Opinião: O bolsonarismo no whatsapp

(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

*Por Paulo G. M. de Moura 

No último dia 25, a BBCNews publicou em seu site uma matéria sobre a reação dos seguidores do presidente Bolsonaro nos grupos de Whatsapp  à divulgação do vídeo da reunião presidencial que a mídia vinha antecipando falsamente como sendo a “bala de prata” que desencadearia o impeachment do presidente. A matéria é um tanto quanto enviesada, mas traz informações interessantes para a análise do fato como fenômeno de comportamento político, não obstante à ótica da edição.

Por que o comportamento dos bolsonaristas nas redes sociais é importante? Porque, com as mídias sociais, a lógica da luta política e das campanhas eleitorais mudou. No modelo analógico antigo, os marketeiros usavam a TV para expor um conteúdo massivo e influenciar os eleitores como se boiada fossem. No modelo digital, que tem como base a interação, líderes alimentam influenciadores com informações. Eles, por sua vez, levam as mensagens para as mídias sociais, contagiando extratos menos politizados e menos mobilizados da sociedade.

Bolsonaro ganhou a eleição assim, e usa essa técnica no estado da arte. O ativismo bolsonarista difundiu os conteúdos que o presidente gerava e agregou ao seu exército de seguidores e produtores autônomos de conteúdos os votos dos conservadores, dos liberais, dos lavajatistas e dos anti-petistas, e venceu a eleição derrotando não apenas o candidato do PT, mas todo o establishment corrupto e a mídia tradicional que dele faz parte. Depois da posse do presidente, a mídia tradicional retomou a oposição sob o protagonismo mais agressivo da Rede Globo. Mas, gradativamente, todas as editorias foram aumentando o tom contra sob influência do jornalismo militante.

As pesquisas e relatórios de métricas digitais mostram que uma parcela dos eleitores do presidente está desaprovando o governo. A coisa ficou mais séria com a pandemia, pois a mídia e os inimigos políticos do presidente unificaram o discurso e passaram a ocupar 100% do noticiário com ataques diários e sistemáticos ao governo.

Não obstante o bombardeio jornalístico diário, esses mesmos relatórios de mídias sociais e pesquisas mostram que o núcleo duro da base de apoio de Bolsonaro segue firme na luta, como um boxeador que, encurralado no canto do ringue vai se esquivando, resistindo, se defendendo, e dando golpes no rim e no fígado do adversário, cansando o adversário para contra-atacar.

E quando é que um boxeador consegue reagir? Quando o adversário comete um erro e deixa a guarda aberta para o contragolpe.

A divulgação do vídeo da reunião presidencial, que a mídia e a oposição exaltavam como sendo a “bala de prata” que levaria ao impeachment do presidente, ao se tornar pública, causou exatamente o efeito contrário: comprovou que o presidente é inocente das acusações que lhe são imputadas e mostrou-o como um líder autêntico, conectado com o povo, e seguido por ministros focados em cumprir os compromissos da agenda do governo eleito.

E o que mostra a matéria da BBC News ? Em síntese, mostra que houve uma reação eufórica dos seguidores do presidente e uma forte contraofensiva nas mídias sociais à avalanche de conteúdos negativos que ocupavam 99% do noticiário desde o início da pandemia.

No contexto anterior a esse fato, como mostrei na figura de linguagem do boxeador sob ataque, esse fato se equivale ao erro do adversário que permitiu o contragolpe. A tropa bolsonarista se reagrupou, ganhou moral e foi para a ofensiva. Estamos diante de um teste real de forças entre o poder de fogo da mídia tradicional, unificada contra o presidente, e a força do exército bolsonarista nas mídias sociais, que na eleição usou todo seu poder de fogo e venceu.
Sob fogo cerrado a mídia tradicional, no entanto. desde a campanha, dizem os analistas de mídias digitais entrevistados pela BBCNews, os grupos bolsonaristas no WhatsApp diminuíram de tamanho e, as trocas de mensagens, de intensidade.

Com a saída de Moro do governo, os grupos perderam usuários mais ligados ao ex-juiz e ao Lavajatismo e se radicalizaram. Na época da saída de Moro, observaram que houve um aumento de 15,6% no êxodo de usuários dos grupos bolsonaristas – a média semanal normal seria de 166 usuários abandonando os grupos, considerando uma amostra de 40 acompanhados pelos pesquisadores. Depois do fato, “os grupos se tornaram mais coesos, mais homogêneos, e provavelmente mais radicais”.

Importante ressaltar que esse tipo de relatório não se equivale a pesquisas de opinião. Ele é feito a partir de softwares que rastreiam, com ferramentas digitais, o comportamento das pessoas nas mídias sociais. Não se trata de amostragens aleatórias de uma população respondendo questionários de pesquisas. Faz sentido, portanto, que o fenômeno registrado tenha ocorrido, e minha observação qualitativa dentro desses grupos que isso que foi constatado tenha acontecido. Para o presidente, para quem cuida da sua comunicação, e para seus seguidores e influenciadores digitais, fica o alerta: será necessário empenhar esforços para recuperar apoio ao governo, para que o presidente volte a ostentar índices de aprovação superiores aos 30%, como fazia no primeiro ano de mandato.

*Paulo G. M. de Moura é Cientista Político e colunista da Revista VOTO

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