Imunidade,vacinas e passaporte sanitário

OSMAR TERRA

O início da vacinação foi muito comemorado em todo o mundo. Graças a uma campanha massiva, passou-se a ideia de que o surto da Covid-19 terminaria quando 75% do total da população estivesse totalmente vacinado. No meio da euforia – até certo ponto justificada por termos, pela primeira vez na história, vacinas desenvolvidas em pleno surto pandêmico -, muitas informações importantes foram omitidas ou pouco divulgadas para a população.

E torna-se importante expô-las e debatê-las. O desenvolvimento muito rápido das vacinas, por exemplo, não permitiu uma testagem adequada de sua eficácia. Assim, na prática, são vacinas experimentais. Aos poucos, foram surgindo informações de que os resultados de algumas marcas eram mais reduzidos ainda do que nas testagens iniciais, como o da Coronavac, que chegou a só 28% de eficácia em pessoas com mais de 80 anos. Garimpando dados do Open DataSUS aparecem, entre junho e setembro,cerca de 75 mil pessoas internadas por Covid, mesmo após serem vacinadas com as duas doses. E perto de 20 mil já morreram nas mesmas condições. Destes internados, 73% haviam tomado Coronavac. Entre os mortos, 80%. Cito a Coronavac porque foi vendida como 100% eficaz para evitar formas graves da doença e que bastariam só duas doses para garantir a imunização.

Em alguns países da Europa, Estados Unidos e Israel, ao contrário do que se esperava, explodiram surtos gigantescos de contágio logo após a maioria da população estar vacinada. Tanto lá como aqui já foi iniciada uma terceira dose que não era prevista. Na Turquia já está se fazendo a quarta dose de Coronavac! E tudo isso acontece sem maiores explicações para a população.

Uma outra informação omitida: vacinação não é sinônimo de imunização. De um lado existe a baixa eficácia de algumas vacinas, que acabam não imunizando um percentual significativo de pessoas e, por outro lado, quem contraiu a Covid e curou, fica imunizado mesmo sem se vacinar.

A vacina é o vírus atenuado, ou partes dele, injetados na pessoa, para provocar a formação de anticorpos que combaterão o vírus não atenuado. Ora, quem foi infectado pelo vírus não atenuado, desenvolve tanto ou mais anticorpos do que quem foi vacinado. É a chamada imunidade natural. Como existe um número gigantesco de pessoas que foram contaminadas, algumas mesmo sem ter desenvolvido sintomas, é bem provável que a maioria da população já esteja imunizada, independente da vacina.

Os imunizados naturalmente já devem ser maioria inclusive entre os vacinados! A eficácia da imunidade natural é fácil de verificar. Basta analisar a proporção muitíssimo menor de quem teve a doença novamente, comparando com quem a teve pela primeira vez, mesmo após vacinação completa.

Outra informação pouco divulgada é a de que o contágio se reduz e leva para o fim a pandemia quando um percentual importante da população estiver imunizado, e não necessariamente todo vacinado. E isso depende da velocidade do contágio do vírus. O de sarampo, por exemplo, requer 90% da população atingida, imunizada pela doença ou por vacina. O vírus da Covid, pelas variantes surgidas, provavelmente necessitará entre 75 e 85% da população com anticorpos para terminar com o surto. Assim, ele não depende só da vacinação para finalizar. Depende muito da imunização natural e até de parcela da população que é geneticamente imune. Nunca esqueçamos que nos primeiros 12 meses da pandemia ainda não havia imunização por vacina

Quando se fala em imunidade de rebanho, que alguns desconhecem, e por isso tentam menosprezar, está se falando na imunidade coletiva que acaba com o surto. Não se trata de uma estratégia de enfrentamento, e sim de uma constatação de como terminam todos os surtos virais pandêmicos e epidêmicos. As vacinas existentes, mesmo que na prática, ainda sejam experimentais, irão contribuir para a imunidade coletiva ou de rebanho. São importantes quanto mais eficazes forem. Quem não teve a infecção, ou não sabe se teve, pode ser protegido por elas e por isso RECOMENDO a vacinação. Mas seu uso deve ser por livre escolha, sem constrangimentos e com o conhecimento de todas as informações disponíveis no momento, sobre sua eficácia e reações colaterais. A população tem direito a isso. Nada deve ser escondido dela!

Agora, por tudo que a ciência mostra, e que nem sempre é informado a sociedade, é que considero um absurdo a imposição de passaporte sanitário para as pessoas circularem e usufruírem de serviços públicos, inclusive de saúde, como estão exigindo em algumas regiões. É um erro grave, que parte do princípio que só os vacinados estão imunizados e que não existe ineficácia nas vacinas, experimentais. Fadado ao fracasso tal “passaporte” é mais um exercício de tirania e crueldade, criando uma falsa sensação de segurança, muito longe da realidade.

*Osmar Terra é médico, deputado federal, ex-ministro da Cidadania

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