Onyx Lorenzoni consegue maior vitória política do governo Bolsonaro

A maioria dos senadores da nova safra falou durante o fim de semana sobre política limpa, pressão popular, clamor por transparência e voto aberto.

Quando o Senado começou uma de suas votações para presidente, por volta de 15h45 de sábado (2.fev.2019), o gramado em frente ao Congresso era 1 deserto de almas. O povo não estava lá. Menos de 10 gatos pingados gritavam “fora, Renan!” num canto da paisagem. Bem no fundo, 1 pixuleco inflável reinava sozinho.

A pressão popular não vinha da vida real. O que houve foi 1 enorme “buzz” nas redes sociais.

Renan Calheiros (MDB-AL) foi alvo 892.862 tweets em 3 dias —5ª feira, 6ª feira e sábado (de 31 de janeiro a 2 de fevereiro), segundo a consultoria digital Bites. O conteúdo desses posts foi fortemente negativo para o político alagoano.

No Brasil não existe métrica confiável a respeito, mas o cenário tende a ser quase igual ao dos EUA. Em 2012, metade dos adolescentes norte-americanos dizia que o modo favorito de se encontrar com amigos era pessoalmente. Hoje, esse número caiu para 32%, segundo pesquisa da Common Sense Media.

Em suma, cada vez menos haverá manifestações físicas nas ruas. E cada vez mais o teatro de operações será no mundo virtual.

Para o bem e para o mal, os políticos hoje ficam conectados a bilhões de posts no Twitter, curtidas no Facebook e fotos no Instagram. Fazem isso porque depois as opiniões no mundo digital viram realidade nas urnas em períodos eleitorais.

Eis 1 exemplo de novidade no processo legislativo: o jornalista de formação e agora senador Jorge Kajuru (PSB-GO) fez uma enquete em sua página no Facebook e em outras dezenas de perfis ligados a ele. Pediu aos leitores do “feice” que sugerissem em quem ele deveria votar. Kajuru relata ao Poder360 que teve 186.315 respostas. Em 77% dos casos, queriam que ele votasse em Davi Alcolumbre (DEM-AP) para comandar a casa. Assim foi feito.

As formas de intermediação na política mudaram.

Ainda que Renan Calheiros tenha recentemente publicado 1 livro (impresso!) com o título de “Democracia Digital”, ele parece não ter captado totalmente o Zeitgeist, o espírito do tempo na política nacional.

O senador alagoano transformou-se no epítome do que pode haver de ruim na política. Amalgamou para si esse sentimento dentro e fora do Congresso, sobretudo entre deputados e senadores novatos. Tornou-se uma espécie de “Geni do Senado”. Gritar “fora, Renan!” virou sinônimo de “fora, velha política!”.

Falar de obras feitas é fácil, mas Renan poderia ter trabalhado para escolher alguém do seu grupo político como candidato ou candidata a presidente do Senado. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) poderia ter oxigenado o processo. Renan foi puro gás carbônico. Sua toxidade o expeliu para fora da disputa.

Como se sabe, o homem é ele e suas circunstâncias. Renan acreditou no rito tradicional, no respeito ao Regimento Interno, no que determina a Constituição e em acordos firmados com base na micropolítica congressual.

O voto para presidente do Senado deveria ter sido secreto. O Supremo Tribunal Federal, por meio de seu ministro-presidente, Dias Toffoli, reafirmou esse ditame na madrugada de 6ª feira para sábado.

Ocorre que em momentos de disrupção política sempre se abrem novas veredas.

Senadora Kátia Abreu tirou da Mesa a pasta com o roteiro de condução da sessão do senador Davi Alcolumbre que presidia a votação para escolha do novo presidente do Senado.

O voto tinha de ser secreto? Muito bem. O Senado brasileiro ofereceu ao mundo uma inovação: o “voto semiaberto”. Dezenas de senadores mostraram suas cédulas preenchidas para as câmeras antes de depositá-las na urna. Inclusive Flávio Bolsonaro, o filho do presidente da República.

Para Renan, que gosta do futebol, o voto aberto de Flávio Bolsonaro foi como 1 carrinho por trás que quebrou suas pernas. Nesse momento, com a tíbia fraturada, as fichas caíram para o senador do MDB de Alagoas. Renan desistiu do processo. Foi embora.

“Nessa eleição o Renan perdeu e ninguém ganhou”, diz o senador Cid Gomes (PDT-CE), ex-governador do Ceará e político experiente. É uma possível síntese, mas 1 pouco exagerada. Para cada perdedor há 1 vencedor do outro lado.

Não haveria derrota de Renan sem a existência de uma candidatura competitiva e com ousadia política como acabou se tornando a postulação de Davi Alcolumbre.

ONYX LORENZONI VENCEU

Até na 6ª feira (1º.fev.2019), Onyx Lorenzoni era tido com inábil politicamente. Era assim que aparecia na mídia.

Pois o ministro da Casa Civil enxergou potencial num até então desconhecido senador pelo Amapá em meio de mandato, Davi Alcolumbre, de apenas 41 anos.

Onyx apostou alto. Seu ganho foi proporcional ao tamanho do risco. A sorte muitas vezes favorece quem é arrojado.

O ministro político de Jair Bolsonaro bancou há 3 meses a candidatura de Davi Alcolumbre. O chefe da Casa Civil é o maior vencedor dentro do Poder Executivo após o êxito no Senado.

Neste ponto da análise vale lembrar: Onyx foi também o único político no Democratas que há quase 2 anos identificou em Jair Bolsonaro, até então 1 deputado federal do baixo clero, o nome para conquistar o Planalto.

Para resumir: Onyx acertou sobre quem seria presidente da República e vaticinou quem viria a ganhar o comando do Senado. Não é pouca coisa.

É claro que Onyx não teve o mesmo sucesso na Câmara. Fez carga em alguns momentos contra a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Rodrigo se reelegeu com uma vitória maiúscula para ocupar pela 3ª vez consecutiva a presidência da Câmara.

Ocorre que no caso da Câmara o próprio Jair Bolsonaro já havia feito um movimento de aproximação com Rodrigo Maia, que também tem excelente relação com o ministro da Economia, Paulo Guedes. A relação com o Planalto está pacificada.

Além do mais, na fartura, tudo acaba se resolvendo.

Na noite de 2 de fevereiro de 2019, todos se encontraram e confraternizaram na residência oficial da presidência do Senado. O clima já está mais ameno entre Rodrigo Maia, Onyx Lorenzoni e Davi Alcolumbre. Faltam ainda serem acertados os ponteiros com outras duas estrelas do DEM, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o prefeito de Salvador, ACM Neto.

Análise de Fernando Rodrigues/Poder360

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