Tecnologia e globalização destroem empregos?

Uma das principais características da economia contemporânea reside no pressuposto de que a robótica e a automação, bem como outras tecnologias de ponta, ameaça a existência de profissões e postos de trabalho como os conhecemos até agora.

A hipótese é verdadeira. Desenhista remoto em 3D, administrador de dados em nuvem e curador de inteligência artificial (IA) aplicada à logística são algumas das novas profissões. Elas fazem com que ocupações como gestor de imagem em rede social ou webdesigner, há pouco novidades, já não pareçam tão inovadoras.

O poder de transformação da tecnologia sobre o mundo do trabalho é imenso. Assim, é um erro creditar à globalização o papel de principal culpada pela obsolescência de regiões e setores manufatureiros nas principais economias do Ocidente.

Quando determinadas atividades industriais se transferem a outros países, seja por razão de maior produtividade, especialidade ou menor custo, os ganhos de eficiência podem ser utilizados no reinvestimento em áreas de maior valor agregado (como marketing, design ou pesquisa & desenvolvimento).
Ao observarmos esses fenômenos, estamos diante da fundamental transição da manufatura para a “mentefatura” (em inglês, from manufacturing to mindfacturing).

No caso dos EUA, pesquisas recentes já registram que os norte-americanos temem mais pelo impacto da IA sobre seus empregos do que aquele causado pela mudança de elos da cadeia produtiva a outros países. Aliás, essa mesma pesquisa aponta que 73% acham que a IA mais atua na destruição do que na criação de oportunidades de trabalho.

Como sabemos, a preocupação com o efeito da introdução de novas tecnologias sobre o trabalho não é nova. No começo do século 19, com a Revolução Industrial a pleno vapor, arregimentou-se o ludismo — um movimento na Inglaterra em que artesãos invadiam fábricas de tecelagem e destruíam as máquinas que aparentemente lhes estavam roubando o ganha-pão.

Embora alguns historiadores argumentem que o movimento em si nada tinha contra as máquinas, mas tudo em favor de melhores condições de trabalho, o ludismo ficou marcado como esforço estéril perante a imperiosa dinâmica de inovação.

O quão esse debate sobre tecnologia e trabalho é envolto em sutilezas analíticas pode ser esclarecido com o exame contemporâneo de economias como as dos EUA, China, Japão e Alemanha. Trata-se aqui, respectivamente, dos países que detêm os quatro maiores PIBs do mundo. São, da mesma forma, as quatro nações que mais depositam patentes, uma boa medida do ritmo e volume de inovação, na Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).

Ora, se o avanço da tecnologia põe em risco os postos de trabalho, e esse processo obviamente é algo que não começou agora, era de supor que o desemprego relacionado à tecnologia crescesse progressiva e estruturalmente nessas economias, certo?

Bem, o que então dizer das estatísticas em 2018 sobre o nível de desemprego nesses quatro países? Impressiona notar que se encontra em patamar espetacularmente baixo: EUA (3,8%), China (3,89%), Japão (2,5%) e Alemanha (3,4%). Só para lembrar: o desemprego no Brasil, que não é exatamente um portento tecnológico, é de 12,9%.
Além de seu elevado índice de inovação tecnológica, esses países apresentam em comum a grande escala comparativa de suas economias; o perfil, no agregado, como as quatro maiores nações comerciantes (medido pelo fluxo nominal combinado de exportações e importações); boa governança macroeconômica e instituições que incentivam e asseguram a inovação.

Em síntese, economias mais competitivas permitem a transformação do mundo do trabalho e da empresa. Em vez de os evitar, preparam-se para o desafio dos novos tempos.

Coluna Radar Mundial/Marcos Troyjo

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