Viajar sozinha, por que não?

*por Ju Nakad

Comente com alguém que você vai viajar sozinho para um país do Oriente Médio e espere as respostas, especialmente se você é mulher.

“Oi?” “Você é louca!” “Para quê?”

Viajar sozinha para alguns países do Oriente Médio pode levantar questionamentos devido às normas culturais e sociais da região. As mulheres nesses países costumam enfrentar enormes desafios, como tratamento desigual, violência de gênero e acesso restrito a espaços públicos. Além de outros receios que vêm à cabeça, como ameaças terroristas, questões políticas, climas hostis ou, até mesmo, diferenças culturais gritantes. Portanto, pode ser intimidador para uma mulher viajar sozinha. Entendo o pensamento, mas acho uma pena, pois há tantos lugares especiais a se explorar com as histórias milenares mais interessantes, a gastronomia cheia de sabores e aromas e povos extremamente amigáveis que recebem muito bem o turista. Perder uma viagem por falta de companhia/medo de viajar sozinha, para mim, está fora de cogitação.

Hoje vou contar sobre a minha experiência de viajar sozinha para a Jordânia. Tive uma viagem a trabalho para Israel, país que já visitei 3 vezes. Amo, admiro e me sinto mais segura lá do que em dezenas de lugares do mundo, e, assim que soube, não quis perder a oportunidade de dar uma esticadinha até a Jordânia, já que faz fronteira e era um sonho antigo conhecer Petra e dormir uma noite no deserto de Wadi Rum. Meus pais, meu marido e meus amigos ficaram deveras preocupados e ouvi aquelas frases que citei no início desse texto… Não sou do tipo das pessoas mais temidas, mas confesso que meu coração acelerava quando pensava em atravessar sozinha a fronteira, passear por lugares remotos e estar sozinha no meio do deserto. À medida em que as batidas do coração se intensificavam, mais uma força me preenchia e me fazia seguir. Mas não deixei que nada me paralisasse e segui com o planejamento da viagem, afinal, nunca fui de fugir de aventura, e agarrei a chance. Como uma mulher viajando sozinha, eu sabia que havia riscos, mas estava determinada a aproveitar ao máximo essa incrível oportunidade. 

A primeira coisa que fiz foi me cercar de profissionais que garantiriam a minha segurança. Contratei uma agência  israelense e entrei em um tour de dois dias com um grupo de 4 pessoas. Para minha surpresa, ao me buscarem no hotel em Israel, só tinha eu e o  motorista. Nem preciso dizer que o coração disparou, mas dali eu não voltaria atrás nunca! Eu teria que atravessar a fronteira sozinha e encontrar o grupo do lado jordaniano. Como estava em Eilat, a travessia seria terrestre, andando mesmo.

Por mais que as informações estejam na nossa porta, ainda fazemos fantasias e, sinceramente, tive medo. Ouvi dizer que teria homens com facões na cintura me encarando à la filme hollywoodiano. Claro que não encontrei esse cenário e continuei andando “tranquilamente”. Depois de mostrar diversas vezes o passaporte, passar de um carro para outro, de motorista para guia de um lado para guia de outro lado, cheguei à Petra (já com o grupo), ainda sentindo um misto de empolgação e nervosismo. À medida em que caminhava pelo estreito desfiladeiro, que leva a uma das cidades mais antigas e uma das novas 7 Maravilhas do Mundo, fui me inebriando pela beleza estonteante das formações rochosas e das histórias que as envolvem. Passei horas explorando monumentos antigos, túmulos, templos e outros encantos arqueológicos. Me distanciei do grupo por uma hora para escalar um pequeno morro e fazer as mais belas fotos da viagem. Nesse momento, senti olhares mais intensos e prolongados dos beduínos que lá ficam oferecendo tours e lembrancinhas, e confesso que bateu um desconforto e um certo constrangimento. Mas nada que me abalasse. Nessa hora uma postura mais firme resolve.

