Lula preso, após missa, discurso e resistência

Cerca de 26 horas após o prazo concedido pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Lula se entregou aos agentes federais. Ele precisou sair a pé do sindicato. Na primeira tentativa, não conseguiu sair da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC  por uma porta lateral. Militantes do PT quebraram o portão de ferro, fizeram cordão humano e cercaram o veículo, impedindo a saída de Lula.

Após intensa negociação: de um lado emissários e advogados do petista, de outro lado a Polícia Federal, ele fez seu último comício antes de dar início ao cumprimento da pena de 12 anos e um mês no caso triplex. Aos militantes, ele afirmou que se entregaria à Lava Jato.”Vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá”, afirmou, às 12h55, quando encerrou o comício.

O ex-presidente chegou ao prédio da Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde ele ficará preso e cumprirá a pena por volta das 22h deste sábado (7). Lula foi levado para uma sala especial que foi reservada a ele. O local funcionava como dormitório para agentes da PF e foi transformada em uma sala de Estado Maior para receber  Lula. No espaço, há apenas uma mesa, uma cadeira, uma cama e um banheiro. Há ainda uma janela que dá vista para a parte interna do prédio.

Uma negociação difícil para se entregar

Após dois dias no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula se entregou à Polícia Federal aproximadamente às 18h40, mais de 24 horas após o prazo dado pelo juiz Sérgio Moro. Antes disso, o político fez um longo discurso, no qual relembrou sua trajetória política, criticou o Judiciário, a imprensa, o processo que levou à sua condenação e disse que a prisão não encerrará suas ideias e os sonhos da população.

No fim da tarde, ele foi levado para a Superintêndencia da PF em São Paulo para fazer exame de corpo de delito e, por fim, ao Aeroporto de Congonhas, de onde decolou para a capital paranaense em uma aeronave monomotor modelo Cessna 210.

O ex-presidente estava no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, desde que sua prisão foi decretada pelo juiz Sérgio Moro. Por volta das 10h40 da manhã deste sábado, ele apareceu do lado de fora para participar de uma missa em homenagem à Marisa Letícia. O petista se pronunciou por cerca de 50 minutos ao meio dia, alegou inocência e garantiu que cumpriria a ordem de prisão. O ex-presidente Lula já montou toda uma estratégia para transformar sua prisão em um grande fato político e se tornar protagonista do ato da prisão.

No final do discurso, ainda deu alerta a todos que ele acha que mentiram: “Eles querem e eu vou atender o pedido deles. E quero fazer aqui uma transferência de responsabilidade: eles acham que o problema deles é só o Lula. Eles vão descobrir que o problema são todos vocês. Minhas ideias já estão pairando no ar e não tem como prendê-las.”

Lula avisou aos mais próximos que ficará o tempo que for necessário na prisão e que não quer saber de tornozeleira. Na cadeia, registrará todos os detalhes do seu dia a dia, repassando as informações a assessores com o intuito de provocar comoção, sobretudo entre seus seguidores, mantendo-se, assim, presente no noticiário.

Haddad como vice

Ele definiu, ainda, que vai registrar oficialmente a candidatura ao Palácio do Planalto. E terá como vice Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. O petista insistirá que só não conseguirá concorrer porque estará sendo vítima de um golpe. Ele vai se amparar no fato de que a sentença ainda não transitou em julgado e, assim, tem os direitos políticos mantidos.

Tão logo o Superior Tribunal Eleitoral (TSE) negue o registro da candidatura, Lula lançará Haddad como cabeça de chapa. Nessa altura, acredita o ex-presidente, Haddad terá ganhado musculatura eleitoral e terá votos suficientes para ir ao segundo turno com chances de sair vencedor das urnas, conta o jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense.

A estratégia de Lula tem por objetivo manter o PT vivo e no jogo. Sua prisão, portanto, terá a função de garantir ao partido força suficiente para retomar o controle do Palácio do Planalto. Lula sabe que, se bem trabalhada do ponto de vista de marketing, a prisão será um trunfo num jogo que muitos dão como perdido.

Lula já consultou seus aliados mais próximos. Muitos veem a estratégia com ressalvas, mas estão dispostos a dar o suporte necessário para que o ex-presidente consiga atingir seus objetivos: colocar a PF em uma saia justa e tirar proveito político da prisão.

O cientista político Bolívar Lamounier criticou a demora para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se entregar à Polícia Federal, que era para ter acontecido até às 17h da sexta-feira. Lula, porém, permaneceu no Sindicato dos Metalúrgicos até a tarde deste sábado (7). Lamounier lamentou o tom populista do ex-presidente e a tentativa de dividir o País.

O especialista não ficou surpreso com o tom do discurso do ex-presidente, que aconteceu no início da tarde deste sábado. Para ele, Lula fez o mais do mesmo: atacou a imprensa e a justiça brasileira.

“O tom populista do discurso foi mais forte, mas o conteúdo foi o de sempre: ataca a justiça e a imprensa, o ‘nós contra eles’. O que estamos vendo é um estilo populista que chega ao grotesco, como na história da missa, algo ridículo que eu nunca tinha presenciado na minha vida”, disse em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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