Aprendendo com os excessos

O limite entre as discussões típicas de uma campanha eleitoral e a barbárie tem sido frequentemente ultrapassado. Mas, mesmo diante de um cenário tão revolto, há o que aprender e evoluir como nação

Se para os cargos no Poder Legislativo a profusão de candidaturas e de vagas acabam por, naturalmente, acalmar os ânimos, uma vez que não há um único adversário direto e nem apenas um único lugar ao sol, para as funções no Executivo a realidade da campanha eleitoral brasileira é outra: embates diretos e ríspidos, troca de acusações e disputa acirrada por espaços costumam elevar a temperatura das campanhas.

Mas o que se viu este ano transpassa qualquer limite aceitável para uma sociedade pacífica e ordeira. Tenha ele sido movido por ideologia ou por qualquer razão, o ato praticado por Adélio Bispo de Oliveira contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na tarde do dia 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG) atingiu em cheio as eleições brasileiras.

Como não há nada tão ruim que não possa piorar, o atentado à faca também insuflou ainda mais os radicais, de direita e de esquerda. A grande vítima, nesse episódio, foi a democracia brasileira. O ferimento só não foi mais grave – no regime democrático – pela reação dos demais candidatos à presidente, que agiram com responsabilidade e maturidade ao condenar, de forma unânime, o crime contra Bolsonaro. Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo), Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL): todos se uniram para criticar a violência.

Temas importantes em segundo plano

Em editorial sobre a campanha política brasileira e o atentado, o jornal francês Le Monde falou sobre “o naufrágio de uma nação”. Lembrando que, meses antes do início do período eleitoral, uma caravana com o ex-presidente Lula foi alvo de tiros, o periódico europeu ainda apontou que “a agressão de faca contra o candidato de extrema direita marcou mais um passo nesta escalada descontrolada e feriu a imagem de país cordial que o Brasil possui”.

Porém, além de um arranhão na imagem do país, outra séria consequência direta do radicalismo foi que a fundamental discussão de ideias e a apresentação de projetos que realmente importam e em áreas relevantes, como educação, saúde, segurança pública, infraestrutura, economia e desenvolvimento, não tiveram o protagonismo que mereciam ao longo dos 45 dias de campanha. O debate esvaziou.

Participação dos eleitores pode não ser tão baixa

Mas, mesmo em um período tão conturbado, é possível lançar um olhar positivo para o momento? Sim, desde que sejamos otimistas a ponto de acreditar que todos esses acontecimentos ajudaram o país a perceber que o radicalismo e a violência só pioram as coisas e atrasam ainda mais a mudança e a melhoria de vida com que todos sonham. Em outras palavras, o aprendizado da campanha eleitoral de 2018 não pode ser esquecido.

Coordenador do curso de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, Rafael Madeira também acredita que a participação dos eleitores nas urnas não será tão pequena quanto inicialmente previsto por alguns especialistas. “O cenário desta eleição, com todos os fatos recentes que aconteceram, desde 2016, tende a fazer com que a esquerda e a direita se mobilizem mais e um número maior de pessoas compareça aos locais de votação em outubro”, avalia o cientista político.

Queiram os deuses das urnas que os brasileiros possam, com sabedoria, paz e – por que não – uma pitada de sorte, fazer no dia 7 de outubro a melhor escolha possível para o futuro do Brasil. E que esse futuro encontre uma nação desenvolvida e próspera.

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Please enter comment.
Please enter your name.
Please enter your email address.
Please enter a valid email address.
Please enter a valid web Url.