiais de commodities. Nada disso os torna pouco expressivos no universo dos bens intensivos em tecnologia.

Façamos, então, uma breve comparação entre Venezuela ou Emirados Árabes Unidos. Há cinquenta anos, se alguém aventasse a possibilidade de que uma metrópole – graças ao empurrão inicial de exportações de petróleo – emergiria como centro global da logística, serviços financeiros, alta tecnologia e entretenimento, todos diriam que tal centro seria Caracas, e não Dubai.

Tudo isso tem menos que ver com aptidões naturais, inimigos imaginários ou armadilhas do destino, e mais com instituições, planejamento e visão. Não existe a tal “maldição das matérias-primas”. Há apenas a maldição das más políticas, da corrupção e do socialismo do século 21.

Por Marcos Troyjo

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