Quem corrompe mais: dinheiro ou poder? – Por Marco Antônio Campos

Billions é uma série de TV produzida pelo canal Showtime e exibida pela HBO. Sua história é baseada no fato real da luta do procurador federal americano Preet Bharara em investigar e punir o dono do fundo de ações SAC Capital, Steve Cohen.

Bharara ganhou matéria na revista New Yorker com o titulo “O Homem que Aterroriza Wall Street” e “O Showman”. Na série, os personagens são o procurador federal Chuck Roades (o excelente Paul Giamatti) e o bilionário Bobby Axelrod (Damian Lewis, o Brody de Homeland).
Esta impecável produção reforça a situação atual em que temos na televisão (HBO, Starz, TNT, ESPN, Showtime) ou nas empresas de streaming (Netflix e Amazon) produções de igual (ou melhor) qualidade que os filmes que vemos no cinema.

Embora tenha episódios dirigidos por figurinhas carimbadas do cinema como Neil Labute (Na Companhia dos Homens), John Singleton (Os Donos da Rua e Quatro Irmãos) e John  Dahl (Cartas na Mesa), Billions tem sua maior atração no desenvolvimento dos roteiros caprichosamente elaborados para mostrar as entranhas de dois ambientes tipicamente americanos (ou universais?) onde a luta de egos muitas vezes prevalece sobre a razão, a lógica e a própria razão de ser das instituições: uma grande empresa de Wall Street e um escritório da Procuradoria Federal de Justiça de Nova Iorque.

Para apimentar a situação de conflito entre os dois gigantes personagens protagonistas, Billions se permitiu criar aquele que para mim é a melhor sacada de todas: a psicóloga Wendy Roades, esposa de Chuck e elemento essencial da empresa de Bobby, como terapeuta ocupacional interna que atende todos os funcionários (e o próprio dono) e faz as políticas de Recursos Humanos decolarem como foguetes.

Vivida pela atriz Maggie Siff, uma nova-iorquina de 43 anos, vista no ótimo Michael Clayton – Conduta de Risco, de Tony Gilroy, e em episódios de Law and Order e Grey’s Anatomy, Wendy Roades é brilhante profissional, inteligente, estrategista, linda, sexy, ousada e, acima de tudo, íntegra. No meio da guerra entre o marido e o patrão, tem que agir com muita sabedoria para não se queimar nem subverter seus princípios.

As questões éticas essenciais são a todo momento trazidas por Billions. O procurador poderia ter acessado o computador com os registros das sessões de sua esposa em nome de um bem maior? Axel poderia ter explorado a morte de seu colaborador para adiar as investigações? Wendy pode seguir trabalhando com  Axel, e recebendo remunerações estratosféricas, sendo ele alvo de uma investigação de seu marido?

Billions tem, ainda, uma ironia fantástica que permeia toda a história. Embora tudo gire em torno de milhões e milhões de dólares, os lugares e os carros mostrados sejam acintosamente espetaculares, as festas e os jatinhos deixem os espectadores boquiabertos, o pano de fundo dos personagens centrais é a velha busca da felicidade. E os poucos momentos que se vê eles, não vou dizer “felizes”, mas menos angustiados, nervosos ou raivosos são aqueles em que estão contemplando um pôr do sol, batendo um papo amistoso, vendo um filme clássico ou se deliciando com um sushi artesanal feito por um velho sushiman japonês.

Faz sentido aquela loucura toda?

Marco Antônio Campos é Advogado e sócio da Campos Escritórios Associados

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