Lula x Bolsonaro: o 3º turno

“Ricardo Nunes é Bolsonaro”. É o título que a campanha de Guilherme Boulos (PSOL-SP) deu a um vídeo publicado nas redes do deputado federal que mostra um encontro entre o atual prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB-SP) e o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). A tônica se repete com frequência no Instagram do principal organizador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.

A tentativa de vincular o nome de um candidato ao bolsonarismo é uma das principais estratégias de campanha da esquerda na capital paulista, mas se repete também em outras cidades brasileiras. Na opinião do cientista político Leonardo Barreto, transformar as eleições em um duelo entre petistas e bolsonaristas é o caminho defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para aumentar o número de prefeitos aliados em 2024.

“A ideia é nacionalizar as disputas locais, numa tentativa de surfar na popularidade de Lula e explorar a narrativa de que é preciso enterrar o bolsonarismo. Com a sociedade dividida, não dá para prever o resultado dessa estratégia. Possivelmente tende a dar certo em localidades nas quais Lula já tem vantagem e dar errado em regiões mais conservadoras”, explica.

Há quem diga que o pleito de 2024 será uma espécie de terceiro turno das eleições de 2022, em que Lula poderá medir na prática a popularidade de seu governo, e Bolsonaro o tamanho de seu capital político desde que deixou o Planalto. Mesmo não correndo nas mesmas siglas (PT e PL), o embate entre os dois principais líderes políticos do Brasil vai se espalhar por quase todas as capitais.

“Outra estratégia que o PT adotará é compensar a falta de quadros (o partido tem tido dificuldade para se renovar) com a indicação de vices em chapas de outros candidatos, esperando assumir a prefeitura quando o titular sair para disputar outros cargos. São os casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte, por exemplo”, complementa Barreto.

SP: o principal duelo

Em São Paulo, a decisão de Bolsonaro e do PL em apoiar Ricardo Nunes veio após negociações que tiraram da disputa o nome do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ele era o nome preferido de alas mais à direita do bolsonarismo, mas o partido acabou optando por uma aliança com o atual prefeito e indicará o vice de sua chapa.

Nunes foi eleito vice-prefeito em uma chapa com Bruno Covas, que morreu vítima de câncer em 2021. Eles derrotaram Guilherme Boulos com quase 60% dos votos válidos nas eleições municipais de 2020.

Entretanto, o cenário para 2024 é diferente. Na capital paulista, Lula recebeu 53,54% dos votos válidos no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A missão do petista é transferir seu capital político na cidade para Boulos e fazer com que a esquerda volte a ocupar o Edifício Matarazzo.

Para isso, o PT indicou Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo que encerrou seu mandato com 49% de aprovação, para a vaga de vice ao lado de Boulos. A estratégia é fortalecer o apoio ao psolista na periferia da capital, bairros nos quais Marta já obteve grandes votações. Lula teve um papel fundamental na volta da sua ex-aliada ao partido, de onde saiu brigada em 2015 e foi duramente criticada por votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Paes favorito no RJ

No Rio de Janeiro, o atual prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD) é tido como um dos principais aliados do governo federal. Ele dividiu o palanque com Lula em várias oportunidades para o anúncio de obras e programas da gestão petista ao longo dos últimos meses. O apoio do PT é dado como certo, mesmo a possibilidades do lançamento de candidaturas de esquerda, como Martha Rocha (PDT) e Tarcísio Motta (PSOL).

Do outro lado, o PL deve lançar o deputado federal Alexandre Ramagem como candidato com a chancela de Jair Bolsonaro. Na capital fluminense, o cenário é o oposto de São Paulo. Lá, foi Bolsonaro quem levou a melhor em 2022, com 52,6% dos votos. Ramagem é um dos principais aliados do ex-presidente e foi chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o seu governo.

PT tenta voltar ao poder em Porto Alegre

Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre que concorre à reeleição, construiu um grande arco de alianças em torno de sua candidatura, que vai do centro até a direita, incluindo o PL. Melo declarou apoio a Jair Bolsonaro em 2022 e foi eleito com a chancela do então presidente em 2020.

A capital gaúcha é considerada um local histórico pelo PT, afinal, foi onde o partido emplacou sua primeira “dinastia” e ficou 16 anos no poder. Para voltar à prefeitura após 20 anos, os petistas escolheram a deputada federal Maria do Rosário e apostam nos 53,50% dos votos válidos que Lula recebeu no segundo turno em 2022, na única capital da Região Sul em que Bolsonaro não venceu. O governador gaúcho Eduardo Leite, entretanto, busca furar a bolha da polarização e garante que o partido terá um nome tucano. A mais cotada é a deputada estadual Nadine Anflor. 

Belo Horizonte em cenário indefinido

A capital mineira deve ter uma das disputas mais acirradas do país. São cerca de dez pré-candidatos que incluem nomes do PT e do PL, e outros que buscam o apoio de Lula e Bolsonaro. O líder das pesquisas até o momento é Bruno Engler (PL), deputado estadual que conta com o apoio de Bolsonaro. O senador Carlos Viana (Podemos) é outro aliado do ex-presidente que pode entrar na disputa.

Já no campo da esquerda, PT e PDT negociam um acordo para lançar uma frente única apoiada por Lula. O partido do presidente tem como pré-candidato o deputado federal Rogério Correia, que aparece em segundo nas pesquisas, enquanto os trabalhistas lançaram o nome da também deputada Duda Salabert.

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