2024 será um ano desafiador para economia brasileira

O novo arcabouço fiscal, que entrou em vigência em agosto como forma de substituir o teto de gastos, estipulou como meta zerar as contas públicas já em 2024. No entanto, mês após mês, esse objetivo se tornou cada vez mais inexequível, já que a arrecadação do governo brasileiro não consegue acompanhar as grandes despesas em programas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida.

O atingimento do déficit zero chegou a ser inclusive um ponto de discordância entre os membros da equipe econômica do governo, liderada por Fernando Haddad, e integrantes do PT. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, chegou a defender que o governo atinja um déficit de 2% em 2024 para que o corte de gastos não comprometa pontos considerados prioritários pelos petistas.

Para o Doutor em Economia, Mário de Lima, a combinação entre o risco fiscal e um processo de desaceleração da economia fazem de 2024 um ano desafiador para a economia brasileira. “A retomada de um crescimento sustentável para a economia brasileira, passa por um esforço real para a redução do déficit nas contas públicas, para estabelecer a sustentabilidade da dívida pública”, explica.

Para o próximo ano, o mercado prevê um crescimento de 1,5% do PIB em 2024, uma queda em comparação a 2023, quando o crescimento deve ficar em torno de 3%. Entretanto, Mário afirma que a queda na taxa básica de juros, que pode chegar aos 9% na metade do ano, pode fazer com que a economia brasileira cresça mais do que o esperado. A taxa Selic vai iniciar o ano na casa dos 11,75%, mas com a perspectiva de novos pequenos cortes no primeiro semestre.

Além disso, ele também afirma que há uma tendência na manutenção do controle da inflação, mas que os riscos fiscais podem afetar os resultados também nesse campo. “Há riscos de que o crescimento econômico seja pior do que o esperado, com a ameaça da perda da manutenção da trajetória inflacionária a partir de 2024”, alerta.

A opinião do consultor financeiro e analista político Gustavo Segré vai na mesma direção. Ele explica que os indicadores econômicos tiveram um bom resultado em 2023 com um superávit comercial e o desemprego atingindo um nível baixo. No entanto, os resultados das contas públicas colocam em risco a perspectiva para 2024.

O governo não está preocupado com o equilíbrio fiscal, e esse é um problema muito sério. Para você ter um déficit fiscal, você precisa financiar esse déficit através de emissão monetária, e isso não é bom porque aumenta a inflação. Ou você aumenta a captação de títulos públicos, o que aumenta a relação entre dívida e PIB. A outra forma de financiar o déficit é aumentar a carga tributária”, explica.

Além do cenário econômico desafiador, Segré coloca que existe outro complicador para as contas públicas em 2024: o campo político. O primeiro ano de governo Lula foi marcado por uma relação conturbada entre o Executivo e o Congresso Nacional, com o Planalto tendo dificuldades para aprovar algumas agendas consideradas essenciais na Câmara e no Senado.

Consequentemente, o governo precisou aumentar os gastos com emendas parlamentares na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 para R$48 bilhões. Em 2023, esse valor era de R$ 31 bilhões. “Para 2024, nos temos emendas absurdamente elevadas, o que aumenta o preço para que o Congresso coloque na agenda pautas do governo e vote a favor dessas pautas” comenta Segré, “E ainda estamos falando de um ano de eleições, um ano de gastos públicos maiores para alavancar algumas candidaturas simpáticas ao governo”.

 

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Please enter comment.
Please enter your name.
Please enter your email address.
Please enter a valid email address.
Please enter a valid web Url.