Mulheres que Orgulham o Brasil: elas fazem a diferença

A proporção de mulheres em cargos de liderança aumentou nove pontos porcentuais em nove anos na média mundial, passando de 20% em 2011 para 29% em 2020. É o que mostra a pesquisa Women in Business 2020 – do plano de ação à prática, feita anualmente pela consultoria Grant Thornton.

E por que é importante ter mulheres no comando? Para não advogarmos em causa própria, damos a palavra a um homem respeitado: “Sempre precisamos ter mulheres na mesa de decisão. Se sua organização só tem homens que se parecem entre si, está perdendo informações”, afirma o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, no Brasil, em maio de 2019.

O modo feminino de operar tem conquistado as corporações por vários motivos: o mundo hoje exige, mais do que nunca, líderes que saibam aproveitar aptidões diversas e pensar de maneira global, mas sem se distanciar do particular, da atenção com cada colaborador e aos detalhes. “Embora a mulher ainda estude mais, trabalhe mais e receba salários menores, houve uma mudança radical nos últimos dez anos, com mais mulheres assumindo o protagonismo”, diz a pesquisadora Alice Salvo Sosnowski, autora do livro Empreendedorismo para leigos (Alta Books).

Avançamos na direção de construir uma sociedade na qual mulheres e homens compartilhem espaços de poder igualitariamente. Mas a proporção de 29% de líderes mulheres para 71% de homens, como na pesquisa citada, ainda está longe de ser ideal, já que as mulheres formam metade da população. Nesse contexto global, a VOTO decidiu reunir exemplos de mulheres que conquistaram posições por muito tempo ocupadas exclusivamente por homens.

Em parceria com o jornal britânico Financial Times, VOTO lança o projeto Mulheres que Orgulham o Brasil. Vamos homenagear brasileiras referências em suas áreas, no Brasil e também no exterior. Como parte do projeto, haverá neste ano um evento em São Paulo, no Palácio Tangará, e outro em Londres, na sede do Financial Times.

Na edição 146 da Revista VOTO, trouxemos os perfis de cinco das dez homenageadas. São elas: Michelle Bolsonaro, primeira-dama do Brasil; Gabriela Manssur, promotora de Justiça e fundadora do movimento Justiça de Saia; Patricia Ellen, secretária do Desenvolvimento do Estado de São Paulo; Paula Paschoal, CEO do PayPal; e Karina Kufa, advogada especialista em legislação eleitoral.

Além de impactar positivamente o meio no qual atuam, as ações dessas mulheres seguem direcionadas à luta por um país mais justo, próspero e desenvolvido.

Michelle Bolsonaro – Primeira-Dama do Brasil 

Foto: Isac Nóbrega/PR

O Brasil conheceu Michelle Bolsonaro, em rede nacional de TV, quando ela discursou durante  a cerimônia de posse do marido, o presidente Jair Bolsonaro, na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A quebra do protocolo mostrou ao País o tema que é caro à primeira-dama: a inclusão das pessoas com deficiência auditiva.

O ensino de Libras nas escolas públicas está entre as bandeiras defendidas por essa brasileira, natural de Ceilândia, cidade-satélite do Distrito Federal. Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro concluiu seus estudos em escola pública e trabalhou como secretária parlamentar entre 2004 e 2008, na Câmara dos Deputados. De origem nordestina e mãe de uma filha, Letícia, casou-se em 2007 com o então deputado federal Jair Bolsonaro, com quem teve outra filha, Laura.

Evangélica, a primeira-dama integra o Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista, na qual atuava como intérprete de libras nos cultos. Ativista de diversas causas sociais, sua luta é relacionada às pessoas com deficiência.

Em janeiro de 2019, primeiro mês do novo governo, ela protagonizou uma campanha de conscientização sobre doenças raras. Em conjunto com a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, abriu um fórum de discussão sobre o assunto. “Venho até aqui propor um trabalho cada vez mais comprometido e qualificado sobre as doenças raras, a inclusão e a qualidade de vida das pessoas com síndromes e com doenças raras, além das pessoas com surdez e outras deficiências, com quem me identifico, são a minha bandeira. E essa é a minha luta”, disse, na ocasião.

Outras causas defendidas pela primeira-dama são inclusão digital, com apoio a projetos de robótica dirigidos a pessoas com deficiência; conscientização sobre autismo; instauração de políticas de acessibilidade nas empresas; recuperação de dependentes químicos e o incentivo ao voluntariado, por meio do projeto Pátria Voluntária, cuja proposta é que essa atividade não remunerada seja critério de desempate em concursos públicos.

