QUANDO OS VENTOS VOLTAREM A SOPRAR

A Era dos Descobrimentos não seria possível sem as caravelas. As conquistas dos portugueses expandiram o mundo então conhecido. Aquelas engenhosas embarcações singraram os mares descobrindo novos mundos e rotas comerciais. Mas, para terem sucesso, dependiam de um fator imponderável: o vento.

Quando ele chegasse, as condições das caravelas, a precisão dos equipamentos e o preparo da tripulação precisavam estar em ordem. Caso contrário, o Brasil não teria sido descoberto. Não em 1500.

Ou seja, era essencial o preparo para navegar quando os ventos começassem a soprar. Pois bem, a economia também é feita de ciclos imprevisíveis. Há períodos de calmarias, outros de tormentas e há os tempos de maré favorável. Quando estes momentos chegam, é preciso estar pronto para aproveitar os períodos e oportunidades de crescimento.

O Brasil, lamentavelmente, não está preparado. Já desperdiçamos oportunidades no passado recente. Se prosseguirmos navegando contra a maré, não vamos aproveitar os períodos de bonança. Diante das tempestades, corremos o risco de naufragar.

É preciso parar de seguir trilhas equivocadas, como prega a esquerda delirante. Negar a realidade é o pior caminho. A começar pelas previdências. Tanto a do INSS como a dos servidores, todas quebradas ou a passos largos rumo ao déficit impagável.

Muitos ainda são contra a reforma por desconhecimento. Nesse caso, cabe ao governo esclarecer números que parecem indecifráveis. Outros são contra por má- fé e má política. Querem derrotar a reforma para preservar privilégios ou para que o Brasil continue estagnado, ou quebre de vez, abrindo caminho para retornarem ao poder diante do descontentamento popular.

Temos de sanar as contas públicas para voltar a crescer quando soprarem os ventos favoráveis. Responsabilidade fiscal não é coisa de opressores do povo. Ao contrário. É nos países em que as contas estão equilibradas e as pessoas são livres para empreender, sem as amarras sufocantes do Estado, onde mais se encontra prosperidade e bem-estar social.

Basta ver que as pessoas não querem migrar para Cuba ou Coreia do Norte -– e, infelizmente, para o Brasil –, mas para a Inglaterra, EUA e Alemanha, países onde o Estado se mete menos na vida dos cidadãos, a carga tributária é menor e o empreendedorismo é bem-vindo.

A reforma nas aposentadorias é só o começo. É urgente desinchar o Estado e reduzir seu nível de interferência no mercado. Menos impostos, burocracia e corrupção. Menos subsídios e favores estatais. Mais acesso à boa educação e saúde, mais segurança. Não temos de inventar muita coisa. Boa parte da receita está dada.

“É melhor que tenhamos uma boa ideia sobre onde estamos e sobre como chegamos à situação atual e seus desafios”, escreveu recentemente Pedro Malan, que atravessou com lisura seus oito anos como ministro da Fazenda.

Com Malan o Brasil adotou os regimes de metas de inflação e o de taxas de câmbio flutuantes – que perduram até hoje. Medidas copiadas e adaptadas que trouxeram estabilidade e confiança. Atualmente, nosso grande desafio é o equilíbrio fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, é um marco, mas que, volta e meia, é atacada por políticos de diversos matizes.

Parte das reformas carregam na essência a urgência de sanar as contas públicas. O erário brasileiro se transformou num departamento de pessoal e almoxarifado: existe apenas para pagar salários (altos) e custeio (geralmente superfaturados).

A população de aposentados cresce a uma taxa cinco vezes superior à da população total. Isso pressiona as despesas previdenciárias e trava o desenvolvimento. De 2011 a 2017, a média anual de crescimento brasileira foi de 0,5%. Segundo o FMI, no mesmo período, a média de 154 países emergentes (5,5%) e em desenvolvimento (5%) foi mais de 10 vezes superior à brasileira. Aquelas nações se prepararam para os ventos instáveis da economia. Quando as condições de crescimento estavam dadas, içaram velas, endireitaram o leme e partiram rumo ao crescimento.

Apesar de sua complexidade política, muitas vezes atabalhoado em suas ações, o novo governo tem perfil liberal e viés fiscal responsável. É preciso aproveitar essa condição – respaldada sobretudo pelo ministro Paulo Guedes – para navegar em águas prósperas.

Nossos ancestrais, os portugueses, foram capazes de singrar os mares e mudar a geopolítica e a economia mundiais. Cabe a nós, 519 anos depois, preparar nossas próprias caravelas em busca da almejada prosperidade e da igualdade de oportunidades. Hoje, o leme está em nossas mãos.

 

Mateus Bandeira
Foi CEO da Falconi, presidente do Banrisul, secretário de Planejamento do RS e candidato ao governo gaúcho.
mateusbandeira@gmail.com

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Please enter comment.
Please enter your name.
Please enter your email address.
Please enter a valid email address.
Please enter a valid web Url.