Opinião: Se o Datafolha diz, está dito

*Paulo G. M. de Moura – Cientista Político

O Datafolha está entre os institutos de pesquisa mais controvertidos e é alvo de fortes ataques do bolsonarismo. Logo, se Bolsonaro entrou em rota de colisão com Moro, cujos índices de aprovação superam em muito a aprovação do presidente, e se o ex-juiz desembarcou do governo atirando, a expectativa seria a de que isso causasse impacto negativo na popularidade de Bolsonaro. Especialmente depois de o presidente ter colidido também com seu ex-ministro da Saúde, cujos índices de aprovação eram, igualmente, mais que o dobro dos seus.
Pois aconteceu exatamente o contrário: o Datafolha de 27/4 mostrou que a aprovação do presidente subiu de 30% para 33%, dentro da margem de erro de 3%.

Segundo um relatório de mídias sociais da consultoria Bites, no intervalo entre 11:00 (coletiva de Moro) e 17:00 (pronunciamento do presidente), Bolsonaro, no dia em que Moro se demitiu, sangrou apoios nas redes ao mesmo tempo em que Moro crescia. No entanto, uma análise qualitativa das postagens nas redes bolsonaristas mostrava o presidente se recuperando e Moro se deteriorando logo após a fala de Bolsonaro. Hoje (28/4), o ex-ministro da Saúde desapareceu e foi esquecido. Moro e a deputada Joice Hasselmann, que junto com o MBL entrou com pedido de impeachment, são alvos de duros ataques.

A crise com Moro substituiu o Covid19 nas manchetes. O fim das coletivas diárias do ministério da Saúde ajudou e, justamente no momento em que a pandemia atinge seus números mais altos, a desobediência civil à quarentena vai mostrando que o povo cansou da overdose de notícias negativas e vai retomando a vida normal apesar das recomendações em contrário.

O presidente é criticado em função da escolha dos substitutos para o comando da PF, da AGU e para o cargo de Moro, mas o fato é que nos casos da AGU e do Ministério da Justiça, o governo agradou o STF ao mesmo tempo que opera, com aparente eficácia a busca de apoios no Congresso.

Os defensores do impeachment de Bolsonaro avançaram algumas casas com a munição recebida de Moro, mas a observação dos fatos sugere que Bolsonaro venceu. O presidente preserva intacta sua sólida e ativa rede de apoiadores em patamares que desencorajam seu impeachment; operou lances de alto risco, mas desalojou do governo duas peças incômodas; construiu pontes com o Congresso; abriu portas no STF e colocou-se em condição de retomar a agenda das reformas (espera-se).

Já Moro, tão frio e calculista como juiz da Lava Jato, parece ter calculado mal seu desembarque do governo. O ex-juiz, que já tinha inimigos no STF, no Centrão e na esquerda, acaba de queimar seu filme com a direita. Ao entregar para a Globo conversas privadas com sua afiliada de casamento e com o presidente, revelou-se inconfiável. Difícil imaginar que alguém no sistema político o quer por perto. Difícil imaginar, também, que o presidente Bolsonaro, antes de patrocinar gestos tão ousados, não estivesse seguro do que fazia.

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  1. Albertina F.martins

    Sou e vou Ser sempre Bolsonaro!!

  2. AbrahãoFinkelstein

    O que une a massa em volta do presidente é o asco ao petismo e ao esquerdismo. Os isentões na hora da decisão contra a esquerda, votam em Bolsonaro. A não ser que surja alguém de centro muito carismático. Não é o caso de nenhum que se conheça, até agora.

  3. Certo. Mas isso não pode tbm significar que moro realmente não tem aspirações políticas? Logo que saiu pensava.se que sim, que tinha. Mas na cabeça de juiz nunca se sabe o tem, é ou não é?