Preparado para o risco

Nassim Nicholas Taleb conquistou uma legião de fãs – e muitos inimigos – falando sobre a importância de encarar a imprevisibilidade e usá-la a seu favor. Box recém-lançado no Brasil reúne as duas principais obras do escritor

Ele está na cabeceira de gurus do mercado financeiro e em palestras concorridas ao redor do mundo. Também aparece no topo das listas de melhores e mais vendidos livros da última década. É replicado por centenas de celebridades e curtido por milhares de anônimos todos os dias em suas redes sociais – que chegam a quase 350 mil no Twitter e outras 100 mil no Medium, plataforma em que publica textos mais longos. Com sua personalidade incendiária, Nassim Nicholas Taleb vem alimentando debates e destruindo pedestais até há pouco inabaláveis.

Escritor, matemático, estatístico e pensador, o libanês define-se como um flâneur. O termo francês descreve um homem que caminha pelas ruas sem objetivo definido, vagando pela cidade e observando o entorno em busca do que o acaso lhe reservar. É notória nele a influência de Michel de Montaigne, pai do gênero ensaístico: da leveza do texto, avesso a academicismos, às digressões históricas e literárias.

Mas a carreira de Taleb não se limitou – e sequer iniciou – nas letras. Com MBA em Wharton e PhD em Ciências pela Universidade de Paris, ele alçou postos de destaque ainda jovem no mercado financeiro. Foi, por exemplo, diretor administrativo no Credit Suisse e trader proprietário no BNP Paribas. Enriqueceu aos 27 anos na crise de 1987, também sendo bem-sucedido no estouro da bolha pontocom, no início dos anos 2000. Como na metáfora popular, enquanto tantos choravam, ele vendia lenços.

Essas façanhas são explicadas pelo cerne do pensamento desenvolvido no livro A Lógica do Cisne Negro. Ao lado de Antifrágil, a obra ganhou uma reedição em box no Brasil pelo selo Best Seller, da Editora Record. Para o autor, grande parte da população é vulnerável aos chamados “cisnes negros” — eventos raros, irregulares, imprevisíveis e que causam um impacto em larga escala na sociedade.

Mas o que a plumagem da ave tem a ver com esse tipo de acontecimento? Em seu livro, Taleb relembra que, antes da descoberta da Austrália, as pessoas do Antigo Mundo estavam convencidas de que todos os cisnes eram brancos. No novo continente, ficou claro que cisnes negros também existiam. Ou seja: não era possível prevê-los antes de serem vistos pela primeira vez. O mesmo vale para uma guerra mundial, um atentado terrorista como o de 11 de setembro e um crash da bolsa.

Publicado nos Estados Unidos em 2007, A Lógica do Cisne Negro tornou-se logo um best-seller global por, de certa forma, antecipar a grave crise financeira que ocorreria no ano seguinte. Mas nem todo cisne negro é catastrófico: há casos positivos, como o da descoberta da penicilina. Ou não seria o fungo penicillium, encontrado por Alexander Fleming enquanto limpava seu laboratório, um minúsculo exemplar desse raro animal? Graças às propriedades do antibiótico, a medicina evoluiu exponencialmente e muitos de nós estamos vivos hoje.

Fragilidade reversa

O que nos mostram os cisnes negros é que estamos todos expostos à fragilidade. Eis o centro do segundo livro no box: em Antifrágil, Nassim Taleb Nicholas sustenta que “a sensibilidade aos danos causados pela volatilidade é remediável, mais ainda do que a predição do evento que poderia causar o dano”. Portanto, o contrário de frágil não é ser resiliente – ou seja, passar por esses eventos de forma indiferente ou neutra, como uma pedra que fica imóvel e apenas sai ilesa de uma tempestade. O ponto de “fragilidade reversa” é, justamente, a “antifragilidade”, neologismo inventado pelo escritor.

O antifrágil tem consciência da incerteza causada por cisnes negros. E mais: deseja que eles ocorram. Afinal, todo evento dessa magnitude é uma oportunidade de fortalecimento e vantagem individual. E, para atenuar a fragilidade, só há um caminho: ter “a pele em jogo”, que significa possuir a coragem para aceitar e assumir riscos, sem esconder-se em redomas – tão utilizadas por elites políticas e econômicas que não sofrem as consequências de suas escolhas e ideias. Não à toa, seguidores da Escola Austríaca admiram tanto o trabalho de Taleb, voz forte na luta contra governos ditatoriais, estatistas, burocratas e demais adoradores do planejamento central. O tema foi explorado com mais profundidade em um livro recente do autor: Arriscando a Própria Pele.

Traduzido para 35 idiomas em mais de uma centena de países, Nassim Nicholas Taleb é um sucesso pela simplicidade de seus conceitos – que apenas aparentam ser complexos. Tal qual Montaigne no século 16, o autor contemporâneo vagueia pelos assuntos como um homem normal, ensaiando ideias e percepções do mundo. Com isso, torna a complexidade do mundo moderno mais compreensível ao homem comum. E, assim, ajuda a mudá-lo – indivíduo por indivíduo.

O mundo de Taleb

Estatístico de renome, Nassim Nicholas Taleb popularizou-se com livros e ensaios – e até tweets – que falam sobre riscos e oportunidades. Confira os principais conceitos difundidos pelo libanês:

Cisne negro:
Evento imprevisível que causa grande impacto em toda a sociedade, como um atentado terrorista ou uma crise econômica.

Antifragilidade:
Conceito oposto à fragilidade e à resiliência. Um indivíduo antifrágil tem consciência de que o imprevisível acontece, estando preparado para se fortalecer diante dele.

Pele em jogo:
Característica de quem “coloca a cara a tapa”, assume e aceita os riscos de suas decisões.

Nassim Nicholas Taleb – Caixa Exclusiva
(A Lógica do Cisne Negro e Antifrágil)

1128 páginas
1ª edição
Best Seller

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