“Get the job done!” Dê conta do Recado – Por Eduardo Leite

No Brasil, nos últimos tempos, muito se tem falado sobre a chamada  “nova política”, com diferentes motivações e partindo de diferentes referências conceituais. Seja como for, tal política nova não pode ancorar-se sobre nomes ou pessoas, mas sobre projetos e propósitos. Até porque as pessoas passam, e, no caso de administrações municipais,  a cidade permanece. E nossas cidades – assim como o Estado e o país – precisam de projetos e de planejamento, com líderes (e não “salvadores da pátria”) capazes de colocá-los em prática e de entregar os resultados à população.

A reeleição é um exemplo. Especialmente em nosso tão fragmentado sistema político, com 26 partidos representados no Congresso. Nestas condições, uma candidatura forte demanda apoio do maior número de siglas possível, colocando o governo, muito frequentemente, como um balcão de negócios. A força do candidato à reeleição pode, assim, significar o enfraquecimento técnico e gerencial da administração.

Na Faculdade de Assuntos Internacionais e Públicos (Sipa), da Universidade de Columbia, em Nova York, onde estudo neste semestre, o professor, em uma das primeiras aulas a que assisti, destacava que a missão da Sipa é a de formar profissionais para “get the job done”, o que poderia ser traduzido (além do literal “fazer o trabalho”) como “dar conta do recado”. A motivação de quem está na vida pública deve ser esta: a de efetivamente entregar resultados à população.

Infelizmente, sabemos bem, muitos motivam-se apenas em buscar ocupar cargos ou espaços de poder por ambição pessoal – se não por vantagens para si, por destaque que o cargo possa lhe proporcionar. É necessário que volte a ser sobre “fazer algo”, e não apenas sobre “ser alguém” como dizia a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

E, quando se trata de fazer algo, especialmente em governos — com seu poderoso impacto na vida das pessoas —, não bastam as boas intenções. É fundamental que sejam utilizadas as ferramentas estruturadas para que uma organização consiga atingir seus objetivos: liderança, gerenciamento de equipe e planejamento estratégico. Há mais estudo e ciência por trás de cada um desses pontos do que muitos imaginam.

Liderança é entendida, usualmente, como uma vocação pessoal. Costumamos ouvir, com frequência, que alguém nasceu com “espírito de líder”. No entanto, a liderança não é sobre pessoas, mas sobre as relações que ela desenvolve e como ela o faz. E para sua eficácia, deve ser treinada, para que mobilize efetivamente um grande grupo de pessoas em torno de um mesmo objetivo.

Uma vez com tantas pessoas engajadas, torna-se essencial promover o correto gerenciamento das equipes, para que se possa extrair o melhor que elas tenham a oferecer, não pelos talentos individuais, mas pela capacidade de trabalhar em conjunto. Em equipes esportivas temos vários exemplos de times com jogadores talentosos e que não conseguem bons resultados. Gerenciar seu grupo de trabalho para que permaneça motivado é, também, algo científico. Demanda ferramentas objetivas, já testadas e aprovadas na iniciativa privada, cada vez mais incorporadas à administração pública.

O planejamento estratégico é uma dessas ferramentas, que utilizamos com sucesso em Pelotas. Aliás, o desenvolvimento de nosso mapa estratégico, a construção dos objetivos específicos para cada área da administração e o sistema de governança que desenvolvemos foi, inclusive, utilizado como exemplo na Universidade de Columbia. Foi, sem dúvida, o principal alicerce para sustentar o governo com o foco no que era prioritário à população, sem desvios diante de outras agendas, nem perdas em meio à crise que abalou a maior parte dos municípios.

Percebe-se, no entanto, que, em alguns casos, o planejamento estratégico tem sido tratado  apenas como a construção de um documento formal que, em geral, será apresentado e sintetizado em um quadro a ser afixado nas salas de uma organização. Sem ser compreendida e vivenciada nas rotinas da administração, essa ferramenta será inútil. E é nesse sentido que pode ser recomendado, a quem queira “dar conta do recado”, que busque aperfeiçoar-se e qualificar seus métodos, a fim de  promover, exercendo sua liderança, o engajamento de seus times em torno de objetivos claros, com o comprometimento na entrega de resultados para uma população ansiosa por governos eficientes.

Em última análise, há convicção de que, mesmo ao mais correto e bem intencionado gestor público, não basta “querer fazer”. Se lhe faltarem o chão e o teto de mecanismos capazes de transformar em resultados eficientes o esforço administrativo que vier a empreender. É óbvio que a “nova política” jamais poderá abrir mãos da intencionalidade sadia e decente de seus agentes, mas só isso será tíbio, se não for temperado e enriquecido com instrumentos de planejamento, execução e controle já testados para potencializar e qualificar a entrega de resultados para a sociedade.

Eduardo Leite é ex-prefeito de Pelotas/RS

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