Coragem de ser brasileiro

Muitos analistas acreditavam haver um processo de perda de contato da sociedade com as instituições e os políticos no Brasil. O número impactante de eleitores representando a classe média que acordou neste domingo, porém, mostrou seu relacionamento com a democracia numa votação reveladora.

A população está mais consciente? Ela está mais informada? Eu acho que não. No entanto, o voto contra o roubo de impostos, contra a eliminação de empregos por intervenção estatal e contra a corrupção política que interrompe investimentos básicos no Brasil, levou o eleitor a optar por renovação. Os eleitores cansaram de ser usados como peças de xadrez no “eles” contra “nós”. A renovação dos integrantes dos quadros políticos neste domingo foi claramente um grito de independência.

Independência e coragem mostradas por economistas renomados que se candidataram e assessoram candidatos. Coragem de empresários que poderiam sair do Brasil, mas preferiram apostar na renovação da política com suas próprias candidaturas e movimentos democráticos sociais.

Parabéns a esses novos políticos que ontem foram premiados com votos da classe média cansada de promessas impossíveis.

Os bravos colocaram seus trabalhos e famílias de lado para concorrer ao governo dos estados, às assembleias estaduais, ao Congresso Nacional e à Presidência. Pessoas que entendem o processo cíclico da política, que é muito simples: testamos através da eleição a competência de um representante, e se o eleito falhar não é reeleito.

O Brasil ignorou este processo natural da democracia até o governo Dilma. Nas escolas e na mídia ouvimos que somos vítimas de lideranças ricas e dominadoras na política, fazendo-nos pensar que votar não faria diferença e que entrar para a política é bobagem. Provamos o contrário no Legislativo!

Democracia funciona.

Esses bravos e corajosos que entraram terão que redefinir discussões profundas em torno do que a sociedade quer do Estado. Está claro que o Estado é incapaz de ser o provedor de tudo. O cidadão tem que aprender a se defender com inovação, empreendedorismo, pesquisa e cobrando do setor privado.

Ontem eu percebi que as pessoas entendem que a obrigação do cidadão é muito maior que o voto. A eleição não acaba depois das urnas. É preciso que o cidadão seja um fiscal atento de quem elegeu. A transparência da sociedade atual nos obrigou a olhar para onde vamos e trabalhar para o que queremos. O terceiro setor colocou conteúdo apartidário à disposição de todos, e agora o Brasil estará de cara nova. A coragem voltou.

Por Priscila Pereira Pinto, cientista política do Instituto Millenium

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