O destino de uma nação nas mãos dos políticos

O Destino de uma Nação (Darkest Hour), de Joe Wright, tem como seu principal mérito proporcionar ao extraordinário ator londrino Gary Oldman, de 60 anos, uma daquelas interpretações antológicas que a gente vê, no máximo, a cada cinco anos no cinema.

O Churchill de Oldman entra na galeria dos personagens inesquecíveis, parâmetro para futuras interpretações de figuras históricas. Sua linguagem corporal, gestos, resmungos e olhares são absolutamente perfeitos. Ele é o filme.

O longa-metragem narra a história de um momento essencial da Segunda Guerra Mundial. Recém-empossado no cargo, o primeiro-ministro Winston Churchill tem de tomar a decisão entre negociar um tratado de paz com a Alemanha Nazista e seguir enfrentando os campos de batalha, onde as derrotas são sucessivas e sangrentas.

O filme de Wright é preciso e minucioso ao enfocar os meandros de uma decisão política essencial, quando os políticos valorizam muito mais suas pretensões, vaidades e agendas pessoais do que o interesse da nação – mesmo que o assunto envolva a vida de milhares de soldados.

Esse quadro, em nada específico da Inglaterra daquele período, mas universal em se tratando de políticos de qualquer latitude, infelizmente mostra a raridade daqueles que efetivamente se posicionam tendo em conta apenas o interesse público.

Nestes tempos de justificado e essencial empoderamento feminino, fez muita falta a esposa de Churchill, Clemmie, vivida pela também excelente Kristin Scott Thomas, que ficou reduzida a uma figuração. Pelo que se lê da história britânica, a personagem e a atriz mereciam um destaque muito maior do que receberam. Foi uma falha grave do filme.

Pior é isso ter ocorrido em um filme de Joe Wright, cineasta que tinha dado à atriz Keira Knightley seus três grandes personagens, nos filmes: Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação, Anna Karenina. Wright aqui perdeu uma bela chance de ancorar seu filme em um segundo personagem forte e fascinante para o espectador.
Por fim, O Destino de uma Nação, apesar de toda a qualidade e de todos os méritos que tem como filme de primeira linha, carece de cenas mais emocionantes. O diretor optou por uma narrativa fria e reservada. Neste particular, Dunkirk, de Christopher Nolan, dá um show com suas cenas grandiosas e plenas de emoção.
Gary Oldman e seu Churchill são mesmo a alma e o grande trunfo de O Destino de uma Nação.

Por Marco Antônio Campos

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