Lockdown: fechamento alarma os empresários e gera protestos por todo o país

Por todo o país o fechamento alarma os empresários e gera protestos das classes trabalhadoras

De norte a sul do país, cidades e estados estão adotando medidas restritivas para conter o avanço de casos da covid-19. Nesta quarta-feira (10), os gaúchos se reuniram,  em frente ao Palácio Piratini, na área central de Porto Alegre, contra as medidas restritivas adotadas pelo governo do Rio Grande do Sul.  Eles pedem frexibilização para o funcionamento de atividades comerciais.

São Paulo

Na última sexta-feira (5), caminhoneiros realizaram protestos contra as decisões anunciadas pelo governador João Doria (PSDB), com bloqueios em pelo menos dois pontos da cidade de São Paulo.

O governador colocou todo o estado paulista na fase vermelha do Plano SP a medida começou a valer a partir da meia noite desse sábado (6). Essa foi o comedimento mais rígido já anunciado desde o início da pandemia em março do ano passado.

Brasília

Na última semana, a capital federal também adotou a suspenção de atividades em diversos setores produtivos, como shoppings, restaurantes, academias, cinemas e salões de beleza. Empresários se posicionaram contra a medida do governador, Ibaneis Rocha, alegando que esses setores não suportariam mais um fechamento.

Entre eles, a dona de uma rede de doces na capital fez um vídeo que viralizou nas redes sociais e foi compartilhado, inclusive, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. No vídeo, ela aparece ao lado de funcionários e diz que “lockdown mata de fome”.

Contra o fechamento

Em entrevista ao Correio Braziliense, o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Sebastião Abritta, criticou o último decreto de lockdown publicado. Segundo ele, a medida irá implicar em mais desempregos para o setor.

“Esse novo lockdown com certeza vai trazer fechamento de mais empresas, um aumento no endividamento do empresário, o aumento do desemprego, e um possível calote nos empréstimos adquiridos no lockdown do ano passado”, afirmou Abritta.

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) também se manifestou e divulgou uma nota pública se posicionando contra o Lockdown na capital, afirmando que tal medida não é eficaz. Para o CRM, ações preventivas mais eficientes estão relacionadas a campanhas de educação sobre medidas individuais de higiene, uso de máscaras, distanciamento social, vacinação populacional e ostensiva fiscalização por parte do governo, mas “nunca pela decretação de lockdown”.

O CRM-DF cita o Amazonas como exemplo negativo da medida. “O Estado com maior índice de isolamento social do Brasil, apresentou o maior número de internações e mortes por covid-19, cerca de 30-45 dias após o primeiro lockdown, sendo ainda mais imediato, após o segundo, configurando mais uma evidência do fracasso dessas medidas extremas de restrição”, diz o texto.

Consequências econômicas

Em estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), neste ano, para O Estadão entre inaugurações e fechamentos, o comércio perdeu 75,2 mil pontos de venda em 2020. O isolamento social imposto pela pandemia e o avanço acelerado do comércio online, derrubaram a abertura de empreendimentos físicos no País. O levantamento considera lojas com vínculo empregatício que entram no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

O resultado de 2020 foi o pior desde 2016, quando o saldo tinha sido de 105,3 mil lojas fechadas, na época, devido a maior recessão da história recente do Brasil. Após dois anos seguidos de recuperação do mercado – com a abertura líquida de 27,1 mil lojas -, o prejuízo em 2020 só não foi maior por causa do auxílio emergencial, segundo o economista-chefe da CNC e responsável pelo estudo, Fabio Bentes. “Sem o auxílio teríamos tido seguramente mais de 100 mil lojas fechadas”, afirmou ao jornal.

Segundo Bentes, o varejo brasileiro é ainda muito dependente do consumo presencial, que corresponde por cerca de 90% das vendas. Para ele, o impacto maior da pandemia ocorreu no primeiro semestre de 2020, com o fechamento líquido de 62,1 mil lojas. Nesse período, o índice de isolamento social atingiu o pico de 47% e as vendas recuaram quase 18% em abril. No segundo semestre, quando se iniciou o processo de reabertura e o consumo foi impulsionado pelo auxílio, o saldo negativo de abertura de lojas foi menor, ficando em 13,1 mil.

A história se repete

Para o economista e colunista da Revista Voto, Bruno Musa, um novo fechamento pode ser catastrófico para muitas empresas e até mesmo a aprovação de um novo auxílio emergencial pode influenciar negativamente na economia do país. “Caso o Bolsa Família fique fora do teto de gastos, será mais um critério de endividamento nacional. Nesse caso, teremos mais um problema lá na frente pois, apesar de a economia ter um leve alívio nesse momento com o auxílio emergencial sendo pago para que as pessoas continuem consumindo, essa medida terá uma contrapartida”, explica.

OMS

O Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que medidas de distanciamento físico em grande escala e restrições de movimento, muitas vezes chamadas de lockdowns, podem reduzir a velocidade de transmissão da COVID-19, ao limitarem o contato entre as pessoas.

No entanto, essas medidas podem ter um impacto negativo profundo sobre os indivíduos, comunidades e sociedades, ao fazer com que a vida social e econômica praticamente pare. Essas medidas afetam desproporcionalmente grupos desfavorecidos, incluindo pessoas em situação de pobreza, migrantes, pessoas deslocadas internamente e refugiados, que na maioria das vezes vivem em locais superlotados e com poucos recursos e dependem do trabalho diário para sua subsistência.

A OMS ressalta que os governos devem aproveitar ao máximo o tempo extra concedido pelas chamadas medidas de lockdown, fazendo tudo o que puderem para desenvolver suas capacidades de detectar, isolar, testar e cuidar de todos os casos; rastrear e colocar em quarentena todos os contatos; engajar, empoderar e capacitar as populações para impulsionar a resposta da sociedade e muito mais.

 

Imagem: Cláudio Marques/Futura Press/Estadão Contéudo

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