Na cabeça dos presidenciáveis

Consolidar propostas para superar a instabilidade e retomar a confiança no cenário econômico serão alguns dos principais desafios dos candidatos à presidência da República. Para isso, cada um conta com um time de conselheiros.

A política econômica figura desde sempre no centro do debate eleitoral. Em 2018, a pauta novamente estará no foco das discussões. O próximo presidente da República terá pela frente a árdua missão de acalmar as incertezas do mercado, estabilizar uma economia oscilante e enfrentar uma taxa de desemprego ainda elevada. O “pacote” inclui ainda um contexto político desgastado e turbulento, a continuidade ou não da agenda de reformas e a cada vez mais presente discussão sobre o tamanho do Estado e o desequilíbrio das contas públicas.

A recente história política do país comprova a importância das estratégias traçadas na economia. Levar em consideração os erros e acertos do passado é fundamental para a construção das propostas dos presidenciáveis. Os últimos governos construíram marcas e deixaram lições importantes.

Fernando Henrique Cardoso, que comandou o país entre 1995 e 2002, é lembrado pela conquista da estabilidade econômica e pelo controle da inflação. O sucesso do Plano Real, trazido de sua passagem como ministro da Fazenda de Itamar Franco, e a política de privatização de empresas estatais são alguns exemplos de iniciativas que levaram a economia brasileira a um novo patamar. Homem de confiança de FHC, Pedro Malan esteve à frente da Fazenda ao longo dos dois mandatos.

Em oito anos de governo, de 2003 a 2010, Lula alcançou índices históricos de crescimento econômico e redução da pobreza. As medidas adotadas por Henrique Meirelles no comando do Banco Central durante a crise de 2008 acalmaram o mercado. Para afastar prejuízos causados pela crise internacional, o governo optou por incentivar determinados setores produtivos, com os objetivos de aumentar o consumo interno e fazer o PIB crescer.

Sucessora de Lula, Dilma Rousseff manteve e ampliou o plano de incentivos entre 2011 e 2016 – ano que sofreu o impeachment. O conjunto de ações que ficou conhecido como “Nova Matriz Econômica” foi a marca do seu primeiro mandato. Na prática, o governo admitia uma leve inflação e algumas perdas nas contas públicas em nome do estímulo à economia. A ideia era diminuir o custo de produção e aumentar a competitividade e o consumo interno. Com isso, seria possível aumentar a arrecadação de impostos e apostar nesse incremento como reforço aos cofres públicos.

Os resultados alcançados foram tímidos durante o período de incentivo e desapareceram após a reeleição de Dilma, quando decidiu mudar os rumos da política econômica para uma linha de ajuste fiscal. A partir de 2015, o Brasil registrou quedas profundas e consecutivas no PIB e crescimento do desemprego. Veio a pior crise da história do país. De lá para cá, além de todas as instabilidades do ambiente político e econômico, a nação ainda amarga um profundo descompasso orçamentário com reflexos em praticamente todos os estados e municípios.

As próximas linhas da história

Propor soluções duradouras, plausíveis e de implementação urgente para o desequilíbrio na economia deve estar no topo da lista de tarefas dos candidatos à presidência da República. Nos bastidores das campanhas e na formatação dos planos de governo, o time de especialistas já está escalado e trabalhando.

Os gurus da economia de Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin – candidatos que aparecem nas quatro primeiras posições nas pesquisas – trazem na bagagem grande qualificação técnica. E expõem posições claras sobre temas essenciais e polêmicos, como o papel do Estado, a relação com o mercado, as privatizações e as reformas tributária e da Previdência.

Confira, nas próximas páginas, quais são os nomes já anunciados nas equipes de campanha e o que pensam os principais conselheiros econômicos dos presidenciáveis:

CIRO GOMES (PDT)

Em março, Ciro Gomes confirmou os três principais nomes da equipe responsável pela elaboração de seu plano de governo. O economista Nelson Marconi é a referência para Ciro e coordena o programa de governo ao lado de Mangabeira Unger (ex-ministro de Lula e Dilma) e Mauro Benevides Filho (ex-secretário estadual do Ceará).

