Taxa Selic é mantida em 6,50%, após reunião do Copom

Com a valorização do dólar em relação a diversas moedas de países emergentes – como o Brasil -, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiram, por unanimidade, manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano. A decisão, anunciada nesta noite de quarta-feira (16), pela instituição, interrompeu a trajetória de 12 cortes consecutivos na taxa Selic que a levou nível mais baixo da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996.

A decisão contrariou as expectativas de quase todos os economistas do mercado financeiro. De um total de 55 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 53 esperavam um corte de 0,25 ponto porcentual da Selic, para 6,25% ao ano. Apenas duas casas aguardavam pela manutenção da Selic em 6,50% ao ano.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) avalia que o Banco Central (BC) foi conservador ao manter a Selic em 6,5% ao ano e que essa é uma indicação de que se encerra o ciclo de queda dos juros para 2018. Tal medida tem suas justificativas, dado que o BC vinha reduzindo a taxa desde 2016, quando seu patamar era superior a 14%. A Entidade apoiou as decisões do BC durante todo o processo de redução de juros e espera que, no médio prazo, o País termine de fazer seu ajuste fiscal permitindo não só a queda mais acentuada de juros, como também impedindo que em 2019 haja outro ciclo de alta da Selic.

Para a assessoria econômica da FecomercioSP, o Banco Central foi bastante eficiente em reduzir os juros na medida do possível e, ao mesmo tempo, controlar a inflação, que terminou o ano de 2017 abaixo do piso da meta (2,98%) e não há indícios de fortes pressões a curto prazo, já que o IPCA acumula 2,76% nos últimos 12 meses.

Na análise da Federação, há fatores importantes que mantêm as condições para a permanência dos juros relativamente baixos no Brasil – para os padrões do País –, inflação contida e atividade fraca. Do ponto de vista internacional, apesar da liquidez ainda elevada, é esperado um ciclo de ligeira alta nas taxas de juros na Europa e nos Estados Unidos, o que limita um pouco uma queda mais acentuada no momento. Há também uma pressão no câmbio, e se essa alta do dólar prevalecer por muito tempo, as pressões inflacionárias vindo de fora podem aparecer.

Outro limitador para que o Brasil tenha taxas de juros reais de 0% a 1%, como no resto do mundo desenvolvido, é a situação fiscal, que, apesar de ter uma trajetória melhor do que tinha no passado recente, ainda inspira cuidados.

A assessoria econômica da Entidade avalia que, infelizmente, o Brasil ainda não apresenta as condições de estabilidades fiscal, política e econômica em geral que permitiriam ao País ter taxas de juros em padrões invejáveis como nos Estados Unidos ou na Europa, abaixo de 2% ao ano, mas pode ser que estejamos caminhando para isso, a depender de nossa maturidade política que vai definir, por sua vez, os caminhos econômicos.

Na percepção da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), os juros mais baixos decorrentes da sistemática queda da Selic, desde o final de 2016, ainda não chegaram às operações de concessão de crédito pelos bancos aos setores produtivos. Essa é a opinião de Fernando Valente Pimentel, presidente da entidade, setor constituído por 33 mil empresas, 1,5 milhão de trabalhadores diretos e faturamento anual em torno de US$ 45 bilhões, sobre a reunião do Copom desta quarta-feira (16).

“Os spreads até aumentaram, mas o problema não está apenas na taxa básica de juros, que, no nosso entender, segue acima de um patamar mais palatável para as empresas. Lembro que o crédito continua escasso. Começou a avançar mais para pessoas físicas, mas nas jurídicas há um acanhamento”, salienta Pimentel.

O presidente da Abit observa que os créditos mais disponíveis e com juros mais baixos para pessoas físicas têm impacto positivo nos bens duráveis. Estes foram os que mais sofreram com a restrição creditícia no período recessivo, entre 2015 e 2017, quando houve redução dos empréstimos na economia. “Na área têxtil e de confecção, a queda da Selic ainda não resultou em impacto suficiente para gerar mais consumo ou facilitar a vida das empresas, principalmente as pequenas e médias”.

Pimentel afirma que a Selic continua elevada, principalmente se comparada aos juros praticados pela maioria dos países. “Por outro lado, se levarmos em conta a nossa história econômica, veremos que descemos a um patamar jamais alcançado, sem que se utilizasse qualquer artifício heterodoxo. A queda decorre de um processo deflacionário, devido em parte à diminuição de preços dos alimentos, à própria recessão e a uma política monetária bem conduzida”.

A Selic, para Pimentel, poderia ter começado a cair antes de outubro de 2016. “Mas isso é passado. Agora, precisamos ver como encarar a turbulência surgida no mercado mundial, com acirramento do protecionismo e a subida dos juros nos Estados Unidos. Temos fundamentos para manter nossas taxas baixas, mas o Brasil tem vulnerabilidades fiscais, que poderão levar a um novo aumento até o final deste ano”.

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