A próxima ansiedade era minha ida ao deserto de Wadi Rum naquela noite. Sabia que o grupo voltaria para Israel e que encontraria um casal que seguiria viagem no mesmo carro, mas que ficaria em outro Camp, ou seja, eu estaria sozinha no meio do deserto até minha hospedagem. Me concentrei em aproveitar o caminho, mas, na dúvida, de tempos em tempos, eu mandava uma mensagem para o meu marido “estou em tal lugar”, ”agora vou entrar no deserto e vou perder o sinal”,  “te ligo do hotel”. Pode ser útil compartilhar seus planos de viagem com um amigo ou familiar para que eles saibam onde você está e possam verificar qualquer sumiço. É compreensível sentir medo nessa situação, ali eu não teria o que fazer se algo de ruim acontecesse, não teria sinal, luz, movimento, nada! Então era confiar e seguir. 

Cheguei segura no meu hotel e segui aproveitando minha própria companhia. Eu não me aperto. Janto sozinha numa boa, tiro minhas fotos com meu pau de selfie, falo sozinha, faço meus vídeos em modo automático e assim vou me divertindo em meio aos meus pensamentos e descobertas. No dia seguinte, passei muito tempo no jipe 4×4 do nosso motorista jordaniano, beduíno e cheio de conhecimento, que nos mostrou o deslumbrante deserto de Wadi Rum. Wadi Rum é um grande vale no sul da Jordânia, um lugar bonito com montanhas de arenito, terreno acidentado, cânions, dunas de areia vermelha e misteriosas formações rochosas. Seus cenários de filmes (Lawrence da Arábia, Indiana Jones e outros) são encantadores. Tomamos chá com locais, almoçamos servidos por pessoas simples e gentis, e fizemos passeio de camelo.

O único perrengue que passei na viagem foi no lugar em que eu nunca teria imaginado viver algo desagradável. O sonho de me hospedar numa tenda de luxo no meio do deserto, naquelas bolhas transparentes e ter uma noite especial foi por água abaixo. O ar do quarto não esquentava, a água do chuveiro era gélida, passei um frio do cão, não dormi nada e não tinha o que fazer a não ser esperar amanhecer para o pesadelo acabar. Pois é, quando a gente menos espera, acontece. Pelo menos eu estava sozinha e resolvi não encarar o banho! Afinal, não tinha ninguém para me criticar! Tá vendo como tem vantagens?

Viajar sozinha é uma experiência única e enriquecedora que abre a nossa mente e faz a gente ganhar força, coragem e confiança para enfrentar medos e aproveitar todos os aspectos surpreendentes que viajar tem a oferecer. Amplia nossas perspectivas, aumenta nosso conhecimento e apreciação de diferentes culturas e nos dá independência. Portanto, não tenha medo de ser julgada ou ameaçada. Com planejamento e bom senso, mergulhe e explore o mundo por conta própria – você não vai se arrepender e vai descobrir como sua companhia lhe inspira e faz bem!

Qual é a sensação de viajar sozinha?

– Ter mais liberdade de hora e roteiro;

– Trocar ideias com outras pessoas;

– Viver o momento da sua forma;

– Criar soluções para eventuais problemas;

– Curtir o silêncio;

– Autoconhecimento;

– Fazer suas próprias escolhas;

– Aumentar autoconfiança;

– Superar medos;

– Sentimento de realização. 

Como se preparar para viajar sozinha?

– Faça uma pesquisa aprofundada sobre o destino antes de viajar, leis e costumes locais;

– Vista-se de acordo com a cultura local;

– Respeite a cultura local sempre;

– Evite andar sozinha à noite em áreas desertas;

– Informe-se se as áreas que vai visitar são seguras;

– Esteja atenta ao ambiente ao redor e mantenha-se alerta;

– Confie no seu instinto se algo lhe parecer estranho;

– Viaje com hotéis reservados;

– Tenha sempre um chip de telefonia local com dados de internet com quantidade confortável para toda a viagem;

– Não dê informações detalhadas sobre você a estranhos;

– Passe seu roteiro incluindo informações de hotéis a um familiar ou amigo;

– Esteja com sua bolsa e documentos sempre próxima ao corpo e, seja onde for, nunca deixe pendurada atrás da cadeira;

– Não ande com todo seu dinheiro e cartões de crédito. Mantenha parte no cofre do hotel;

– Saia com o cartão do hotel na bolsa;

– Decore algumas frases no idioma local. Além de simpático, pode ser um bom começo para pedir uma ajuda.

 

Um forte beijo,

Ju Nakad

Toda minha viagem está salva no destaque “Jordânia” no meu Instagram @natripdaju

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