Os caminhos para superar a crise brasileira

Empresários, pesquisadores, economistas e membros da sociedade civil discutiram caminhos para o país superar a crise e crescer economicamente durante “II Fórum: A Mudança do Papel do Estado – Estratégias para o Crescimento”, realizado nesta quinta-feira na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O principal foco foi a função estatal diante das mudanças políticas e econômicas vividas no país e no mundo.

O primeiro painel tratou dos “Desafios fiscais e monetários no Brasil”. Os painelistas foram unânimes em afirmar que o país precisa encontrar maneiras para sair do buraco fiscal provocado pela diferença entre arrecadação e despesas. “A dívida chegou a 10 vezes o PIB. Se fosse uma empresa, significa que teria falido. Isso é muito grave”, observou Gustavo Franco, sócio fundador da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central.

Para resolver essa questão, precisam ser tomadas medidas urgentes, observou Vilma da Conceição Pinto, da Ibre–FGV. “Nas receitas, é preciso fazer a revisão dos gastos tributários e uma reforma tributária que diminua as distorções. Nas despesas, são necessárias reformas que viabilizem o cumprimento do teto dos gastos”, defendeu Vilma.

“Produtividade, competitividade e o papel do Estado” foi o assunto do segundo painel. João Manoel Pinho, chefe da Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda abordou a diferença entre competividade e produtividade. “O Brasil tem um problema de baixa produtividade. Por isso, a chave para a gente dar o pulo é só com aumento de produtividade. Não tem outro jeito”, disse Pinho.

Albert Fishlow, professor emérito da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, disse que um dos caminhos para o Brasil é ter mais poupança dos seus recursos. “A China tem poupança de 40%, 45% da renda. No Chile, a taxa é de 22%, 23%. Aqui temos somente 15%, que está muito abaixo do necessário. Mesmo assim, o governo não entende que dentro do curto prazo será necessário aumentar poupança, o que implica no problema de reduzir consumo”, destacou.

Armínio Fraga defende reforma do Estado

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga deu uma palestra especial durante o evento. Ele lembrou que o Brasil vive uma crise sem precedentes. “Quem ganhar a eleição ano que vem vai encontrar um desafio gigantesco. O quadro é tenebroso. O governo aprovou algumas reformas, mas está longe de serem resolvidos os principais problemas”. Ele defendeu quatro pontos fundamentais para uma transformação. Primeiro: reformas precisam ser feitas para equilibrar a saúde fiscal do Estado. Segundo: o Estado precisa ser respeitado. Além do fator corrupção, deve ser atacada a incompetência do setor público. Terceiro: o Estado precisa ser mais eficaz, ter mais capacidade de entrega das coisas que faz, com transparência. E quarto: o país terá enfrentar uma reforma, que passa por impostos e por avaliar o trabalho e a remuneração dos funcionários públicos. “Será que estabilidade deve ser um direito eterno?”, questionou.

Os desafios do Brasil diante das novas tecnologias e economia digital foram debatidos no painel com Ronaldo Lemos, CEO do Instituto Tecnologia e Sociedade, Marcos Troyjo, diretor do BRICS Lab da Universidade de Columbia, e Patrícia Ellen, da McKinsey Digital Labs. No foco da conversa, áreas com potencial de crescimento empresarial que precisam de mais incentivos públicos. “A área de energia limpa é subexplorada. Porque o Brasil já não é líder? Tem água, vento, sol, tem tudo… Não faz sentido que o país não tenha se posicionado nesse setor”, disse Ronaldo Lemos. A tecnologia, observou Troyjo, está impactando todos os negócios, por isso precisa estar no radar das políticas públicas. “Antigamente você ia a uma agência bancária e tinha 300 pessoas. Hoje, oito ou 10 pessoas cuidam de milhões em investimentos”, exemplificou.

O último painel do evento tratou do impacto da corrupção para o desenvolvimento do país. “O Brasil tem muita corrupção, mas se formos olhar além das manchetes, dá para ver que a casa está passando por uma faxina. E isso é positivo”, lembrou Paul Lagunes, professor adjunto da Universidade de Columbia. Envolvido diretamente nas investigações da operação Lava Jato, Eduardo El Hage, procurador do Ministério Público Federal, salientou que o Brasil está passando por um momento histórico e que o próximo ano deve trazer maiores transformações em função dos inquéritos em curso. Ele destacou a importância dos avanços nos últimos anos. “Nós conseguimos desmantelar uma organização graças a técnicas de investigação e a mudanças na lei que, entre outras coisas, permitiu a delação premiada”, frisou.

O segundo dia do “II Fórum: A Mudança do Papel do Estado – Estratégias para o Crescimento” será realizado nesta sexta-feira em São Paulo.

Por Mauro Graeff Júnior/ Especial Revista Voto

 

Tag:

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Please enter comment.
Please enter your name.
Please enter your email address.
Please enter a valid email address.
Please enter a valid web Url.