Opinião: “ESG 360 graus”

 

Marly Parra 

Presidente do Conselho do Grupo VOTO

Uma visão positiva de futuro nas empresas inclui uma política clara de ESG, que se traduz em crescimento corporativo sustentável com preocupação com o meio ambiente, compliance, ética, transparência e uma boa governança, enquanto estabelece uma cultura voltada para o bem da sociedade, da comunidade, dos seus colaboradores e de todas as pessoas envolvidas no espectro da empresa. Aspiramos também organizações que considerem o impacto do ESG em todos os sentidos, seja interna ou externamente, com uma visão 360 graus, sempre de forma genuína.

O S DO ESG: Um tema de toda a empresa 

Diversidade e Inclusão dentro e fora das empresas não pode ser visto como caridade mas sim como estratégia de negócios.

O mercado precisa aprender a desenvolver seus negócios sob a ótica da diversidade e da inclusão (D&I). Isto é crítico para empresas que desejam se manter culturalmente relevantes, construir valor e reputação e ter um lugar de destaque na sociedade. Desta forma reconhecemos que considerar pessoas com deficiências, diferentes orientações sexuais, classes socioeconômicas, estilos de vida, etnias e gêneros, fazem parte desta jornada. 

Imagine o que a “inclusão total” pode fazer pela imagem das empresas. Olhar para a D&I através de uma lente comercial é uma oportunidade imensa porém pouco explorada, que pode diferenciar os negócios, o desenvolvimento de produtos e serviços, a imagem da marca, a lealdade dos clientes e colaboradores, reforçando a licença social para as empresas operarem no longo prazo. 

A mudança de cultura, porém, precisará ser ajustada utilizando modelos e ferramentas para a transformação e acertando as arestas para que finalmente a D&I esteja presente na forma como a empresa atua diariamente. Isto requer liderança e responsabilidade, uma clara definição das prioridades, entendimento profundo do “diverso”, e adaptação das necessidades dos seus consumidores.

Oportunidade para transformar 

Esta não é apenas uma oportunidade para explorar um mercado vasto e ainda amplamente mal atendido, mas também para criar produtos e serviços diferenciados, inovadores e relevantes que atinjam esta população diversa. 

Da mesma forma que investidores, colaboradores e consumidores estão gravitando em direção a negócios sustentáveis, eles também preferem empresas inclusivas e vão rejeitar as que não demonstrarem estas atitudes. Mais do que uma prioridade de talentos, a D&I está rapidamente se tornando uma agenda para os negócios uma vez que constrói representações relevantes para o crescimento das empresas. 

É essencial, entretanto, que este propósito seja genuíno e considere todos os stakeholders, desde clientes, fornecedores, colaboradores e terceiros na estratégia dos negócios, além de desafiar os estereótipos nas suas ações de marketing e comunicação, examinando todos os aspectos de suas operações pela lente da D&I e então somente aí, atingirá resultados positivos sob todos os aspectos para a reputação e imagem da empresa. 

Por mais de uma década, estudo após estudo, chegamos à mesma conclusão: uma equipe diversificada – representando diversas nacionalidades, gêneros, raça, habilidades, ideologias, religiões e muito mais – torna as organizações mais inovadoras, lucrativas, atraentes para os trabalhadores e resistentes a choques econômicos.

Com a incerteza em torno de desacelerações econômicas, mais do que nunca, precisamos de inovação e resiliência e, portanto, as empresas precisam de mudanças radicais na forma de fazer negócios. 

Mas para enxergarmos a mudança, temos que ser a mudança. Nada muda, se você não mudar. É preciso preparar a empresa e o mercado para a inclusão e assim evitar riscos, conflitos e até atitudes que atentem contra a segurança dos incluídos. 

Assim como a natureza do trabalho se transforma, temos também que reinventar a liderança. Seja com um time pequeno ou em uma grande organização, como lideramos faz a diferença, e como nos desenvolvemos como líderes no mundo em constante mudança, impacta muito mais. 

A composição das empresas está mudando e se não enxergarmos este novo comportamento ou mudança de valores, dificilmente teremos sucesso com nossas vendas. 

