Michelle Bolsonaro conquista o país

Nova primeira-dama quer ser porta-voz das minorias esquecidas. Grande destaque da cerimônia de posse do marido, ela afirma que sente o chamado para lutar pelas pessoas com deficiência, síndromes e doenças raras

“Às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês serão valorizados e os seus direitos respeitados.” A frase dita em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, sensibilizou o país na cerimônia de posse presidencial. Foi a primeira vez que uma primeira-dama discursou no parlatório, quebrando o protocolo de um rito oficializado em decreto desde 1972. O fato já seria o bastante para Michelle Bolsonaro, 36 anos, dominar as manchetes, mas foram sua doçura e seu jeito simples que emocionaram o país.

Michelle aprendeu o idioma gestual para comunicar-se com um tio surdo e, desde então, começou a conviver mais com a realidade, interpretando o que as pessoas dizem para aqueles que não podem ouvir. Por muito tempo, executou a prática voluntariamente nos cultos dominicais do Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude. Hoje, a visibilidade lhe possibilita ajudar quem precisa ao dar destaque para o tema. “Pessoas com deficiência, síndromes e doenças raras. Essa é a minha bandeira. Essa é a minha luta. E eu sei que tenho esse chamado”, disse.

A primeira-dama afirma que é preciso disseminar conhecimento no Brasil sobre as síndromes raras, pois há muitas doenças sem cura, mas com medidas paliativas, que merecem atenção. “O debate de como engajar a população é essencial neste momento”, conclama. Na visão de Michelle, são setores abandonados e o poder público pode e deve agir mais. “Eu tenho muita vontade, amor, disposição e respeito por essa minoria”, declarou recentemente.

A favor do voluntariado, Michelle quer contagiar: multiplicar bons exemplos entre os estados e municípios brasileiros a partir da sua própria história. Na cidade do Rio de Janeiro, a congregação da sua igreja proporciona ações lúdicas e de esporte em comunidades que enfrentam situação de vulnerabilidade. Ela vê o bem como prática necessária.

Quem ela é

Muito tímida – como se define entre uma entrevista e outra –, a primeira-dama do Brasil tem  vencido o receio de falar em público a cada aparição. De uma comunidade simples de Ceilândia Norte, região administrativa do Distrito Federal, Michelle é filha de um motorista de ônibus aposentado, Vicente de Paulo Reinald, cujo apelido é “Paulo Negão”. Em agosto de 2018, em evento promovido pela Revista VOTO em Porto Alegre/RS, Bolsonaro falou do sogro com carinho, contrapondo as acusações de racismo.

Michelle tem duas filhas: Letícia, 16 anos, fruto de um antigo relacionamento, e Laura, 8, do casamento com o atual presidente. Michele deu à luz a filha do casal em 2011. A vontade de ser mãe pela segunda vez convenceu Bolsonaro a desfazer a vasectomia.

O casamento aconteceu em data pensada: na noite de 21 de março de 2013, pois coincide com os aniversários de Jair e Michelle – 21 e 22 de março, respectivamente. A cerimônia ocorreu no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, para cerca de 150 convidados. Quem conduziu a cerimônia religiosa foi o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia.

Malafaia enfatiza que Michelle é simples e não gosta de aparecer – o que explica sua postura distante das luzes na campanha eleitoral. “Tem mulher que é ‘perua’, desculpe a expressão, mas ela não é assim. Tem uma beleza com simplicidade, não é espalhafatosa, nunca gostou de aparecer ou colocar a cara para fora. Nem de se exibir. Ela gosta de trabalhar nos bastidores”, relata o pastor.

Com seu jeito simples e um carisma muito particular, a esposa de Bolsonaro tem tudo para devolver a relevância à missão de primeira-dama. Desde Ruth Cardoso, o Brasil tem um espaço vago nesse sentido. Pela cerimônia de posse e pelo início do governo, Michelle seguirá surpreendendo.

As frases que marcaram o discurso

(Brasília – DF, 01/01/2019) Discurso em Libras da Primeira-Dama Michelle Bolsonaro. Foto: Alan Santos/PR

Na cerimônia de posse do presidente Bolsonaro, Michelle foi um dos grandes destaques. Veja o que ela expressou em libras:

“Eu gostaria, de modo muito especial, de dirigir-me à comunidade surda, pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos. Vocês serão valorizados e terão seus direitos respeitados. Tenho esse chamado no meu coração e desejo contribuir na promoção do ser humano.”

“Agradeço a Deus essa grande oportunidade de poder ajudar as pessoas que mais precisam. Trabalho de ajuda ao próximo que sempre fez parte da minha vida e que a partir de agora, como primeira-dama, posso ampliar de maneira ainda mais significativa.”

“As eleições deram voz a quem não era ouvido e a voz das urnas foi clara: o cidadão brasileiro quer segurança, paz e prosperidade. Um país em que sejamos todos respeitados.”

“Estamos todos de um lado só. Juntos alcançaremos o Brasil próspero, com amor, ordem, progresso, paz, educação e liberdade para todos.”

Damas da história

Confira as primeiras-damas, daqui e de fora, que tiveram uma atuação marcante e se tornaram referências

Evita Perón
Argentina I 1946 a 1952
Foi a segunda esposa de Juan Domingo Perón, duas vezes presidente da Argentina. Antes de ser primeira-dama, era atriz. De origem humilde, Evita – como se tornou conhecida – teve sua atuação pública voltada aos pobres. Reconhecida pela elegância, é idolatrada até hoje e tida como um mito. Morreu jovem, aos 33 anos, de câncer.

Jacqueline Kennedy
Estados Unidos I 1961 a 1963
Esposa do presidente americano John F. Kennedy, tornou-se ícone de estilo. “O vestido deve ser suficientemente justo para mostrar que você é mulher; e suficientemente folgado, para mostrar que você é uma dama”, ensinou certa vez. Estava ao lado do marido, no carro, quando ele foi assassinado.

Ruth Cardoso
Brasil I 1995 a 2003
Esposa de Fernando Henrique Cardoso, foi uma primeira-dama atuante. Intelectual, a socióloga publicou vários livros. Foi a criadora do programa Comunidade Solidária, conhecido como o embrião do Bolsa Família.

Michelle Obama
Estados Unidos I 2009 a 2017
Protagonista de algumas das mais emblemáticas fotos da história da Casa Branca, foi o braço-direito de Barack Obama. Com personalidade marcante, lançou o programa Let’s Move!, que combateu a obesidade. Também defendeu os direitos das mulheres.

Carla Bruni
França I 2008 a 2012
Ela já era bem famosa como cantora e modelo antes de casar-se com Nicolas Sarkozy e se tornar primeira-dama. Com personalidade discreta, representou o marido em audiência com o Dalai Lama e defendeu bandeiras como igualdade e liberdade. Depois, retomou a carreira.

Brigitte Macron
França | 2017 até hoje
Foi professora de Emmanuel Macron, 24 anos mais novo do que ela. No documentário Emmanuel Macron: Nos Bastidores da Vitória, fica evidente a influência de Brigitte na tomada de decisões. É hoje mais popular do que o marido.

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Please enter comment.
Please enter your name.
Please enter your email address.
Please enter a valid email address.
Please enter a valid web Url.