Novo presidente terá de reiniciar inserção global do Brasil

Trabalho, Previdência, tributos, sistema político. São para lá de conhecidas as muitas reformas do tipo estrutural que o Brasil tem de adotar para harmonizar suas capacidades internacionais de competir. Falta incluir nesse mosaico modernizador a política externa comercial.

Durante toda a história brasileira, desde que por estas terras aportou Cabral até hoje, com exceção daqueles momentos de monocultura da exportação, com ciclo do café, borracha e cana-de-açúcar, raramente tivemos mais do que 25% do nosso PIB resultante da soma de importações e exportações.

Pensemos em alguns milagres econômicos recentes: Coreia do Sul, Hong Kong, China, Chile, Espanha depois de 1982, Japão e Alemanha depois da Segunda Guerra. O que há de comum entre esses países? Alguns são asiáticos, outros europeus. Alguns são democráticos, outros têm regime político centralizado. Uma das poucas características em comum nesses diferentes experimentos é que todos dispõem elevado percentual de comércio exterior nas suas economias.

Se somarmos tudo o que a Coreia do Sul importa e exporta, ao longo desse processo dramático de ascensão, chega-se a 65% do PIB. Se olharmos para a China, perceberemos uma fatia muito elevada do PIB. Hoje, com a conversão do modelo a um formato menos dependente de exportações, o patamar está um pouco abaixo de 50%. A Alemanha era a maior exportadora do mundo até 2009.

Esse não é, historicamente, o caso do Brasil. E isso não foi alterado nos governos de Lula e Dilma. Numa palavra: país algum nos últimos 70 anos conseguiu mudar de andar, ter um “upgrade” sem contar com parcela substantiva – de 35%, 40%, 50%, 70% do seu PIB – relacionada ao comércio exterior. Nada em relação a isso, apesar de todo ativismo terceiro-mundista, mudou nos governos do PT. O Brasil representa apenas 1% de tudo aquilo que o mundo importa e exporta.

Houve um ambiente macroeconômico de algum crescimento de 2003 a 2010. Mas o Brasil deixou de fazer movimentos importantes nesse momento de bonança, e tal expansão teve pouco que ver com política externa. Descobrimos reservas de petróleo em águas profundas e houve aumento dos preços das commodities – principalmente nas quais temos vantagens comparativas, como soja e minério de ferro.

A deterioração do modelo de economia política que o Brasil abraçou neste período – substituições de importações, campeãs nacionais etc. – levou ao desastre econômico que a gente conhece. Uma espécie de bancarrota.

O Brasil não construiu uma estratégia de inserção comercial internacional. Não fizemos acordos com os grandes mercados compradores. Não abrimos novas frentes. Não realizamos esforços de promoção comercial, com escritórios em cidades globais como Londres, Paris e Cingapura. Sequer nos concentramos em dar mais força à inteligência comercial. Em vez disso, fomos abrir embaixadas em uma dezena de países africanos, gastar tempo com a criação de mecanismos regionais que pouco têm a ver com a prosperidade brasileira, como a Unasul.

Outra coisa: no Brasil, confundimos política externa, diplomacia e inserção internacional. Não são a mesma coisa. Diplomacia é atividade entre Estados, restrita a chancelarias. Para a política externa, é preciso agregar outros elementos, como é o caso da política de defesa. E inserção internacional significa promover a sintonia fina entre atores do setor privado, governo e diplomacia para aumentar a riqueza de um determinado país.

É isso que chineses, espanhóis, chilenos, sul-coreanos conseguiram, e nós não realizamos. Geralmente se fala no Brasil da importância das reformas estruturais — e isso é fundamental para o futuro do país. Nesse quadro, a reforma da política externa no campo do comércio exterior também deveria ser compreendida como estrutural.

A partir de 1º de janeiro de 2019, o novo presidente terá de apertar o botão de “reiniciar” a inserção global do Brasil.

Por Marcos Troyjo

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