Gabriela Manssur – promotora de Justiça e fundadora do movimento Justiça de Saia

Defender mulheres contra a violência de gênero é o projeto de vida da promotora Gabriela Manssur. Fundadora do movimento Justiça de Saia, entre suas batalhas estão o combate ao feminicídio e a criação de condições para que mais mulheres tenham independência financeira e, assim, conquistem autonomia.
Formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mãe de uma jovem e de dois meninos, Maria Gabriela Prado Manssur mantém no Justiça de Saia programas como o Educa-Ação, voltado a adolescentes, cujo objetivo é levar informações sobre a violência contra a mulher e discussões acerca da Lei Maria da Penha a escolas; além do Menssana, que oferece avaliação psicológica gratuita às mulheres.

Os bons resultados do projeto Tempo de Despertar, que busca a ressocialização do autor de violências contra a mulher, inspiraram até a elaboração de uma lei municipal, já vigente em Taboão da Serra (SP), e projetos de lei nos mesmos moldes em tramitação no Estado de São Paulo e no Senado.

O movimento abrange ainda o Anjos da Violência contra a Mulher, que treina porteiros, zeladores, funcionários do condomínio, síndicos, condôminos e membros de associações, hotéis e flats para orientá-los a como proceder em situações de violências doméstica e familiar contra a mulher; e o Luz Feminina, que se constitui de rodas de conversas sobre relacionamentos abusivos ou violência em espaços religiosos. Ainda tem o Lidera, que incentiva a inclusão e o fortalecimento de mulheres na política e em espaços de poder, decisão e liderança; e o Movimento pela Mulher, que fomenta o esporte (Gabriela pratica a corrida há 20 anos) com foco no resgate da autoestima feminina.

Em seu trabalho no Ministério Público, a promotora comanda o Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (Gevid-MPSP) e ainda integra a direção da Associação Paulista do Ministério Público. O trabalho consistente levou seu nome à lista de finalistas do Prêmio Claudia 2019 na categoria Influenciadora Social. “Eu aprendi a não dizer: ‘Sensação de dever cumprido’. Enquanto mulheres estiverem morrendo, sendo estupradas e sofrendo qualquer tipo de violência, sempre haverá algo a ser feito. Este é o meu comprometimento com a sociedade brasileira: ir além”, afirma a Gabriela.

Patrícia Ellen – Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo 

“Nasci na Vila das Belezas, no distrito do Campo Limpo, na periferia de São Paulo. Vi na minha história e na de meus familiares como os acessos à educação de qualidade e às oportunidades de trabalho podem fazer a diferença na vida de uma pessoa – e, muitas vezes, de toda a sua família”, lembra a secretária de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, que chegou ao cargo a convite do governador João Doria (PSDB).

“Hoje, moro a exatamente 20 quilômetros de distância da casa na qual nasci, e a diferença média da expectativa de vida é de quase 20 anos. O CEP pode determinar o seu futuro, mas acredito que possamos mudar essa realidade, apesar dos desafios. Por isso, aceitei o convite para integrar esta gestão, com uma missão clara: diminuir a desigualdade e gerar oportunidades”, explica a gestora, que também é uma das fundadoras do movimento de renovação política Agora!. Para ela, participar da administração pública é o melhor caminho para trabalhar em prol da melhoria das condições de vida das pessoas.
Formada pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), tem mestrado em Administração Pública pela Harvard Kennedy School e MBA pela escola de negócios INSEAD. Patricia foi presidente da Optum no Brasil, empresa de tecnologia em saúde do grupo United Health, na qual trabalhou com inovação em saúde, e sócia da consultoria empresarial McKinsey & Company. Chegou a ser membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.
Em 2016, foi nomeada Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial. E ainda dá aulas de gestão pública no Centro de Liderança Pública (CLP), organização que visa a formar e qualificar gestores públicos.

A secretária declara que o norte de seu trabalho é direcionado a criar empregos, desenvolver o empreendedorismo e melhorar a renda na capital paulista. “Quando falamos em números aqui, em atração de investimentos, quando pensamos em cada política pública que criamos, não são apenas números, são pessoas. Meritocracia pressupõe igualdade de oportunidades”.

Paula Paschoal – Diretora-geral do PayPal Brasil

“Sou branca, nunca passei fome, tenho pais casados e sempre estudei nas melhores escolas. São realmente preciosos privilégios. Vejo muita gente com a mesma dedicação que eu para quem as chances não surgem, as portas não se abrem. Tenho me esforçado em entender como é possível levar às mulheres oportunidades semelhantes às que eu tive. Considero essa ação fundamental para a minha carreira, pois é o legado que quero deixar.”

