Brasil de Ideias analisa o impacto das eleições argentinas

A alternância do poder no país vizinho pode gerar impactos econômicos e sociais, sobretudo na relação com o Mercosul, afirmam especialistas

 

Como o resultado das eleições argentinas pode influenciar a vida no Brasil? Essa foi a provocação do Grupo VOTO para dois intelectuais, sendo um brasileiro e outro argentino, no ciclo do Brasil de Ideias desta quarta-feira (18), em São Paulo. Marcos Troyjo, economista, cientista político, ex-presidente do Banco dos BRICS e atualmente professor da Universidade de Oxford e Insead, dividiu a cena com Gustavo Segré, de Buenos Aires, analista internacional, consultor econômico e comentarista político na Jovem Pan.

 

Troyjo referenciou um trocadilho popular ‘há anos em que pouco acontece e há semanas que valem por anos’ para avaliar a relevância do processo eleitoral argentino para a cena global. O cientista político fez um preâmbulo histórico sobre as relações bilaterais entre Brasil e Argentina, sobretudo olhando para o contexto atual, já que o principal destino das exportações argentinas é o consumidor brasileiro. Para ele, esse alinhamento é cada vez mais necessário olhando para o futuro e, principalmente, para as capacidades produtivas e de consumo das duas nações que têm as economias mais importantes do Mercosul.

 

Para Gustavo Segré, a Argentina vive uma derrocada sem precedentes, cujo início do encolhimento social se deu na década de 40. “O populismo de esquerda destruiu uma das nações mais prósperas e ricas do mundo, e desde então se retroalimenta no poder de duas formas: amparando a permanência da ignorância do seu povo e fazendo a população refém da ajuda social”, enfatizou.

 

Segré pensa que é perigoso demais a manutenção do poder dos peronistas, liderados nesta composição por Sérgio Massa, e que soa até engraçado o candidato do governo querer resolver mazelas criadas pela sua própria linha ideológica. Afirma também que falta inteligência emocional a Javier Milei e, principalmente, base congressista de apoio ao governo em uma possível eleição. Mediante êxito eleitoral, seria uma crise iminente de governabilidade. Para ele, o perfil ideológico aglutinador de Patricia Bullrich é um caminho viável de construção, dialogando com a oposição, porém abrindo alternativa para um futuro de liberalismo econômico e de redução do Estado.

 

Um país refém, com medo do futuro

A presidente do Grupo VOTO, Karim Miskulin, falou da triste realidade do povo argentino, que se acostumou a viver à sombra da incerteza, com uma economia que flutua sem nenhuma sensatez. ”Temos visto um encolhimento econômico de um país que sempre foi intelectualmente fortalecido, produtor de insumos essenciais para América Latina e politicamente líder. Essa decisão do povo argentino é um reflexo na vida do país e em todo Mercosul, com certeza”, provocou.

 

Na mesma linha, Segré apresentou números complexos e alarmantes. Nas últimas seis décadas, foram 23 acordos com o Fundo Monetário Internacional, em 1994 (início do plano Real), o equivalente de um real era um peso. Hoje, R$ 1,00 vale 200 pesos.

 

Atualmente, segundo Segré, a matemática de quem financia e de quem é financiado pelo Estado é injusta e totalmente desequilibrada. ”São 4,5 milhões de servidores públicos, 25 milhões de pessoas que recebem incentivo do governo e apenas 5,8 milhões de argentinos aportando recursos em impostos. Quem sustenta isso?”, perguntou. De quebra, Segré ainda enfatizou a política nacional de incentivo que visa aumentar o número de filhos nas famílias, recompensados com recursos financeiros. “Quando você rouba o futuro das pessoas, você conquista o voto delas”, concluiu.

 

A inflação Argentina no último mês foi de 12,7%. O dobro da Venezuela, por exemplo. Ainda que Lula seja mais próximo do candidato peronista e que a força bolsonarista flerte com o ideário de Milei, ambos os especialistas acreditam que as relações comerciais entre os países seguirão existindo, quase que em uma caracterização de dependência econômica e respeito mútuo comercial.

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