Uma chance para o futuro

O ano do qual nos despedimos é o dos escândalos, mas é também o da transparência. É o da ascensão de uma palavra no vocabulário do ambiente de negócios, a compliance, a cultura empresarial que preconiza uma relação com o poder público em conformidade com as regras e com o profissionalismo.

Dois mil e dezessete é o ano da demagogia, refletida em discursos desgastados de oradores da velha política, mas também é o do amadurecimento da audiência. Uma parcela cada vez mais numerosa da sociedade entende que a política é importante demais para ficar só nas mãos e na garganta de alguns maus políticos.

O período que se encerra neste 31 de dezembro é marcado por pilhas de dinheiro expropriadas de seu real destino, a educação, a saúde, a segurança. É ao mesmo tempo, porém, uma época em que as autoridades têm a chance de descobrir as brechas usadas por quadrilhas de colarinho-branco e aperfeiçoar os sistemas de fiscalização.

É um ano amargo, de centavos contatos, cortes dolorosos, negociações infindáveis, revisões de direitos trabalhistas e previdenciários, mas também é um ano de retomada de crescimento e de demonstração de que a sociedade deu um passo adiante na lição de que os cofres públicos estão longe de ser um fonte inesgotável de recursos e de que também é da população a responsabilidade de saber de onde vem o dinheiro e como manter uma economia sustentável.

Que 2018 seja um ano de incerteza, pois ela é ainda mais inevitável em época de eleição, mas que no final acabe se confirmando como o início de um novo ciclo para a política brasileira. Uma época que deixe para trás o proselitismo, o messianismo e outros tipos de ismo que se tornaram na verdade inço na democracia brasileira. Que o novo ano seja uma terra fértil para nela prosperar uma nova forma de relação com a política e que as mazelas de uma democracia imatura fiquem sepultadas em 2017.

Karim Miskulin

Diretora executiva da Revista Voto