Estilo de liderança de Lula estressa a Esplanada e gera crises em série

Leonardo Barreto, cientista político

Pode ser um recurso narrativo difícil de medir na prática, mas a ideia de que o governo está perdido está pairando no ar. Nas manchetes dos jornais, analistas e editorialistas, atônitos, tentam entender o motivo do declínio mesmo com o país tendo dados favoráveis. 

Há uma impressão que o governo entrou em parafuso após sofrer com a queda de popularidade. Questiona-se a comunicação, a falta de resultados, a resistência do público evangélico, entre outros. 

Mas a realidade é que o principal problema do governo é interno. E está ligado ao estilo de liderança do presidente Lula.

Já ressaltamos mais de uma vez que Lula tem um estilo particular de liderar. Ele estimula a concorrência entre seus assessores, de modo a não permitir que ninguém se torne forte o suficiente para ofuscá-lo. Não é acaso que Lula tenha colocado todos os expoentes do PT e de outros partidos em ministérios, mantendo-os sob controle e absolutamente estressados pela competição interna. 

O resultado é que os ministérios não se comportam como um time, mas como adversários que precisam demonstrar mais resultados do que os colegas de Esplanada para agradar a Lula, que detém a única opinião que importa. 

A disputa entre Casa Civil e o ministério de Minas e Energia e a Petrobras chama muita atenção por causa do peso que tudo isso envolve. Mas está longe de ter sido o primeiro conflito entre parceiros (ou adversários) de primeiro escalão. Antes disso, Rui Costa já havia entrado em choque com Fernando Haddad em torno da importância da meta fiscal ou no tema da desoneração das pequenas prefeituras, que está em disputa no Congresso. 

Esse modelo de gestão exige de Lula um ajuste político muito fino para funcionar. Sem ele, o resultado são crises fabricadas, com o presidente sendo chamado frequentemente a arbitrar disputas de poder, papel que ele até gosta e que deve ser útil para dominar partidos e sindicatos, mas que, aplicado à gestão do país, ofusca bons resultados e mina a boa vontade da imprensa e até do Congresso.

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