O mundo vive uma Guerra Fria 2.0?
Após a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria em 1989, a vitória do liberalismo econômico nos trouxe o processo de globalização, quando as trocas comerciais aproximaram as sociedades e trouxeram o desenvolvimento tecnológico. No entanto, esse fenômeno gerou instabilidades sociais em algumas partes do mundo, proveniente da insegurança e da desindustrialização de alguns países ocidentais.
Na opinião do historiador Niall Ferguson, o esgotamento da globalização está gerando uma espécie de Guerra Fria 2.0, no qual a cooperação global se transformou em uma competição global, resultando no realinhamento geopolítico. “Acho que estamos na segunda Guerra Fria. A República Popular da China tomou o lugar da União Soviética, os Estados Unidos ainda são a superpotência do mundo ocidental”, afirma Ferguson.
Na opinião do historiador escocês, esse novo conflito global possui quatro naturezas distintas. A primeira delas é a ideológica, representada pelas diferenças na visão dos países a respeito da democracia. “ O presidente chinês Xi Jinping deixa bem claro que é contra a democracia, é contra o estado de direito e é contra a liberdade individual”, explica.
Na sequência, Ferguson coloca que a nova Guerra Fria também é de natureza tecnológica, representada na disputa pela liderança dos novos recursos tecnológicos, como a inteligência artificial e a computação quântica. Por fim, o autor coloca as naturezas geopolítica e econômica. “A China é uma economia muito maior do que a União Soviética jamais foi”, salienta.
Na percepção de Marcos Troyjo, cientista social e ex-presidente do Banco dos BRICS, o atual momento possui uma grande diferença em relação à Guerra Fria. “Em 1979, as trocas comerciais entre Estados Unidos e União Soviética alcançaram o seu maior número, chegando a cerca de US$2 bilhões. Hoje, o comércio entre China e Estados Unidos é de US$2 bilhões por dia. Ou seja, há um grau de interdependência que não havia”, explica.
Para Troyjo, estamos passando por um momento de recessão na globalização, em que há uma reorientação nos polos industriais que resulta na emergência de novos polos, como o Vietnã, o México, a Índia e o Brasil. “Se o Brasil continuar o seu processo de reformas estruturais, temos uma combinação entre tamanho do mercado interno e vantagens comparativas em áreas como produção de alimentos e energia. Esse cenário traz boas oportunidades para o Brasil”,
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