Contradições entre setores do governo marcam participação do Brasil na COP 28

O presidente Luís Inácio Lula da Silva quebrou o protocolo no último sábado (2) e cedeu seu espaço para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falar em seu lugar no discurso final de um painel sobre florestas na COP 28, Cúpula do Clima da ONU, realizada em Dubai entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro. Às lágrimas, o petista apresentou Marina como uma “pessoa da floresta” aos demais países que participavam do evento.

Marina nasceu em uma pequena comunidade no interior do município de Rio Branco, no Acre, e construiu sua carreira em torno da defesa da Floresta Amazônica e contra seu desmatamento.

Precisamos de muita, muita coisa. Vinte e oito edições da COP para que pela primeira vez as florestas viessem falar por si só. E eu não poderia utilizar a palavra sobre as florestas, se eu tenho no meu governo uma pessoa da floresta. A Marina nasceu na floresta, se alfabetizou aos 16 anos”, afirmou Lula.

O presidente também aproveitou a oportunidade para reforçar sua cobrança para que os países ricos concedam financiamento para países florestais, como é o caso do Brasil.

Em sua fala, a ministra listou as ações do Governo Federal para a área do meio ambiente e afirmou que diferentes setores da economia e da sociedade precisam assumir responsabilidades para preservar as florestas. 

A manutenção de florestas e a recuperação de áreas desmatadas são as principais apostas do governo Lula na COP 28. O país apresentou números que comprovam a queda no desmatamento em 2023, como o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que registrou uma queda de 22% no desmatamento da Amazônia em comparação ao ano passado.

No entanto, algumas atitudes do governo durante o evento geraram frustração em setores ligados ao Ministério do Meio Ambiente. De acordo com interlocutores da pasta, o papel do Brasil na cobrança por investimentos em sustentabilidade acabou sendo ofuscado pelas negociações da equipe presidencial para a adesão do país à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+).

A avaliação é que o convite para entrar na organização poderia ter sido feito em um outro momento para não gerar controvérsias, já que as pautas referentes a mudanças climáticas e transição energética vão na contramão da indústria petrolífera.

Apesar de queda no desmatamento, estudo aponta aumento nas queimadas

Um artigo publicado na revista Ecology & Evolution em outubro deste ano revelou que existe um aumento no número de incêndios não controlados na Amazônia. O estudo foi realizado por um grupo de cientistas de instituições nacionais e internacionais.

Em junho de 2023, o número de incêndios ativos na Amazônia atingiu 3.075, o maior para este mês desde junho de 2007, que teve 3.519 incêndios. A contagem total de incêndios no primeiro semestre de 2023 foi de 8.344, 10,76% superior aos 7.533 incêndios durante os primeiros seis meses de 2022.

Entre as principais causas das queimadas estão os períodos de seca e as ondas de calor, combinadas com a ação do agronegócio na região. A análise também concluiu que apenas 19% desses incêndios possuem ligação direta com o desmatamento, indicando uma tendência de dissociação entre os dois fenômenos.

 

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