A declaração é de Paula Paschoal, diretora geral da Pay Pal Brasil, que batalha todos os dias para mudar essa realidade, por entender que a oferta de oportunidades não é igual para todos. A julgar pelos números da empresa, seu empenho pela equidade dá resultado. Segundo ela, 54% dos cargos de liderança na PayPal são ocupados por mulheres. “Estamos entre as exceções do mercado”, orgulha-se, ao comparar: “A quantidade de mulheres líderes no planeta não chega a 12%; no Brasil e nos Estados Unidos, a situação é ainda pior.”

Ela afirma ainda que o fato de ter dois filhos a ajudou na carreira: “Foi tão positivo que engravidei de novo menos de um ano depois do primeiro e, quando voltei da segunda licença-maternidade, fui promovida. Em junho de 2017, aos 36 anos, me tornei gerente geral.”
Paulista nascida em Araraquara, ela é formada (Faap) e pós-graduada (FGV) em Administração de Empresas. Antes de entrar na PayPal, foi responsável pelas operações do site da livraria Fnac no Brasil, trabalhou no Hotel Transamérica, na Câmara Americana de Comércio (Amcham) de São Paulo e na empresa de tecnologia AMD.

A experiência no varejo foi decisiva para ser contratada pela Pay Pal, em 2010, como chefe de Desenvolvimento de Negócios e Serviços Comerciais: “No decorrer da carreira, fui preparada para assumir o cargo que ocupo hoje. Entretanto, a evolução ocorreu subindo um degrau de cada vez”, diz ela, que assumiu o posto de diretora-geral da corporação em 2017. E lembra que a ascensão profissional motivou uma transformação: “Ter o nome impresso no contrato social trouxe um nível de responsabilidade que me tirou da zona de conforto, gerou exposição junto à imprensa e aumentou minha presença em eventos pelo Brasil”, relata Paula, “então, a partir daí, passei a refletir sobre meu papel no mundo.”

Karina Kufa – advogada especialista em legislação eleitoral

Especializada em legislação eleitoral, Karina de Paula Kufa é advogada do presidente Jair Bolsonaro, tesoureira da organização política Aliança pelo Brasil e presidente da comissão de compliance eleitoral e partidária do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Idealizadora da Eleita, plataforma suprapartidária de candidaturas femininas, uma de suas linhas de atuação é a defesa de que, nas eleições, os votos recebidos pelo “puxador” (o candidato ao Legislativo mais votado no partido) sejam destinados a alavancar eleições de mulheres.

Ela afirma que sua opção por integrar o governo desperta reações adversas. “O empoderamento da mulher encontra barreiras nos próprios movimentos que o defendem. A ideia do ‘deixa ela ser o que quiser’ só é pertinente quando voltada às pautas, ideologias e personagens que lhes agradam. Todos os mantras do feminismo caíram por terra quando a comunidade se voltou contra mim (e contra todas as outras mulheres que apoiam Bolsonaro) por ser a primeira mulher a advogar para um presidente da República do Brasil. A realidade se distancia do discurso toda vez que ouço de outra mulher: ‘você não deveria estar aí’. Ora, não seria isso assumir o papel do patriarcado que elas tanto combatem?”, questiona. “Criticam tanto o presidente, acusando-o de misoginia, mas não toleram mulheres ocupando cargos em secretarias e ministérios em um governo que elas não aceitam, mas que está – sim – batalhando em favor da mulher.”

Entre os assuntos sobre os quais é convidada a dar palestras ou escrever artigos estão o financiamento de partidos, campanhas eleitorais e o uso do dinheiro público e a proporcionalidade de recursos para candidaturas femininas. “É fácil dizer que se é feminista como sinônimo de defender e apoiar mulheres, apenas adotando linguagem e aparência feminista, mas se distanciando da coerência e usando o rótulo de defensora de forma conveniente e seletiva”, afirma Karina.

A advogada também costuma discorrer a respeito de aspectos polêmicos relacionados às ações investigativas da justiça eleitoral; métodos de ressarcimento dos custos das eleições; improbidade administrativa e lei da ficha limpa. E segue coerente e segura com sua escolha. “Um recado que eu dou a quem não gosta de mim por ser advogada de quem não queriam no poder máximo: meu corpo, minha vida, minhas regras.”

 

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