Nelson Marconi

 

Quem é?

É formado pela PUC-SP, com mestrado e doutorado na Fundação Getúlio Vargas, onde é professor. Da vertente desenvolvimentista, é um dos principais nomes da Associação Keynesiana Brasileira, doutrina que prega a necessidade de o Estado ser o indutor da economia. Coordenou a graduação da Escola de Economia de São Paulo e o Centro de Pesquisas da Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento. Tem experiência nas áreas de economia e gestão pública, com atuação também em temas como desindustrialização, economia do setor público, salários e empregos no setor público e mercado de trabalho.

O que pensa?

Marconi sinaliza que um eventual governo Ciro Gomes não abriria mão do equilíbrio nas contas públicas. Em entrevistas, costuma destacar sua posição de que o Estado e o mercado se complementam. Apesar de defender o papel estatal, acredita que é a iniciativa privada que traz ganhos de eficiência à economia. Entende as concessões como alternativas para a infraestrutura, mas é contra privatizações em áreas consideradas estratégicas, como energia e petróleo. Áreas como óleo e gás, saúde, agronegócio e defesa devem ser prioridade no plano de governo.

O economista também enxerga a necessidade de priorizar o desenvolvimento da indústria e dos serviços e setores relacionados que geram inovação, como pesquisa, engenharia, automação e design. Para ele, ajudar empresas nacionais não significa fechar mercado, mas incentivar a inserção e a competitividade delas no exterior. Nos planos de Marconi, as reformas Fiscal, Previdenciária e Tributária também são consideradas essenciais. Na área de impostos, defende maior carga sobre a renda, desonerando a produção e elevando a tributação sobre herança, lucros e dividendos. Na Previdência, aposta na idade mínima e na criação de regime de capitalização em que o beneficiário faz a própria poupança.

GERALDO ALCKMIN (PSDB)

A equipe de campanha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin é a que conta com o maior número de nomes confirmados, entre eles o embaixador Rubens Barbosa, para a política externa, o médico Roberto Kalil na saúde, o general João Camilo Pires de Campos na segurança e a socióloga Maria Helena Guimarães de Castro para a educação. Como conselheiros na economia, o tucano escolheu a coordenação de Pérsio Arida, que atua em conjunto com Edmar Bacha (um dos pais do Plano Real) e José Roberto Mendonça de Barros (secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo FHC).

Persio Arida

Quem é?

Formado em economia na USP em 1975, concluiu doutorado no MIT, nos Estados Unidos, em 1992. Foi professor em universidades brasileiras e americanas. Comandou o BNDES (1993 a 1994) e o Banco Central (1995). Circulando com desenvoltura nos meios político, acadêmico e empresarial, integrou a equipe que implantou o malsucedido Plano Cruzado, em 1986. Oito anos depois, fez parte do grupo de economistas que montou o Plano Real. Também atuou no setor privado, sobretudo na área financeira.

 O que pensa?

Arida defende as privatizações “factíveis”. Adepto da corrente liberal, vem dando pistas de qual deve ser o norte do programa econômico de Alckmin. Em entrevista ao Estadão, chegou a afirmar que a campanha de Geraldo Alckmin buscará o caminho do “centro democrático” tanto no campo econômico quanto no dos costumes. Avalia que um dos principais pontos é avançar nas privatizações, como a da Eletrobras, mas atenta que não é possível implantar um vasto plano de desestatização e que de nada adianta substituir monopólio estatal por outro privado.

Em relação ao crescimento da economia, entende que este deveria ocorrer principalmente a partir do capital privado. Ao governo, caberia apenas criar os meios: garantir segurança jurídica a empreendedores (marcos regulatórios para setores como infraestrutura); avançar em privatizações; promover a desburocratização; fazer as reformas Tributária e Previdenciária; abrir a economia; evitar o controle de preços; garantir a concorrência. Embora seja contrário ao aumento da carga tributária, declara-se favorável à busca de um sistema socialmente mais justo.

JAIR BOLSONARO (PSL)

Na equipe do candidato Jair Bolsonaro, o economista Paulo Guedes é o único nome anunciado.

