A volta ao artesanal

Moda, decoração e arquitetura se aproximam da arte para a produção de objetos feitos a mão. Essa tendência abriu um novo nicho no mercado, voltado a clientes exigentes e que buscam exclusividade

Do comercial para o artesanal, da produção em série para o one at a time, do produto primário para o upcycle e o vintage. Nos últimos anos, o mercado vem trazendo um novo olhar sobre a produção e a comercialização. Está muito mais atento às novas tendências de consumo e ao consumidor mais exigente, que quer ser tratado como único.

O que antes era feito em larga escala passou a ser personalizado. As esteiras deram lugar a produções manuais, e as peças novas estão sendo criadas a partir de novos conceitos. A sustentabilidade já é parcela importante do sucesso do negócio, afinal o novo cliente é mais engajado na onda que passou a ser surfada como estratégia inteligente por parte dos empreendedores mais perspicazes.

O novo nicho é sofisticado. É formado por um cliente diferenciado que, mesmo diante de um produto com um custo maior, optará pela qualidade e durabilidade. Um exemplo é a linha de sapatos femininos de luxo produzidos com peles exóticas vindas da Indonésia. Do Atelier Pedro Toigo, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, saem para várias partes do mundo peças exclusivas em couro de jacaré, de cobra píton e de pirarucu desenvolvidas a partir de projetos aprovados pelo Ibama.

O designer cuida pessoalmente de todas as etapas de produção de sapatos, tênis, bolsas e clutchs. A operação, que teve início em outubro de 2015, hoje tem fila de espera. Uma das peças foi projetada para a diva do pop Lady Gaga, custando a bagatela de R$ 16 mil, com pele de píton da Indonésia e crocodilo do Egito.

Na mesma linha, a paulista Louie desenvolve sapatos masculinos com tratamento diferenciado ao cliente – desde o atendimento até a embalagem e o pós-venda. A fundadora Lívia Ribeiro conta que a ideia ao criar a marca há seis anos foi inspirada na tradição da família, que produzia calçados na cidade de Franca, no interior de São Paulo.

“Resgatei a forma de produção, com um toque mais contemporâneo, tendo sempre o maior cuidado com o cliente”, explica. Diretora criativa das coleções, Lívia explica que segue o design clássico e atemporal, mas com uma releitura atual. “Não trabalho para a moda, trabalho com moda”, defende, ao lembrar que não tem um target específico.

O usuário dos calçados são homens de bom gosto, que podem estar em várias classes sociais, garante. “Nosso cliente pode ser tanto aquele que tem no armário um Ferragamo [marca italiana de luxo], como aquele executivo que economiza e investe em poucos, mas em bons sapatos. A ideia da Louie é produzir ótimos calçados a preço justo”, explica. O negócio deu tão certo que recentemente começaram a ser vendidas peças para o público feminino.

Para a casa

A tradição familiar também foi a inspiração da Limão Home, linha de produtos manuais e exclusivos em tecido. Três irmãs resgataram os trabalhos da avó, moradora do interior do Rio Grande do Sul, para a produção de jogos americanos, nécessaires, almofadas, mochilas e tecidos para parede, entre outros itens. Utilizando matéria-prima de qualidade e escolhida a dedo, a marca cria estampas personalizadas, abrindo a possibilidade de ir até a casa do cliente para auxiliá-lo quando a demanda for relacionada a arquitetura de interiores e decor.

As estampas podem ser adaptadas às escolhas pessoais de cada consumidor, conta Cristiane Lindemann, que criou a marca há seis meses com as irmãs Vanessa e Michele. E elas já pensam em expandir os negócios. Com clientes em todo o RS, além de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, foram convidadas para estabelecer parceria com uma loja física de semijoias e bijuterias.

Outra tendência do mercado artesanal é o upcycle, um degrau além do estilo vintage. Trata-se do reaproveitamento de objetos antigos, sobretudo com generosas pitadas de criatividade, ao mesmo tempo que poupa o meio ambiente. Também conhecido como reutilização criativa, tem como focos móveis e assessórios para a casa.

O processo usa de maneira total ou parcial um objeto para criar um novo. A Ignis Industrial, de São Paulo, produz móveis a partir de peças antigas, dando-lhes uma nova roupagem. São objetos exclusivos, a partir de materiais que seriam descartados ou que se desintegrariam nos aterros. “Propondo uma evolução do estilo vintage, a Ignis é especialista em recriatividade. Em avançar a partir do anacrônico. Em inovar a partir do obsoleto”, diz o texto institucional da empresa, sediada em um bairro de classe A da capital paulista.

Seja aplicada a móveis, roupas, sapatos, seja em objetos de decoração, a evolução dos conceitos de reciclagem e artesanato saiu da esfera do comércio e partiu para uma tendência de comportamento. As peças feitas a mão oferecem um estilo único, tornando-as objeto de desejo. Afinal, assim como na arte, cada peça tem uma história para contar.

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