O grande bloco

Com tempo expressivo de TV e influência política, o popularmente chamado Centrão foi cortejado por vários candidatos. O escolhido foi Geraldo Alckmin, do PSDB

Em uma campanha eleitoral de apenas 45 dias, com uma série de restrições para publicidade e atos políticos, qualquer segundo a mais de exposição no rádio ou na televisão tem uma grande relevância. O que dizer, então, da importância para um candidato em somar à sua campanha quase 15 minutos diários em programas no Horário Eleitoral Gratuito e inserções?

Esse poder em forma de tempo de mídia levou um bloco de partidos formado por DEM, Progressistas, PR, PRB e Solidariedade a ser cortejado e disputado por muitos postulantes à presidência da República. Com isso, também foi alcançado o principal objetivo dessa união de siglas partidárias, que é o de aumentar a influência política. Não somente para a obtenção de espaços como também na busca pelo atendimento de suas demandas futuras por parte do Palácio do Planalto.

Disputados por Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e pela cúpula do PT, o mais eficaz em sua persuasão pré-eleitoral foi Geraldo Alckmin (PSDB). Na costura, a vaga para vice-presidência do tucano esteve em foco. Cogitou-se a nomeação de Josué Gomes (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar. Com a recusa do empresário, o nome veio do Progressistas: a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos.

A partir da formação da coligação, o tempo de televisão do ex-governador de São Paulo disparou. Dos 121 minutos diários de Propaganda Eleitoral Gratuita previstos pela divisão apontada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – nesse cálculo estão inclusos programas e inserções dos candidatos a todos os cargos em disputa –, relevantes 62 minutos e 22 segundos são destinados aos partidos que compõem a aliança com Alckmin. Num comparativo direto, Marina Silva (Rede), Cabo Daciolo (Patri), José Maria Eymael (DC), Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU), João Amoêdo (Novo), Jair Bolsonaro (PSL) e João Goulart Filho (PPL) têm menos de 30 segundos em cada bloco.

Muito além das urnas

Mas a influência do popularmente chamado Centrão vai muito além do período eleitoral. O bloco de partidos foi decisivo em episódios marcantes e recentes da política nacional. Na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, essas siglas votaram majoritariamente contra a petista. O Democratas, por exemplo, contribuiu com 28 votos favoráveis à destituição, e nenhum contra.

Já no governo de Michel Temer, o posicionamento do Centrão foi igualmente determinante, porém para que fossem arquivadas as denúncias contra o presidente e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Uma amostra da importância desse amparo é o PP: nas duas votações da admissibilidade das denúncias, dos 44 deputados do partido, 37 votaram a favor de Temer.

Quando se analisa os números totais das duas votações, o impacto desse apoio fica mais nítido: na primeira denúncia contra o presidente, em agosto de 2017, o placar contabilizou 263 votos a favor do governo e 227 contrários. Na época, dois deputados se abstiveram e 19 estavam ausentes. No segundo processo, em outubro de 2017, no total foram 251 votos para barrar o processo, 233 a favor da denúncia e duas abstenções.

Origem tem diferentes interpretações

A data de nascimento do Centrão gera discordâncias. Para alguns pesquisadores e cientistas políticos, ele é anterior à Constituição de 1988. Teria surgido durante a Assembleia Constituinte, um ano antes, como um grupo suprapartidário e conservador, voltado a restringir ideias de esquerda no texto da nova Carta Magna. Era formado por PFL (atual DEM), PMDB, PL (atual PR), PDS (atual Progressistas), PTB e PDC (atual DC).

Para outros, no entanto, o surgimento deu-se em 2015, sob a liderança do então deputado Eduardo Cunha (MDB). A aliança era formada por PP, PTB, PSC, PRB, SD, PT do B, PR, PEN, PTN, PSD, PHS, PSL e Pros. Com isso, legendas de médio e pequeno porte criaram um novo ponto de poder dentro do Congresso Nacional, naquele momento dividido quase que somente pela polarização entre PT e PSDB. A primeira grande prova de poder do bloco foi justamente a eleição do deputado Eduardo Cunha para presidir a Câmara – impondo uma derrota ao governo Dilma, que defendia que Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Atualmente, o bloco totaliza 164 deputados federais e 21 senadores, além de duas governadoras – Suely Campos, de Roraima e Cida Borghetti, do Paraná. E nestas eleições, terá mais um teste de fogo para verificar sua influência e seu futuro.

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