Medellín e Caracas: Tão próximas, tão distantes

Medellín e Caracas, distantes pouco mais de 1.400 quilômetros – distância ligeiramente superior à rota entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Grandes concentrações urbanas latinas, ambas com mais de 2 milhões de habitantes, cujas histórias são marcada pela chaga da violência. No entanto, enquanto a cidade colombiana deixou para trás os tempos de sangue e se tornou um case internacional, hoje a capital venezuelana é o lugar mais violento do mundo. O que aconteceu nas duas metrópoles?

Do caos à superação

Meados dos anos 1980, início da década de 1990. O narcotraficante Pablo Escobar assombrava o mundo com seu império da cocaína, abastecendo cidades como Nova York com toneladas da droga. Enquanto isso, a população de Medellín vivia a incerteza de, a qualquer momento, ser novamente palco de uma guerra entre quadrilhas ou das forças policiais contra os criminosos. Isso sem contar a atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que abandonaram as armas apenas em 2016.

Em 1991, a taxa de homicídios chegou ao inacreditável número de 380 a cada 100 mil habitantes.  Era a cidade mais violenta do planeta. Para comparação, Natal, no Rio Grande do Norte, município com a pior situação no Brasil, tem hoje um índice de 102,56 assassinatos para cada 100 mil habitantes.

Após a morte de Escobar, em dezembro de 1993, a cidade ainda enfrentou por vários anos a epidemia da violência. A situação começou a mudar a partir de 2002, com a eleição de Álvaro Uribe. O presidente decidiu encarar o crime com força de guerra. Reforçou a inteligência e a repressão, com o apoio de leis mais severas. Ao mesmo tempo, houve um investimento pesado em programas sociais, como integração dos bairros mais pobres ao centro e capacitação profissional. O governo incentivou empreendedores, em uma parceria do Estado com os setores privados. A sistematização de dados sobre o crime também constituiu um fator essencial para a reversão do cenário.

A inauguração do teleférico ligando as favelas Popular, Andalucía e Santo Domingo ao metrô de Medellín foi uma etapa importante. Combinados, os esforços resultaram em uma enorme transformação na cidade, que viu sua taxa de homicídios cair para 21 por 100 mil habitantes – redução de 94% em 15 anos. Na última década, Medellín vem empilhando prêmios de inovação, turismo e sustentabilidade.

“Tivemos de chegar ao fundo do poço da violência para entender a necessidade de trabalhar juntos pelo desenvolvimento da cidade. Desde então, temos a maturidade política de continuar os programas que funcionam, independentemente de qual partido esteja na prefeitura”, disse o prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez, em entrevista recente.

Desequilíbrio completo

Do outro lado da fronteira, Caracas enfrentava em 1987 uma considerável, mas ainda não alarmante. taxa de assassinatos, de 19,1 por 100 mil habitantes, segundo levantamentos oficiais. Dois anos depois, a situação se instabilizou com o “Caracazo”, uma série de fortes protestos contra medidas do então presidente Carlos Andrés Pérez. Sucedidas por saques e aumento da violência, as manifestações foram duramente reprimidas pelo governo, que chegou a suspender as garantias constitucionais. Dados oficiais indicam a morte de 276 pessoas, mas organizações independentes estimam que a cifra poderia chegar a 3 mil.

Os incidentes fortaleceram o projeto político de Hugo Chávez, que em 1992 tentaria um golpe de Estado. Em 1998, o militar é eleito presidente e dá início ao bolivarianismo. As ações chavistas acabaram por desarticular as forças policiais, além de promover o desarmamento da população. A indiferença do governo à violência fez a taxa de homicídios passar de 50,1, em 1997, para 130 por 100 mil habitantes em 2008.

A situação chegou ao colapso após a morte de Hugo Chávez, em 2013. A consequente degradação da democracia na Venezuela, agravada pela ditadura de Nicolás Maduro, foi acompanhada pela falência da economia. Em 2017, a inflação do país chegou a 2.616%, e o PIB teve queda de 15%. A pobreza atinge hoje 87% da população, que precisa de quilos de notas de bolívar, a moeda local, para comprar produtos básicos como um saco de açúcar – quando tem para vender.

Em completo flagelo social e econômico, Caracas vê as consequências da tragédia bolivariana nos índices de violência: em 2017, foram registrados 3.387 homicídios — 111,19 para cada 100 mil habitantes. Sem saídas no horizonte, a população está se mudando para a Colômbia e o Brasil. Somente o estado de Roraima já recebeu mais de 40 mil venezuelanos.

Enquanto Maduro atribui a culpa da catástrofe às “forças imperialistas”, Caracas e os venezuelanos definham sob a égide da ditadura socialista. Ao mesmo tempo, Medellín mostra ao mundo que a força da lei e o investimento social podem derrotar os horrores da violência. Caminho que serve de inspiração e esperança para os brasileiros, que aguardam ansiosos por soluções para ter mais segurança.

Exemplo no Rio Grande do Sul

Inspirada em exemplos como Medellín, a cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, vem reforçando sua atuação na segurança pública. “Em tese, essa é uma competência do Estado. Mas não podemos deixar de contribuir para uma área que é tão importante para a população”, diz o prefeito Luiz Carlos Busato. Por meio do tripé integração, inteligência e investimento, a Secretaria de Segurança aplica mensalmente R$ 2,4 milhões em ações da área. Além disso, R$ 860 mil anuais são destinados às polícias, aos Bombeiros e ao serviço penitenciário. Em fevereiro, a prefeitura entregou 45 viaturas aos órgãos de segurança, num investimento de R$ 5 milhões.

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