Especialista em driblar crises
A pandemia de Covid-19 foi apenas mais uma das muitas crises que o empresário Vittorio Danesi já enfrentou. Em 42 anos de vida profissional, acompanhou por dentro as sucessivas crises econômicas e políticas do Brasil contemporâneo. Essa bagagem permitiu que a empresa fundada por ele há 20 anos, a Simpress, crescesse dois dígitos no ano passado e se encaminhe para quebrar mais um recorde de resultados neste ano. O segredo? Adaptação rápida, redirecionamento para os mercados mais ativos e, principalmente, não se deixar contaminar pelo ambiente de apreensão e pessimismo gerado pela crise. Para a Simpress, a fórmula deu certo.
Empresa especializada em fornecer soluções de infraestrutura na base de TI, a Simpress nasceu em 2001 para atender o mercado de impressoras no modelo de outsourcing, que até então era inédito no Brasil. A companhia cresceu nos anos seguintes como fornecedora de equipamentos e soluções em todo o país e, em 2015, foi incorporada ao grupo Samsung, oferecendo ao mercado a atuação B2B Simpress, além da prestação de suporte aos equipamentos adquiridos pelos clientes B2C. Em 2016 foi considerada a subsidiária mais rentável do grupo. Em 2017, quando a Samsung fez a transição de seu business global de impressão para o Grupo HP, a Simpress manteve sua operação, identidade e cultura organizacional independente.
A pandemia de Covid-19 chegou em um momento de crescimento para a companhia. O choque, porém, foi grande – com boa parte dos clientes da Simpress migrando rapidamente para o sistema de trabalho remoto, a empresa viveu dias intensos de mudança e adaptação. “Em 48 horas estávamos em homeoffice, em 72 horas reorganizamos as tarefas de todas as equipes para criar economia de sobrevivência. Em três meses reformatamos as ofertas para atender as novas necessidades dos nossos clientes. E em quatro meses voltamos a crescer”, relembra Danesi.
O CEO explica que a pandemia atingiu abruptamente todos os setores e foi preciso agilidade para responder rapidamente aos desafios. Ele revela que uma das primeiras providências foi montar um comitê de crise multidisciplinar com os melhores talentos da companhia. Com base nas reflexões geradas no comitê, o núcleo duro de funcionamento da empresa foi acionado, para que as decisões fossem tomadas e comunicadas ao restante do time rapidamente. “O papel de um líder nesses momentos é formular e formatar as decisões coletivas, amparado no conhecimento técnico da equipe. Daí para a frente é comunicar com transparência as decisões e executar os planos”, acrescenta.
Crescimento de 17% no primeiro semestre de 2021
Foi assim que a Simpress se readaptou para a nova realidade dos seus clientes, fornecendo não mais somente soluções de impressão, mas aumentando o fornecimento de itens de tecnologia como notebooks, smartphones e tablets – cuja demanda cresceu exponencialmente com a generalização do homeoffice implantado durante a pandemia. O resultado dessa guinada foi um crescimento de 17% no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado. O volume de contratos firmados aumentou 21%.
Atuando no setor de infraestrutura de tecnologia, a empresa precisou redirecionar seu foco para se adaptar ao novo mercado endereçável que surgiu em função das transformações na rotina de trabalho. “Fomos rápidos para fazer esse redirecionamento comercial para mercados que sofreram menos na crise e encontramos um tamanho de mercado suficiente para fazer negócio e prosperar. O mercado interno brasileiro é muito grande e oferece esse tipo de oportunidade para uma empresa madura como a nossa”, destaca Danesi.
Uma das chaves de ouro que destrava portas em qualquer crise é o investimento em inovação, que deve ser feito rotineiramente como parte da cultura de qualquer empresa, em qualquer setor. Segundo Danesi, a tecnologia e a inovação são fatores de ganho para as empresas, que se revelam mais valiosos e decisivos em momentos de crise, como este. “As empresas que investiram em inovação ao longo de sua história e que fizeram a sua transformação digital estavam preparadas para reagir rapidamente. Por outro lado, ficou nítido quem não fez esse movimento. As organizações ancoradas em metodologias de trabalho envelhecidas não estavam preparadas para redirecionar seus esforços para o mundo digital. Essas perderam espaço para os que estavam melhor preparados”, afirma. O CEO da Simpress comenta ainda que empresas com mindset de inovação digital, que investem em melhoria contínua e em processos disruptivos, enfrentam melhor as crises e encontram mais caminhos para se adaptar e perenizar-se.
Mais uma turbulência para o currículo do empresário brasileiro
Enfrentar e vencer crises é mais uma habilidade intrínseca do empresário brasileiro. O fundador e CEO da Simpress é um exemplo disso, pois já vinha se especializando em viver, entender e driblar crises desde o começo de sua trajetória profissional. “Em todo esse tempo, talvez eu tenha vivido somente quatro ou cinco anos sem crise. O resto do tempo foi fazendo gestão de problemas. Isso é muito ruim do ponto de vista das empresas, mas também do país”, ressalta Vittorio Danesi. De acordo com ele, gerir turbulências externas ao dia a dia da empresa consome tempo, energia e recursos que poderiam estar integralmente direcionados ao desenvolvimento do negócio. “Ao olhar para o Brasil de hoje e compará-lo com outras geografias semelhantes no mundo, vemos que nossos indicadores até melhoraram, mas ainda estamos longe dos países que entraram em ciclos de desenvolvimento mais sólidos”, aponta.
Na avaliação do empresário, a crise que o país enfrenta no momento não começou com a chegada do novo coronavírus ao Brasil – houve um agravamento, mas o quadro econômico e político não vinha bem desde 2013, no final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Essa crise, na avaliação de Danesi, se aprofundou com biênio de queda acentuada do PIB, chegando ao auge no processo de impeachment de Rousseff e ganhando um pequeno alívio no mandato-tampão do presidente Michel Temer. Os últimos dois anos, porém, foram de retorno à situação aguda de conflitos e crise por motivos variados, na política e na economia.
O resultado desse estado de crise é que o empresário brasileiro, de acordo com Danesi, perde oportunidades e competitividade, tendo parte de seu tempo e sua energia drenados para a gestão da turbulência que o país atravessa. “O Brasil não é uma ilha. Estamos integrados ao comércio internacional e competimos com empresas que não gastam tanto tempo e recursos para driblar uma situação permanente de crise. A competição é sempre mais favorável a quem opera na estabilidade e na previsibilidade”, destaca. Somando-se a isso outros fatores como segurança jurídica e carga tributária menos pesada, os competidores das empresas brasileiras largam em vantagem, na maior parte das vezes.
A solução, na avaliação do CEO da Simpress, é construir políticas de médio e longo prazo em um planejamento de país que extrapole governos e orientações ideológicas. Firmado nas premissas democráticas, que são o pilar da sociedade, o país precisa encontrar o equilíbrio para construir um projeto de desenvolvimento que contorne as diferenças. “O setor empresarial tem um papel fundamental nessa construção, pois precisa estar presente e atuante nesse debate. Nós, empresários, temos que exigir uma discussão madura sobre o desenvolvimento do país, com a implementação de políticas com começo, meio e fim, sem as consequências de um conflito permanente. Esse é o caminho para um futuro em que as empresas não trabalhem apenas para gerir crises, mas para crescer”, completa.
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