Guinada Política

O movimento político pelo qual passa o Brasil nestas eleições tem relação íntima com uma mudança geracional nas estruturas de poder, calibradas pela ascensão de partidos de direita que aos poucos vão desenhando um novo horizonte no Brasil. A eleição de 2018 significa acima de tudo o fim da Nova República e seus pilares calcados em partidos de centro esquerda. O embate entre tucanos e petistas ou
entre social democratas e esquerda sindical chega ao fim com a erupção de forças de direita que avançam pelo caminho liberal e conservador, que se uniram neste processo para dar novos rumos ao país.

A alta taxa de renovação do Senado fornece sinais de que este é um processo em curso. O eleitor resolveu aposentar os antigos líderes políticos brasileiros de chofre. Em uma eleição mandou para casa nomes que frequentavam a política nacional há décadas, enfraqueceu os partidos de esquerda e centro, abrindo passagem para lideranças da direita.

O PSL de Bolsonaro chega aos corredores da Câmara dos Deputados a bordo de 52 parlamentares, a segunda maior bancada da Casa, perdendo apenas para o PT, com 57. Não há dúvida que estes parlamentares assumirão posições de comando, liderando comissões importantes, articulações decisivas, influenciando a pauta de votações e movendo o debate parlamentar mais para a direita. Enquanto isso, bancadas que já foram protagonistas, agora assumirão um novo tamanho, como o MDB, que cai de 66 deputados eleitos em 2014 para 34 neste ano.

Os tucanos encolheram de 53 para 30. Agora são agremiações do tamanho do PSD, PR, PP e PSB – bancadas médias, com menor poder de influência e barganha dentro da estrutura da Câmara dos Deputados. Este desenho terá enorme influência na pauta do novo governo. Haddad teria enormes dificuldades em lidar com este novo Congresso, enquanto Bolsonaro teria maior facilidade, uma vez que o espectro ideológico se moveu para o lado conservador. O movimento liderado por Bolsonaro fez, de uma vez, 10% dos deputados federais do país.

Por isso a tendência é de confirmação desta guinada conservadora com a confirmação de Bolsonaro eleito Presidente no segundo turno. O antipetismo foi o combustível que moveu a campanha do capitão e certamente reformar muito de suas políticas será a tônica de seu governo. Bolsonaro buscará imprimir uma mudança de fundo, dando voz a uma parcela da população que até então vivia em silêncio.

A mudança que está em curso refundará a República, dando fim ao processo iniciado em 1985 por Tancredo Neves e abrindo espaço para um novo conjunto de forças que irá moldar nossa democracia pelas próximas décadas.

Por Márcio Coimbra, estrategista política e fundador da Casa Política

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