Yeda Crusius: Por mais participação feminina

A trajetória de Yeda Rorato Crusius é marcada pelo pioneirismo. A paulistana que adotou o Rio Grande do Sul como morada foi conquistando seu espaço e abrindo portas para a participação da mulher em setores marcados por uma tradição masculina. Formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), desembarcou na capital gaúcha em 1970, onde foi professora do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Lá, tornou-se a primeira mulher a dirigir a Faculdade de Economia, entre 1991 e 1992. Na mesma época, foi comentarista econômica na RBS TV, sendo uma das raras vozes femininas a falar sobre o assunto na televisão.

Em 1990, começou sua caminhada na política, filiando-se ao PSDB. Três anos mais tarde, foi escolhida pelo presidente Itamar Franco para ser a ministra do Planejamento, Orçamento e Coordenação. No ano seguinte, em 1994, tornou-se uma das primeiras mulheres eleitas à Câmara dos Deputados pelo Rio Grande do Sul, ao lado de Esther Grossi (PT).

Em 2006, após três mandatos no Congresso, partiu para seu maior desafio: a disputa pelo governo do RS. Contrariando as expectativas, Yeda foi eleita, sendo a primeira mulher a governar o Estado. Ao longo de quatro anos, imprimiu marcas que hoje parecem impossíveis de se alcançar em tão pouco tempo. Yeda chegou ao “déficit zero”, permitindo que o Executivo pudesse pagar as contas em dia — até mesmo antecipadamente. A dívida pública entrou em ritmo de queda. E novos investimentos puderam ser feitos em todas as áreas.

Agora, está em seu quarto mandato como deputada. A parlamentar trabalha pela criação do Plano Nacional de Prevenção da Violência, objeto de um projeto de lei e uma frente mista no Congresso. Também como presidente nacional do PSDB Mulher, está empenhada em trazer mais mulheres à vita pública. A tucana fala à Revista VOTO sobre os desafios e soluções para ampliar a participação feminina na política e em toda a sociedade. Para que, assim como Yeda, mais e mais mulheres possam ser pioneiras.

As mulheres são hoje a maioria da população, mas ainda estão pouco representadas na política. No Congresso, somam 11% dos parlamentares. A que atribui esse quadro?

Os partidos ainda não assimilaram a agenda da participação política das mulheres, que é mundial. Leis já foram feitas, como a das cotas [as mulheres devem ser, pelo menos, 30% das candidaturas para cargos legislativos], e instituições como o Tribunal Superior Eleitoral estão atuando para fazer com que seja efetiva uma maior igualdade no preenchimento de espaços políticos. No PSDB, por meio do PSDB Mulher, temos feito cursos de capacitação para candidatas e para eleitas. Em número de votos dos eleitores, obtivemos crescimento que, embora pequeno, mostra que esse é o caminho: capacitação e conscientização para a questão da mulher na política.

Qual sua experiência pessoal como mulher na política? Enfrentou algum tipo de preconceito nesses ambientes?

No começo da minha carreira política, eu não era nova, já era muito conhecida. Tinha uma vida desenvolvida na área de economia, era comunicadora, professora universitária, consultora. Nasceu o PSDB, e logo fui escolhida ministra do Planejamento do governo Itamar Franco. Então, meu começo foi diferente, com um cargo político do mais alto valor, porque o Itamar disse: “eu quero mulheres no meu ministério”. Ele foi, na verdade, um inovador no campo da política. E quando fui disputar eleição, no ano seguinte, já era conhecida. Fui economista que foi fazer política no fim da hiperinflação. Então, nesse campo, não houve resistência.

De que forma essa baixa representatividade se reflete para a mulher na sociedade?

As mulheres costumam se comprometer com os direitos sociais em seu sentido mais amplo, como escreve a Constituição. Não acho que sejam direitos das mulheres, embora elas se envolvam mais. São os direitos de todos: saúde, educação, segurança, direitos políticos. Em seguida, os direitos específicos: salários iguais, combate à violência doméstica e proteção às crianças. Nossos interesses são múltiplos e, como tal, devem ser tratados. A baixa representatividade feminina na política se reflete na menor quantidade de políticas públicas de interesse da população. Uma sociedade igualitária em participação feminina na política é mais bem-sucedida na solução de seus problemas.

Quais as soluções para mudar esse quadro? As cotas para mulheres são um caminho adequado?

