Os caminhos para representatividade feminina na política

A baixa representação feminina na política foi o principal tema em debate durante o seminário “Os desafios das eleições de 2018 e a importância do senso crítico e propositivo para a capacitação política”. O encontro foi realizado esta quinta (15) e sexta-feira (16), em Porto Alegre, no Hotel Plaza São Rafael.

O fenômeno das fake news e a legislação eleitoral foram outros dos assuntos em discussão no evento, promovido pelo PSDB Mulher e pela Fundação Konrad Adenauer (KAS Brasil), com apoio do ITV (Instituto Teotônio Vilela). Reunindo especialistas de renome nacional em palestras para cem pré-candidatas das regiões Sul e Sudeste, esta foi a primeira de uma série de atividades que ocorrerão nos próximos meses, visando preparar mulheres para as eleições em todo o país.

Homenagem a Marielle Franco e debates sobre a representação feminina

Na abertura do encontro, a deputada federal gaúcha Yeda Crusius, presidente do PSDB Mulher, prestou uma homenagem à vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), morta na noite anterior (14) no Rio de Janeiro. “Perdemos uma mulher, vereadora eleita, pertencente às minorias. Num momento que se expõe tantos casos de violência e que se busca mais espaços de participação feminina, o fato é entristecedor”, lamentou.

Marina Caetano, coordenadora de projetos da KAS Brasil, também se associou às homenagens à Marielle, dedicando o evento à parlamentar. Ainda na abertura, a presidente de honra do PSDB Mulher, Solange Jurema, destacou os movimentos de solidariedade femininos. “Hoje temos o ‘mexeu com uma, mexeu com todas’. É preciso trazer essa sororidade para a política”, afirmou. Solange foi a primeira mulher a comandar um ministério no Brasil, no governo FHC, liderando a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher.

O primeiro painel do dia foi ministrado por Paulo Peres, professor-adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Abordando o cenário político e a evolução institucional desde os tempos de Getúlio Vargas, disse que o momento de descrença é também uma oportunidade para a mulher na política. “Se a solução não for política e partidária, qual será?”, questionou.

Em seguida, a especialista em gênero e democracia Patrícia Rangel fez um diagnóstico sobre a sub-representação feminina na política. “Os partidos não investem nas mulheres. Querem investir em quem tem capital financeiro. Estima-se que 10% das cotas nas últimas eleições foram de laranjas”, disse Patrícia, que apresentou um difícil prognóstico: no ritmo atual, só haverá igualdade entre homens e mulheres no ano de 2133. No Senado, o equilíbrio só deve ocorrer em 2083, e na Câmara dos Deputados, em 2254.

A terceira palestra foi do advogado Ricardo Ferraz, falando sobre a legislação eleitoral e as mudanças que ocorrem a cada dois anos. Para ele, existe uma casta enraizada, com os mesmos e tradicionais nomes no Congresso. “Acabar com as coligações é uma forma de acabar com políticos assim”, afirmou.

Encerrando o primeiro dia de atividades, a coordenadora de projetos da KAS, Mariana Caetano, e as deputadas Yeda Crusius e Mariana Carvalho (PSDB/RO), discutiram a crise de valores e suas consequências para as eleições de 2018. Além disso, abordaram como o partido se insere nesse contexto.

Fake news e marketing político em pauta

Abrindo o segundo dia do evento, o especialista em Direito e Tecnologia Eduardo Magrani fez uma exposição sobre o papel das fake news nas eleições. “Temos 41 milhões de bots na internet. Segundo a FGV, até 11% do debate eleitoral em 2014 foi protagonizado por robôs. Eles ajudam a viralizar as notícias falsas”, destacou, lembrando que o uso desse recurso está disseminado entre os partidos.

Logo depois, as profissionais de marketing político Gil Castillo e Camila Braga detalharam estratégias de aproximação ao eleitor não apenas nas campanhas, mas em longo prazo. “Administrar uma eleição é administrar o indiferente. E essa eleição será atípica e ainda mais difícil”, avisou Gil. Camila, que foi social media da Prefeitura de Curitiba, lembrou da importância das redes como o Facebook. “É preciso de transparência. Quando concordar ou discordar, o ideal é não ficar atrás da cortina”, disse.

Em seguida, a fonoaudióloga Laila Wajntraub trouxe técnicas de argumentação e retórica em discussões políticas, além dos atributos de uma boa oradora. “Em um discurso, é importante alternar ritmo e altura. A voz é como uma melodia”, afirmou, complementando que em um discurso 10% representa o que a pessoa é (ethos), 25%, o que ela fala (logos) e 65%, o apelo emocional (pathos).

Encerrando a programação, Patrícia Rangel, Laila Wajntraub e a coordenadora de projetos da KAS Brasil, Rinuccia La Ruina, realizaram uma atividade para colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante o seminário, por meio da encenação de situações reais de debates eleitorais e discussões midiáticas.

Depois de Porto Alegre, o PSDB Mulher realizará mais duas edições do seminário pelo Brasil: dias 26 e 27/4, em Recife (PE), reunindo 50 pré-candidatas do Nordeste, e dias 30/5 e 1°/6, em Belém (PA), com mais 50 mulheres das regiões Norte e Centro-Oeste.

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