 Paulo Guedes

Quem é?

É economista com PhD pela Universidade de Chicago (EUA), conhecida pelo viés liberal. Foi professor e fundador do grupo financeiro BR Investimentos, depois absorvido pela Bozano, da qual passou a ser sócio e integrante dos comitês estratégico e executivo. É ainda um dos criadores do Banco Pactual, CEO e sócio majoritário do Ibmec, hoje Insper, e membro de conselhos de administração de empresas.

O que pensa?

O conselheiro de Bolsonaro na área econômica é defensor das privatizações como forma de quitar parte da dívida pública brasileira e de um grande pacto federativo para contemplar estados e municípios com os recursos hoje destinados ao pagamento de juros. É favorável a agenda de reformas, principalmente a da Previdência, que considera uma bomba-relógio.

Em recente entrevista à Reuters, falou sobre as possíveis divergências ideológicas com o candidato Bolsonaro e suas ideias nacionalistas e estatizantes. Ele assegurou que muitos políticos e economistas já mudaram de opinião sem serem encarados com desconfiança. Crítico dos governos socialdemocratas, entende que estes costumam aumentar gastos, até serem chamados à realidade, e aparelham o Estado para a implementação de esquemas de corrupção.

Guedes prega a adoção de um sistema de capitalização para os novos segurados do INSS, com cada um recebendo no futuro o valor de suas contribuições, mais rendimentos. É adepto da simplificação tributária e favorável à privatização de estatais, como Petrobras e Correios, e à concessão de serviços públicos, com recursos direcionados para a redução da dívida pública. O cenário ideal, para ele, seria o corte drástico no número de ministérios, restando apenas de 10 a 15 pastas.

Guedes acredita que o ajuste fiscal contribuiria para uma queda estrutural do juro e do gasto com a dívida, retomando a capacidade da União de investir, tendo como foco a área social. Ele se diz favorável à manutenção do Bolsa Família e contrário ao subsídios a grandes empresas.

MARINA SILVA (REDE)

O núcleo de campanha da candidata da Rede Sustentabilidade conta com a colaboração do ambientalista João Paulo Capobianco, coordenador do programa de governo, e do economista e professor Ricardo Paes de Barros na área social. Como conselheiro principal, Eduardo Gianetti conduz as diretrizes para a área econômica com o apoio de André Lara Rezende (um dos pais do Plano Real) e Samir Cury (da Fundação Getúlio Vargas).

Eduardo Giannetti da Fonseca

Quem é?

É formado em Economia e Filosofia pela USP e tem doutorado pela Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde também foi professor. Atualmente faz parte do quadro do Insper. É autor de diversas obras, como Trópicos utópicos e As partes e o todo. Também contribuiu na elaboração dos planos de governo de Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 e 2014.

O que pensa?

O principal conselheiro econômico de Marina acredita que o Brasil precisa crescer sobre bases sólidas. Defensor da Reforma da Previdência, acredita que se nada for feito com urgência, a situação será insolúvel.

Nas entrevistas que tem concedido, apoia a necessidade de se buscar fórmulas para que o país chegue a um crescimento saudável e sustentável, com redução das desigualdades. Gianetti pondera que, na sua opinião, seria melhor ver a economia avançar de forma mais lenta a passar por grandes surtos que acabam em crise.

O economista também já se mostrou favorável às privatizações sob o argumento de que a gestão privada é mais eficiente que a pública, mas critica a venda de estatais pensada somente como alternativa para cobrir rombos fiscais. Analisando a história recente, o conselheiro de Marina entende ser necessário apostar na consolidação de uma forte poupança interna e de capital humano. Dessa forma, evitaria grandes sobressaltos, como os registrados no governo Dilma.Para ele, tentou-se artificialmente manter a marcha acelerada da economia ao custo de gastos públicos e de empréstimos subsidiados do BNDES.

A união de Marina Silva com o time de economistas pode ser um sinal ao mercado e ao público de que o plano de governo da candidata irá abrir espaço a ideias semelhantes às defendidas por partidos adversários.

 

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