Treinamento, capacitação e construção de uma cultura verdadeiramente inclusiva, tornam-se mais importantes a cada dia. Vivemos a Era da transformação com o crescimento da tecnologia, a evolução da inteligência artificial, do processo de automação robótica, mudanças no comportamento da sociedade e surgimento de empresas inovadoras e disruptivas.

Pela primeira vez na história, 5 gerações coexistem agora nas empresas, uma vez que trabalhamos mais tempo, trazendo uma nova dimensão para liderar com sucesso times diversos. E esta troca é muito importante. Enquanto aproveitamos do dinamismo e criatividade dos jovens, podemos integrar à experiência, bom senso, olhar crítico e cauteloso para a tomada de decisões no dia a dia e influenciar na dinâmica da empresa.

É preciso entender a amostragem da população para atender os diversos públicos, seja com produtos de consumo, ou serviços tanto no B2B quanto no B2C.

O ESG é fato e veio para ficar

Empresas com propósito são as mais admiradas e respeitadas no mercado em geral, seja com investidores, consumidores ou colaboradores. Respeitar esta nova ordem mundial será o diferencial para as empresas vencedoras, apresentando uma nova gestão que respeita as tomadas de decisão em grupo, engajamento das equipes, orgulho e críticas honestas, e um profundo senso de respeito entre as equipes. 

Como diz Simon Sinek, não é mais o que a empresa produz, mas sim porque ela produz. O capitalismo desenfreado, sem propósito e somente pensando em lucro, não tem mais lugar na sociedade. As empresas hoje precisam mostrar que estão dispostas a contribuir a causas importantes, não apenas para reduzir a pobreza e a fome no mundo, mas também para mudar o comportamento, valores e a visão de um mundo melhor de negócios.

O capitalismo selvagem, com concorrência ferrenha e empresas tentando dominar mercados ou até países, com apoio de seus governos lenientes e corruptos, fruto da ausência de Governança, ética e Compliance, está com os dias contados. Junto com o ESG surge o Capitalismo Consciente, um novo ambiente de negócios que propaga a concorrência ética, justa e até de cooperação com empresas promovendo fusões e integrações em favor de um bem maior: melhores produtos e serviços e menor custo. 

Por outro lado, o surto global que estamos vivendo, que provoca crises constantes na economia, causa níveis crescentes de incerteza e interrupções na continuidade dos negócios, desestabilizando mercados e ameaçando a economia por um período desconhecido. 

Diante dos impactos nas operações da empresa, é imprescindível que a liderança foque seus esforços para assegurar e garantir a continuidade dos negócios em um cenário absolutamente novo e desafiador porém mantendo os valores e a cultura construída a duras penas.

Surge a necessidade urgente de gerenciamento de crise e de riscos efetivos, para se preparar para um momento atípico e de consequências muitas vezes desconhecidas. A rápida adaptação e novo direcionamento estratégico do negócio, com supervisão e flexibilidade, dada a limitada previsibilidade em horizontes de curto e médio prazo, parece ser a única forma de garantir a preservação das empresas, e consequentemente, dos empregos.

Em um cenário de recessão, corte de custos e demissões, o questionamento que surge é se a promoção da diversidade nas empresas permanece na pauta ou se fica para segundo plano. 

Será que as empresas permanecem atentas para a Diversidade e Inclusão (D&I)? Jovens aprendizes, pessoas integrantes de minorias, pessoas com deficiência, entre outros, terão seus empregos preservados, ou estarão na linha de frente das demissões? 

O novo Normal e o S do ESG, reforça a tendência de repensar e dar novo rumo às relações sociais, reforçando a governança corporativa, com base nos princípios da equidade, transparência e responsabilidade social. Especialmente de uma maior integração dos stakeholders, conforme debatido no Fórum Econômico Mundial. 

Torna-se imprescindível um realinhamento cuidadoso dos negócios e das marcas frente a esta realidade totalmente nova, com empatia, escuta ativa, cuidado com a saúde e segurança de colaboradores, clientes e comunidade.

A reputação de uma empresa ou de suas marcas pode ser fortemente abalada caso os gestores não tomem o cuidado necessário e não atentem para o novo comportamento do consumidor e da opinião pública frente às suas atitudes e decisões. 