Um pouco já tem sido feito quanto às cotas. Mais uma vez, tem de ser por lei. E, no limite, fazer o que a França fez em 2017: nas listas, ter um homem, uma mulher, 50% para cada. O problema está na cultura partidária. A questão é que as instituições ligadas ao poder ainda não se abriram. Depois é natural. Na social-democracia europeia, os parlamentos chegaram naturalmente a mais de 50% de mulheres. Lá, a forma de trabalhar permite essa participação da mulher. E, de uma certa forma, a sociedade exige o trabalho da mulher na política.

Como é a situação da mulher na política em outros países?

Varia muito. O Brasil, vergonhosamente, ocupa o último lugar em participação feminina na América do Sul. Basta analisar os vinte países mais bem colocados no ranking mundial da ONU em igualdade de gênero e participação feminina na política, e comparar com os líderes em desenvolvimento humano. Há uma relação direta. Quanto maior a participação da mulher na vida pública de um país, em melhores condições vive seu povo.

Que iniciativas são desenvolvidas pelo PSDB para fomentar a participação da mulher na política?

Temos, desde 1998, o PSDB Mulher, do qual fui a primeira presidente e, hoje, novamente, estou à frente. Nesses 20 anos, formamos uma rede forte, muito bem desenvolvida e amparada pelas novas leis ligadas à busca de uma maior participação da mulher na política. Como a cota dos 30% e, recentemente, a decisão do STF para que essa cota seja acompanhada da distribuição proporcional do fundo partidário para as candidaturas. Até agora, quem sabe pela falta de apoio financeiro, muitas mulheres com propensão e capacidade não se viam incentivadas a fazer política. No PSDB Mulher, realizamos cursos para qualificar essas mulheres, com apoio da Fundação Konrad Adenauer, ligada ao CDU, partido da democracia cristã na Alemanha, da Angela Merkel. E, assim que eleitas, também realizamos cursos para que elas possam enfrentar os desafios de gerenciar sua prefeitura, de estar nos parlamentos.

Como são esses cursos para as mulheres?

Tivemos um exemplo agora em março, quando realizamos em Porto Alegre o primeiro curso de preparação de pré-candidatas do PSDB Mulher, reunindo 112 mulheres dos sete estados do Sul e Sudeste. Foi uma atividade que qualquer empresa gostaria de ter, com especialistas de alto quilate trazendo preparação para argumentação, conhecimento do que é preciso para fazer política, legislação eleitoral, novas técnicas de marketing, proteção contra fake news. Em maio, faremos uma nova edição em Recife, para as mulheres do Nordeste. E, em junho, o terceiro seminário, em Belém, voltado para o Norte e Centro-Oeste. E o que sai como avaliação desses cursos é que as mulheres se sentem mais dispostas, fortes e preparadas para o embate eleitoral.

Que temas têm sido discutidos na Câmara sobre as questões da mulher?

Um tema que sempre trabalhei é a prevenção da violência, em especial contra a mulher. Propus na Câmara o projeto de lei 9.322/2017, que institui o Plano Nacional de Prevenção à Violência. Em 2017, criei a Frente Parlamentar Mista de Prevenção à Violência, que tem como meta contribuir para a redução dos índices de violência em todo o país. Realizamos audiências públicas nas quais focamos nas questões da violência doméstica e contra a mulher, além das iniciativas de sucesso em vários níveis. Além disso, defendo a criação do Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, que é o objetivo do PL 7.371/2014, desenvolvido a partir da comissão parlamentar sobre o tema. A sugestão é que recursos do orçamento da União e doações de entidades e empresas contribuam para instituir mais delegacias especiais e programas de acolhimento às vítimas. A sociedade está cada vez mais violenta. E isso recai sobre os mais vulneráveis, como as mulheres e crianças. Mudar isso representa tomar uma série de ações para agir não apenas quando a violência é registrada, mas para prevenir que ela aconteça.

A senhora acredita que teremos mais mulheres eleitas em 2018?

Sim, há todo um potencial para elegermos mais mulheres. Os partidos estão percebendo a demanda social para promover a participação da mulher, para que a sociedade seja mais igualitária, menos injusta e com uma política mais eficiente. Isso o PSDB sempre demonstrou ter com suas eleitas e eleitos. E, agora com os 30% do fundo destinados às candidaturas femininas, os próprios partidos deverão fazer uma avaliação bem precisa de mulheres com potencial de voto. É bom para eles e para a sociedade.

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