Programas de D&I tornaram-se importantes na última década em muitos países e também no Brasil. Não apenas para cumprir a lei que exige cota de colaboradores com deficiência, mas como forma de atender aos anseios de diversidade e inclusão de uma grande parcela da população.

Houve grande mobilização, com resultados parciais, para atingir a equidade de gênero não somente na base da pirâmide, mas também em cargos de liderança e em diversos setores. Outras frentes, promovendo a inclusão de negros e LGBTs, foram também mobilizadas. 

Idealmente D&I nas empresas não deveria considerar somente gênero, condição física e raça, mas também idade, religião, nacionalidade, formação acadêmica, classe social e econômica e muitas outras vertentes. 

A inclusão da diversidade no ambiente de trabalho vai além de simplesmente ter membros representantes de comunidades diversas na lista de colaboradores, a experiência no ambiente de trabalho deve ser única para todos sentirem que são acolhidos.

É preciso entender o valor da diversidade e da inclusão, preparar as lideranças, os colaboradores, o ambiente e incentivar uma cultura que promova o respeito, admiração e valorização do indivíduo.

Está provado que a diversidade contribui para o crescimento das empresas e que “diferença” deve ser incorporada como inovação. Em crises profundas e duradouras, as empresas são forçadas a testar seus valores e é exatamente neste cenário que será colocado à prova quais corporações tem a D&I em seu DNA ou apenas como estratégia de marketing e comunicação. 

Um propósito deve ser genuíno e autêntico, totalmente integrado à cultura da empresa e adotado por convicção e não por conveniência. É preciso promover a transformação e estabelecer uma nova cultura inclusiva, diversa, uma atuação coletiva. 

Implementar novos modelos de negócios a partir de, e incluindo, pessoas. As empresas devem exercer sua função social, visando contribuir para uma sociedade mais justa e com oportunidades para todos. Que sentido teria uma economia que por sua natureza geraria desigualdade crescente, aprofundando o individualismo e a exclusão de milhares de pessoas?

O momento atual tem gerado um aumento da solidariedade coletiva e, de forma geral, tem se destacado nas lideranças a necessidade de um olhar mais humano, social e inclusivo. Um olhar de cuidado com o próximo e os mais vulneráveis. 

Contudo, para que este momento não seja apenas um hiato no modo de operação convencional de atuação das empresas, é necessário que as lideranças criem pilares para perpetuar essa nova forma de atuar, garantindo permanentemente um maior valor compartilhado entre empresas e a sociedade. 

O que se espera é que, a par de todas as dificuldades econômicas, as empresas construam uma nova genética econômica, que permita que a ética inspire soluções coletivas e ao mesmo tempo atenda às necessidades particulares, encontrando transcendência, sentido e propósito.

O Novo Normal deveria provocar uma reconfiguração da economia e instituir a prática de um capitalismo mais consciente, ético e empático, gerando a “Economia do Cuidado”, um capitalismo de stakeholders. 

O caminho para um futuro compartilhado, só será construído com Diversidade e Inclusão, uma vez que a complexidade, incerteza e a mudança tecnológica em ritmo alucinante, acontece. E para nos mantermos atualizados, precisamos de um extraordinário senso de compreensão e agilidade. Com o tempo, a diversidade vai se tornando essencial para a produtividade corporativa, performance e engajamento.

Times diversos têm melhor desempenho e resolvem melhor temas complexos, uma vez que a perspectiva individual enxerga os desafios de forma diferente. 

Diversidade requer compromisso. Atingir a diversidade de desempenho superior pode produzir necessidades adicionais – principalmente, o compromisso de desenvolver uma cultura verdadeira de inclusão. As pessoas não precisam apenas ser diferentes, elas precisam estar totalmente integradas e sentir que suas vozes sejam ouvidas. 

Não basta ter diversidade na porta. Uma vez lá, as empresas precisam fazer as pessoas se sentirem acolhidas e livres para serem autênticos e trazer o melhor de si para o trabalho. A jornada para a excelência via diversidade e inclusão é desafiadora, mas vale a promessa de um futuro compartilhado, superando as dores de nossa época.

 

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